CRISPR, ferramenta de edição de DNA, talvez não seja tão precisa quanto imaginávamos
A tecnologia revolucionária de edição de genes CRISPR-Cas9 é muitas vezes descrita como uma “tesoura molecular” por sua capacidade de tornar feitos antes improváveis na engenharia genética em simples exercícios de cortar e colar. Embora nos últimos anos o CRISPR tenha se tornado comum e acessível a ponto de estudantes do ensino fundamental utilizá-lo, um estudo publicado no periódico Nature Methods nesta semana nos lembra que essa é ainda uma tecnologia emergente com um longo caminho pela frente. Pode ser que demore até que possamos cortar e colar o DNA humano de acordo com nossas vontades.
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Ao corrigir a cegueira em camundongos, pesquisadores da Universidade Columbia descobriram que, embora o CRISPR seja capaz editar com sucesso o gene particular responsável pela cegueira, ele causa mutações acidentais para mais de mil outros genes. Esses eventos acidentais com o CRISPR são conhecidos há bastante tempo, mas a nova pesquisa destaca o quão abrangentes eles podem ser e destaca também a importância de pesquisas para entendê-los melhor.
Muita energia de pesquisa tem sido gasta nos últimos anos para aprimorar a precisão das habilidades de edição do CRISPR. A tecnologia permite editar precisamente um gênoma com muito mais facilidade do que qualquer outro método, utilizando uma estratégia do sistema imunológico bacteriano para alterar sequências de DNA específicas. Mas, sem corrigir os efeitos colaterais que aparecem com ela, é improvável que o CRISPR encontre muito sucesso fora de um laboratório de pesquisas.
Já existem dois testes clínicos utilizando o CRISPR em humanos na China, e um teste nos Estados Unidos está previsto para começar em algum momento do ano que vem. Algoritmos preditivos são utilizados para identificar áreas que provavelmente serão afetadas pelas mutações de DNA acidentais. Mas, ainda assim, alguns especialistas estão preocupados que a tecnologia esteja muito prematura para ser utilizada em humanos.
No novo estudo, os cientistas descobriram que embora esses mesmos algoritmos identificam com sucesso os efeitos acidentais do CRISPR numa Placa de Petri, isso não acontece no trabalho feito em camundongos. Os pesquisadores analisaram os ratos que tinham passado anteriormente por uma correção de um gene associado à cegueira, sequenciando seu genoma inteiro para buscar mudanças. Eles descobriram que o CRISPR de fato corrigiu corretamente o gene desejado, restaurando a visão do animal, no entanto dois camundongos diferentes sofreram mais de 1.500 mutações não intencionais, bem como mais de 100 exclusões e inserções de genes que os pesquisadores não pretendiam realizar. Nenhuma dessas mudanças havia sido prevista pelo algoritmo do computador.
Os cientistas disseram que não havia nada claramente errado com o animal — não surgiu nenhuma terceira orelha ou um tumor. Mas é difícil saber como essas novas mutações vão impactar o camundongo de maneiras mais sutis ou no longo termo. As mutações indesejadas para os genes são sempre potencialmente prejudiciais — doenças genéticas, como a cegueira que eles estavam tentando curar, são, no final das contas, uma dessas mutações.
“Essa descoberta alerta que a tecnologia CRISPR precisa ser muito adaptada, particularmente antes de ser utilizada em humanos para terapia genética”, escreveram os pesquisadores.
Embora todo tratamento médico tenha efeitos colaterais, essa pesquisa destaca que todo o sequenciamento genético será crucial para entender quais tipos de efeitos poderão ocorrer quando começarmos a utilizar o CRISPR com mais frequência. Enquanto isso, parece que toda a grana de pesquisa canalizada para aperfeiçoar o CRISPR será uma grana bem gasta.