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Cruzar os EUA em um carro autônomo foi uma baita irresponsabilidade deste cara

Anthony Levandowski — que já trabalhou no Google, onde ele supostamente contribuiu para pelo menos um acidente grave e não alertou a polícia enquanto supervisionava seu programa de carros autônomos, e na Uber, onde supostamente usou segredos roubados do Google e foi demitido após ser processado por isso — está dando uma voltinha por aí […]

GIF: Gizmodo / Pronto.ai

Anthony Levandowski — que já trabalhou no Google, onde ele supostamente contribuiu para pelo menos um acidente grave e não alertou a polícia enquanto supervisionava seu programa de carros autônomos, e na Uber, onde supostamente usou segredos roubados do Google e foi demitido após ser processado por isso — está dando uma voltinha por aí de novo.

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Levandowski alega ter feito a primeira viagem rodoviária cruzando o país em um carro autônomo, sem precisar dirigir. Um Prius o levou de San Francisco a Nova York, passando grande parte do trajeto na Interstate 80, usando seu mais novo software proprietário de veículo autônomo, o Copilot, o próximo produto de sua nova empresa, a Pronto. (Ele será voltado para o mercado de caminhões de longas viagens.)

Ele diz ter tocado o volante apenas durante paradas planejadas, para reabastecer ou descansar. A história, relatada pela primeira vez pelo Guardian, está levantando todos os tipos de questionamentos, como, por exemplo, “por que alguém ainda deixa Anthony Levandowski fazer outra empresa de veículos autônomos?”

É uma conquista tecnologicamente impressionante, se for verdade (embora alguns especialistas citados pelo Guardian sejam muito céticos, o que, dado o passado de Levandowski, não deveria ser surpresa). Levandowski supostamente fez “várias tentativas”, chegando a Utah mais de uma vez antes de ser forçado a um desistir da missão e ter que colocar as mãos no volante para evitar uma colisão ou mudar de faixa, e então começar de novo. Levandowski estava no banco do motorista o tempo todo, mas, sobre sua viagem aparentemente bem-sucedida, disse: “Se não houvesse ninguém no carro, teria funcionado.”

É também um caso de uma figura do Vale do Silício cuja grande tomada de risco é glorificada como corajosa, recebendo o que parece ser uma fonte infinita de oportunidades tanto da imprensa quanto entre os parceiros da indústria. (A matéria do The Guardian é bastante crítica, mas a maior parte da cobertura subsequente foi focada na conquista técnica.)

Lembre-se, Levandowski foi fundamental para criar uma cultura de imprudência, não apenas no Google, onde ele trabalhou — e onde a segurança se tornou uma preocupação mais predominante — mas na “corrida para ser o primeiro” em toda a nascente indústria de veículos autônomos. Ele teria ignorado as próprias regras do Google sobre quais ruas eram seguras para testar carros autônomos e causou um acidente com outro executivo no carro. Em seguida, ele criou sua própria empresa, a Otto, em que foi acusado de usar segredos roubados de empresas do Google. A Otto acabou comprada pela Uber, de onde ele foi demitido em 2017.

Agora, como ele diz no post anunciando seu novo empreendimento, ele está de volta. “O ‘por que’ é bastante simples”, ele escreve, “estou de volta porque é a paixão da minha vida tornar realidade o potencial de vida dos veículos autônomos.” Dado seu histórico passado — o homem é tão apaixonado pela perspectiva de salvar vidas com veículos autônomos que aparentemente esteve disposto a colocá-las em perigo em sérios acidentes de carro — é difícil acreditar que a louca trajetória de Levandowski para construir uma tecnologia automotiva autônoma seja motivada por profundas preocupações com a saúde pública.

Isso — uma jogada publicitária, impressionante ou não, consigo mesmo no cockpit — parece mais um esforço para provar que ele ainda é uma força relevante no campo e contribui pouco para demonstrar que aprendeu alguma coisa com seu comportamento anterior muito criticado. (Seu carro foi parado em Utah, mas não houve acidentes relatados.)

De sua parte, Levandowski me escreveu dizendo que ele chamou o software de “Copilot” por uma razão, em oposição a algo que indicava que seria um sistema autônomo — levantando, talvez, a questão de por que ele escolheu promovê-lo com uma viagem cruzando o país supostamente autônoma.

“Como mencionado no final do vídeo, em nosso blog e em nosso site, nosso nível atual de tecnologia é um sistema de assistência ao motorista de ‘Nível 2’”, ele me escreveu em um email por meio de um contato de imprensa. “Ele não pode e não funcionará a menos que esteja apenas auxiliando os motoristas totalmente alertas, como a marca ‘Copilot’ deve sinalizar (cada motorista de veículo ainda é o ‘piloto’ de seu veículo). O produto Copilot traz para o mercado de caminhões as características que antes eram de domínio exclusivo de veículos de passageiros de luxo. Com o tempo, nosso software superior nos permitirá começar a trabalhar em sistemas de nível 4 de uma maneira muito mais segura e escalável, mas ainda não chegamos lá hoje. Acreditamos que o envio de mensagens claras sobre o que a tecnologia pode e não pode fazer, inclusive pela mídia, é um componente crítico da segurança no trânsito, à medida que a tecnologia de direção autônoma é implementada.”

No entanto, fazer um teste de acrobacias atravessando o país com um carro pilotado por um novo software pode não ser a melhor maneira de estabelecer que você é uma pessoa confiável que aprendeu com seus erros do passado. Aqui está Levandowski, novamente se atirando de cabeça através das fronteiras estaduais em uma viagem que poderia levantar questões legais — regras de testes de carros autônomos variam de estado para estado, e Levandowski teve que passar por muitos da Califórnia a Nova York. (Levandowski se recusou a responder uma pergunta sobre quais considerações foram feitas sobre a legalidade de sua viagem.)

Depois da minha última matéria sobre a imprudência desnecessária da indústria de carros autônomos, eu recebi algumas respostas que iam pelo caminho de que, bem, a direção feita por humanos já é perigosa o bastante, então será que os carros autônomos são tão piores assim? E o ponto principal é: claro, talvez isso seja verdade. Os carros autônomos poderiam ser muito mais seguros do que aqueles operados por motoristas humanos idiotas, irritados, cansados, ocasionalmente bêbados, então talvez possamos pedir para que, desde o início, as pessoas que os constroem evitem a imprudência e opacidade em sua cultura e em seus sistemas. Levandowski, até o momento, mostrou tudo, menos estar à altura dessa tarefa.

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