O que falta para que o coronavírus seja considerado uma pandemia?

Nos últimos dias, alguns especialistas em saúde pública e cientistas começaram a usar a palavra “pandemia” para tratar do surto crescente do novo coronavírus, que já infectou pelo menos 24 mil pessoas e matou mais de 400. Mas quando saberemos se o coronavírus conhecido como 2019-nCoV se espalhou por toda a parte o suficiente para […]
Imagem: Getty Images

Nos últimos dias, alguns especialistas em saúde pública e cientistas começaram a usar a palavra “pandemia” para tratar do surto crescente do novo coronavírus, que já infectou pelo menos 24 mil pessoas e matou mais de 400. Mas quando saberemos se o coronavírus conhecido como 2019-nCoV se espalhou por toda a parte o suficiente para atingir essa classificação?

Usando a definição mais simples, o que mais determina uma pandemia é a escala do surto, de acordo com Brandon Brown, epidemiologista da Universidade da Califórnia em Riverside.

“Uma pandemia é uma epidemia de proporções mundiais e, no caso de um vírus, quando a maioria das pessoas não tem imunidade ao vírus”, disse Brown ao Gizmodo.

Pandemias passadas, como a Peste Negra no século 14 e a gripe de 1918, ganharam notoriedade por dizimar a população do mundo. No entanto, a letalidade de um surto não é realmente importante para decidir se é uma pandemia. O fato de 2019-nCoV pode matar apenas 2% das vítimas (e possivelmente até menos que isso, se muitos casos mais leves não estiverem sendo detectados) não o desqualifica.

Casos de contaminação por 2019-nCoV, que causa doenças respiratórias e pneumonia em suas vítimas, foram documentados em pelo menos 25 países, incluindo os EUA. No Brasil, até o momento, nenhum caso foi confirmado.

O epicentro do surto permanece na China. E embora estejamos começando a ver casos isolados de transmissão humano a humano em outros países, indicando seu potencial de se espalhar mais, ainda é preciso esperar. A maioria dos diagnósticos fora da China (mais de 150, em 4 de fevereiro) até agora envolveu pessoas que pegaram o vírus enquanto viajavam pelo país asiático.

“Especialistas da OMS disseram que o novo coronavírus não é uma pandemia, mas sim uma epidemia com múltiplos focos, já que o número de casos fora da China continental é pequeno”, observou Brown, referindo-se a uma declaração feita quarta-feira por Silvie Briand, diretor do programa global de preparação para riscos infecciosos da OMS.

Não há um número definido de países que deve ser atingido por um surto para que a Organização Mundial da Saúde toque o alarme de pandemia. Mas se o número de casos continuar a aumentar, e especialmente se houver evidência de transmissão sustentada entre humanos em países fora da China, a OMS pode mudar de ideia, da mesma forma que revisou sua decisão ao declarar emergência de saúde global na semana passada, acrescentou Brown.

Ainda tem muita coisa que não sabemos sobre o coronavírus

Ainda existem muitas incógnitas sobre o 2019-nCoV que nos dariam uma noção melhor da probabilidade de uma pandemia. Não sabemos se o vírus pode ser transmitido por alguém antes do início dos sintomas ou por alguém que não chegou a ficar doente. Um artigo recente sugeria que a transmissão assintomática tinha acontecido na Alemanha, mas foi desmentido esta semana. E só temos uma noção aproximada de quão contagioso o vírus pode ser.

Artigos anteriores estimaram que o R0 (R-zero) do vírus, uma medida para quantas outras pessoas, em média, estão infectadas por uma única pessoa doente em uma população completamente vulnerável, é superior à última pandemia, que ocorreu em 2009 e foi causada por uma cepa de influenza.

Mas o R0 é um número enganosamente complexo a ser definido, e especialistas alertaram que levará meses para descobrir esse número para o 2019-nCoV. Um valor de R0 mais alto não significa necessariamente que um surto se tornará uma pandemia.

Atualmente, estima-se que o R0 do 2019-nCoV — em algum ponto perto de 2 — é menor que o da SARS, que viu de dois a cinco novos casos por cada vítima infectada inicialmente. A SARS perdeu força em seis meses, causando 8 mil casos e quase 800 mortes.

As intervenções drásticas — e às vezes criticadas — que os países empreenderam para limitar a disseminação de 2019-nCoV, como proibições de viagens da China para outros países e de outros países para a China e a quarentena de viajantes, podem interromper a disseminação global, disse Brown.

Mas, embora a SARS tenha sido provavelmente mais mortal — isto é, uma porcentagem maior de pacientes que eram contaminados acabavam morrendo –, o grande número de casos do novo coronavírus poderia levar a um número maior de mortes até o final.

Mesmo que o novo coronavírus não se transforme em pandemia, também há a possibilidade de se tornar mais uma doença comum, que as pessoas às vezes pegam e algumas delas morrem. O medo e a paranoia que o vírus provocou já estão afetando o mundo.

Muitas variáveis ​​podem mudar nos próximos dias e semanas. O surto pode se transformar em algo muito pior. Mas, por enquanto, se você mora fora da China, não é hora de entrar em pânico com o coronavírus.

“As pessoas que moram nos EUA ainda não devem se preocupar”, disse Brown. “Existem apenas 11 casos conhecidos do novo coronavírus nos EUA. Enquanto isso, temos quase 20 milhões de doentes com gripe na atual temporada e pelo menos 10 mil mortes por gripe nesta temporada.”

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas