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Covid: como se determina o fim de uma pandemia?

O fim de uma pandemia depende tanto de fatores científicos quanto sociais. Para entendê-los, vale voltar a surtos de doenças anteriores

Fim da pandemia

Imagem: Icsilviu/Pixabay/Reprodução

De forma 100% prática, dá para dizer que o papel de declarar o fim de uma pandemia pertence à Organização Mundial da Saúde (OMS), autoridade máxima em assuntos sanitários. Apesar de isso ser verdade, essa afirmação mascara uma série de nuances envolvidas no processo de encerramento da pandemia. 

Aqui, falaremos de alguns fatores científicos e sociais que já foram observados em outros surtos de doenças ao longo da história. 

Era comum ouvir no início da pandemia um papo sobre a tal “imunidade de rebanho” — que já foi usada erroneamente para justificar o afrouxamento de medidas de isolamento, inclusive. Teoricamente, a população estaria protegida caso uma parte dela desenvolvesse anticorpos para a Covid-19, fosse pela infecção prévia ou pela vacina. A chegada de novas variantes e o entendimento de que a proteção fornecida pelos imunizantes pode diminuir com o tempo descartou essa ideia.

Não há resposta certa sobre o que determinará o fim da pandemia. Mas a ideia de que a infecção pelo Sars-CoV-2 se tornará endêmica nos dá um norte. Isso significa que a doença continuará circulando no ambiente, mas será menos agressiva.

É só pegar o exemplo da chamada gripe russa, de 1889. Pesquisadores acreditam que ela tenha sido causada também por um coronavírus, o chamado OC43. A doença persistiu durante cinco anos e cinco ondas, mas se tornou mais branda com o tempo. Hoje, segue circulando e raramente causa quadros graves.

Cabe uma menção à ômicron: a nova variante é mais infecciosa do que a delta, por exemplo, mas parece causar sintomas leves da doença. O objetivo dos vírus não é matar o hospedeiro, mas sim seguir se espalhando mundo afora. Por conta disso, mutações semelhantes às vistas na ômicron são esperadas.

Isso não significa que o surgimento de variantes deva ser visto como algo bom. O aumento de casos leva a superlotação de hospitais, o que pode impactar no tratamento de outras doenças. 

De toda forma, uma terceira dose da vacina e o oferecimento do imunizante de forma sazonal parece ajudar a barrar casos graves e mortes. No entanto, não podemos descartar o fato de que muitos países do continente africano, por exemplo, não estão atingindo níveis satisfatórios de vacinação. Uma pandemia só acaba quando a doença deixa de ser global.

Há ainda fatores sociais que podem levar ao fim da pandemia. Basicamente, as pessoas podem acelerar o retorno a uma vida normal retomando na marra velhos hábitos. A gripe de 1918, por exemplo, ocorreu ao mesmo tempo que a Primeira Guerra Mundial. A vontade de iniciar um novo futuro pós-guerra passou por cima da ciência e levou ao fim forçado da pandemia. Claro, essa não é a melhor opção. Ao seguir por este caminho, a população automaticamente deve aceitar seus efeitos — o que inclui a morte de um grande número de pessoas.

A única coisa que não conseguimos falar é sobre a erradicação do vírus. Isso só aconteceu com a varíola, que teve seu desaparecimento anunciado em maio de 1980 pela OMS. Como destacou o Nexo Jornal, fatores muito específicos levaram ao seu fim: a vacina desenvolvida para a doença garante proteção para a vida toda; o vírus não tinha outro hospedeiro animal que não o humano; e as erupções na pele causadas pela doença tornavam a varíola facilmente detectável, possibilitando o melhor rastreamento de contatos.

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