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Covid: é justo falar em 4ª dose enquanto a África vacinou só 7% das pessoas?

Continente africano recebeu durante um ano o equivalente de doses obtidas em apenas seis semanas pela União Europeia, Reino Unido e EUA

Vacina Covid

Imagem: Hakan Nural/Unsplash/Reprodução

Durante uma conferência virtual do Fórum Econômico Mundial, o diretor de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, disse que mais da metade da população mundial recebeu duas doses de uma vacina contra a Covid-19.

Enquanto isso, apenas 7% da população africana foi totalmente vacinada.

Tudo isto em um período em que a variante Ômicron vem ganhando força e causando o aumento exponencial de casos ao redor do mundo.

Diante deste cenário, centenas de países já começaram a oferecer doses de reforço da vacina, mas isso é justo frente a um continente inteiro sem imunização? 

Um estudo divulgado pela People’s Vaccine Alliance mostrou que, apenas nas seis semanas que antecederam o Natal, a União Europeia, o Reino Unido e os Estados Unidos receberam coletivamente 513 milhões de doses de vacina contra a Covid-19. Os países africanos, por sua vez, receberam juntos 500 milhões de doses durante todo o ano de 2021.

Ricos não cumprem metas

E lembra daquelas promessas feitas por países desenvolvidos de que doariam o acúmulo de vacinas?

Um estudo publicado em outubro de 2021 mostrou que das 1,8 bilhão de doses prometidas, apenas 14% foram entregues. Os Estados Unidos doaram outras 350 milhões de doses até o final do ano, mas ainda ficaram longe de cumprir a meta.

De acordo com este mesmo estudo, AstraZeneca, Moderna, Johnson & Johnson e Pfizer também entregaram menos da metade das doses prometidas ao programa Covid-19 Vaccines Global Access (COVAX).

Além disso, algumas vacinas doadas não cumprem critérios básicos de utilização, como o acompanhamento de seringas ou diluentes. Algumas são entregues muito próximas do prazo de validade e acabam sendo descartadas.

Volta para a questão: é justo apenas alguns países vacinar suas populações? Do ponto de vista ético, provavelmente não, e do ponto de vista biológico, parece até inútil. 

No começo da pandemia, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, falou que “ninguém está seguro até que todos estejam seguros”. Hoje, há exemplos práticos dessa afirmação. 

Quanto maior os níveis de contaminação, maior a chance de o vírus de sofrer mutação. Novas variantes são esperadas por epidemiologistas, que ainda não sabem como elas moldarão a pandemia.

Ao mesmo tempo que podem surgir variantes como a Ômicron, menos letal, nada impede a chegada de uma variante mais perigosa e que –o pior de tudo– escape totalmente às vacinas. 

Muitas pessoas estão esperando que a Covid-19 se torne uma doença sazonal, como a gripe. Isso realmente pode acontecer, mas não será tão cedo caso não haja uma cobertura vacinal global. Enquanto isso, o Sars-CoV-2 segue sobrecarregando o sistema de saúde e, infelizmente, fazendo novas vítimas.

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