DARPA para biohackers: Pensem bem antes de injetar seu corpo com tratamentos experimentais

Em uma apresentação na Body Hacking Con nesse fim de semana, Justin Sanchez, diretor de tecnologias biológicas da Agência de Projetos Avançados de Pesquisa em Defesa (DARPA, na sigla em inglês), mostrou uma impressionante lista com o tipo de projetos governamentais que interessaria o público presente numa conferência sobre integrações entre humanos e tecnologia, incluindo […]

Em uma apresentação na Body Hacking Con nesse fim de semana, Justin Sanchez, diretor de tecnologias biológicas da Agência de Projetos Avançados de Pesquisa em Defesa (DARPA, na sigla em inglês), mostrou uma impressionante lista com o tipo de projetos governamentais que interessaria o público presente numa conferência sobre integrações entre humanos e tecnologia, incluindo planos de prevenir pandemias ao transformar o corpo em um biorreator e restaurar memórias com tecnologias de interface cerebrais.

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Mas Sanchez não estava presente no evento apenas para promover o extenso portfólio de pesquisa da agência. Ele também tinha uma mensagem de extremo cuidado para os chamados biohackers, pessoas que decidiram que a pesquisa formal por trás de medicamentos e seu processo de aprovação são muito complicados e estão tornando a eles mesmos ratos de laboratório para seus próprios e cada vez mais ambiciosos experimentos biológicos.

“Podemos considerar os riscos confortáveis hoje, mas existem perigosos que não estamos consideramos?”, perguntou o diretor a plateia, encerrando sua apresentação. “Nunca se esquive desse tipo de pergunta. Eu sei que no final das contas essa comunidade vai mudar o mundo”.

Em uma entrevista após sua apresentação, Sanchez foi mais ponderado. “Mais e mais pessoas têm acesso a biotecnologia. É algo muito democrático”, ele me disse. “Mas as pessoas precisam pensar com calma. Mesmo que você tenha acesso a ela, não quer dizer que deveria usá-la”.

No entanto, a mensagem do diretor não seria ouvida no seguinte na conferência, quando um biohacker se injetou no palco com um extremamente experimental tratamento para herpes. O medicamento não passou por nenhum processo regulatório e nunca foi testado em humanos antes. Mas não foi a primeira vez que um experimento ousado como esse foi feito na comunidade de biohackers.

Em outubro, a mesma companhia por trás do tratamento para herpes financiou um outro experimento em que um indivíduo se injetou com um método não testado para tratar HIV durante uma transmissão ao vivo no Facebook. E ainda durante o ano passado, outro biohacker se injetou com CRISPR composto por um gene de crescimento muscular durante uma conferência sobre biologia sintética. O aumento dos testes genéticos experimentais caseiros em humanos fez a FDA (órgão que regulamenta, entre outras coisas, alimentos e medicamentos nos EUA; algo semelhante a Anvisa para medicamentos no Brasil) divulgar um comunicado alertando sobre as práticas.

Sanchez menciona a internet, cujo predecessor da DARPA ajudou a construir. “Com todas as tecnologias, quando as pessoas começam a se entusiasmar, eles a levam para muitos caminhos distintos. É isso que permite que as tecnologias amadureçam e se definam em áreas que ninguém esperava”, disse Sanchez. “Acredito que para as biotecnologias, a mesma coisa irá acontecer”.

Mas, ele continua, isso também nos leva a diversos problemas imprevistos.

“Existem diversos níveis de segurança e garantia para a internet que não sabemos lidar muito bem”, ele diz. “Estamos nos primeiros dias das tecnologias biológicas. Vamos pensar em como podemos utilizá-la de maneira responsável agora para que, conforme ela amadurece, estaremos mais bem preparados para usá-la de uma maneira que irá beneficiar a sociedade”.

Sanchez diz ainda que se os biohackers falham em prever todas as consequências de seu trabalho, pessoas podem acabar feridas. Alguns dos novos programas da DARPA, inclusive, são projetados para compensar as consequências de pesquisas biológicas que derem errado, como o programa Safe Genes, que está explorando maneiras de reverter a engenharia genética, além de outras coisas. A DARPA esteve na Body Hacking Com, explica o direitor, na esperança de iniciar um diálogo de como abordar o biohacking de maneira segura.

“É tão fácil prometer algo na frente de uma plateia”, diz Sanchez. “Mas é uma coisa muito diferente mostrar de fato a tecnologia funciona em um humano de maneia segura e de uma maneira que cause impacto”.

Imagem de topo: Justin Sanchez, diretor de tecnologias biológicas da DARPA durante apresentação na Body Hacking Con (Créditos: Body Hacking Con)

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