De vulcanóloga a engenheiro: 5 brasileiros que trabalham na NASA

Cinco brasileiros trabalham em importantes funções na NASA e já participaram de várias missões históricas; confira a lista
cinco brasileiros que trabalham na NASA
Imagem: Giz Brasil

Cientistas e engenheiros de todo o mundo trabalham na agência espacial dos EUA. Isso inclui muitos brasileiros, com alguns deles estando na NASA há muito tempo e ocupando posições de destaque em setores cruciais.

Atualmente, os brasileiros trabalham em diferentes projetos da NASA, como o programa Artemis e a exploração em Marte. Mas o que todos – ou quase todos – têm em comum são: a brasilidade e o sonho de ser astronauta. Segundo o chefe das missões de Marte da NASA, Ramon de Paula, ser brasileiro o ajudou em sua função de solucionar problemas rapidamente, algo que nem todas as culturas possuem.

Ramon de Paula recebe estudantes brasileiros na NASA em 2014. Imagem: X/Screenshot/Reprodução

De Paula, que mora nos EUA desde os 17 anos, chefiou a missão Curiosity e afirmou que o “jeitinho brasileiro foi decisivo em sua carreira na NASA. Apesar de não estar em nossa lista de cinco brasileiros que trabalham na NASA, Ramon de Paula serve como gancho para as duas próximas pessoas: Luis Phillipe Tosi e Jacqueline Lyra.

Cinco brasileiros que trabalham na NASA

Luis Phillipe Tosi: robótica para exploração de Saturno

Imagem: YouTube/Reprodução

Assim como Ramon de Paula, Luis Phillipe Tosi se mudou para os EUA antes de completar o ensino médio. Aos 11 anos, em 1998, Tosi chegou aos EUA com sua família, onde fez o ensino fundamental e médio.

O brasileiro cursou engenharia mecânica na Cornell University e, em seguida, uma pós em engenharia aeroespacial.

Antes de chegar até a NASA, Tosi trabalhou em empresas como a Shell e a Chevron. Atualmente, Tosi faz parte da equipe de robótica do JPL, supervisionando pesquisas e desenvolvimento de tecnologias para a NASA.

Brasileiro trabalha em sistema robótico na NASA

Luis Phillipe Tosi e Peter Gavrilov realizando os últimos ajustes para o primeiro teste do EELS. Imagem: JPL/Divulgação

Tosi, aliás, já trabalha na NASA há mais de 6 anos. O brasileiro participou do desenvolvimento do robô EELS (Exobiology Extant Life Surveyor), que se movimenta como uma enguia (“eel” em inglês) para explorar o subsolo e a superfície da lua Encélado, de Saturno.

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Vale ressaltar que, para trabalhar na NASA, a pessoa precisa ser estadunidense nata, pois o cargo é de servidor público. No entanto, apesar de ser financiado pela NASA, o JPL é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) como um centro de pesquisa com financiamento federal.

Por isso, a maioria dos funcionários do JPL, onde Tosi, de Paula e todos os outros brasileiros desta lista trabalham, são terceirizados. Mas isso não significa que eles não sejam responsáveis por grandes contribuições.

Pelo contrário, muitos dos brasileiros desta lista trabalharam em cargos importantes em missões importantes da NASA, como Jacqueline Lyra.

Jacqueline Lyra: samba brasileiro para rover da NASA

Jackie Lyra trabalha na NASA desde o final dos anos 1980

Imagem: NASA/Divulgação

Conhecida na NASA como Jackie, a carioca trabalha no JPL há 36 anos, mas, assim como outros brasileiros, o caminho à NASA foi longo. Jackie Lyra revelou que seu interesse no espaço começou desde cedo, durante sua infância.

No entanto, o despertar ocorreu em 1969, quando o homem pisou na Lua. De acordo com Lyra, a missão Apollo 11 foi a “inspiração para buscar uma carreira relacionada ao espaço”.

Jackie Lyra na NASA nos anos 1990. Imagem: YouTube/Reprodução

No final dos anos 1970, após cursar um ano de engenharia na UFRJ, Lyra decidiu se mudar para os EUA e conseguiu estudar no Instituto de Tecnologia de Nova York, cursando engenharia mecânica.

Em seguida, a carioca fez um mestrado em engenharia aeroespacial na Universidade do Texas, sendo a chave para sua entrada no JPL, em 1988, desenvolvendo designs térmicos para a nave Cassini, que viajou a Saturno em 1997.

Também em 1997, Lyra participou da sua primeira missão a Marte pela NASA, que lançou o rover Sojourner. Nessa missão, a brasileira foi responsável pelos testes de hardware e validação do design em todas as escalas.

Em julho de 1997, o primeiro rover da NASA em Marte foi acordado com a canção “Coisinha Tão Bonitinha do Pai”. Adivinha quem escolheu a canção?

Além de levar o samba para Marte, Lyra participou de missões de rovers no Planeta Vermelho bem famosas: Spirit, Opportunity, Curiosity e Perseverance.

Outra mulher, também carioca, é a próxima da lista de brasileiros que trabalham na NASA e tem uma trajetória bastante similar à de Lyra.

Rosaly Lopes: recordista em descoberta de vulcões

Rosaly Lopes é uma das líderes do JPL e, entre os brasileiros que trabalham na NASA, tem o maior destaque internacional

Imagem: YouTube/Reprodução

Assim como Jackie Lyra, a missão Apollo 11 foi importante para despertar o sonho de Rosaly Lopes em trabalhar no setor espacial.

Carioca da gema, aos quatro anos, Rosaly Lopes descobriu que um homem havia ido ao espaço pela primeira vez. Era Yuri Gagarin, cosmonauta soviético.

No entanto, o “clique” foi uma reportagem do Jornal do Brasil, de 1970, que falava sobre Frances Northcutt, conhecida como Poppy, a única engenheira do programa Apollo. 

Lopes tinha 13 anos, mas o sonho não desapareceu, pois a carioca entrou no curso de astronomia da UFRJ em 1975, aos 18 anos. Seis meses depois, já estava na Universidade de Londres, onde descobriu seu interesse por geologia planetária e vulcanologia.

Em 1989, após se tornar PhD. em vulcanologia, Lopes se tornou parceira de pesquisa do JPL. Dois anos depois, a brasileira já trabalhava na NASA e fazia parte do Projeto Galileo, uma missão a Júpiter.

Lopes foi responsável pelas observações da lua vulcânica de Júpiter entre 1996 e 2001, descobrindo 71 vulcões ativos na lua, recebendo o recorde mundial pelo Guinness.

Rosaly Lopes no JPL em 1997. Imagem: NASA/Divulgação

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Desde 2021, Lopes é a chefe da Diretoria de Ciências Planetárias do JPL, além de coordenar todas as investigações sobre Titã, a segunda maior Lua de Júpiter, pela missão JUICE.

Rosaly e Poppy em encontro em 2023. Imagem: X/Reprodução

E sobre o sonho de criança, 50 anos após o homem pisar na Lua, Rosaly Lopes conheceu a sua inspiração através do consulado brasileiro no Texas. Em 2019, Lopes e Northcutt se conheceram e a ex-engenheira do programa Apollo ficou bastante feliz em inspirar uma menina do Brasil.

O Programa Apollo também inspirou outro menino do Brasil, mas em um canto mais remoto, nas colinas de Minas Gerais.

Ivair Gontijo: de Minas a Marte

Ivair Gontijo e outros brasileiros que trabalham na NASA desenvolveram os rovers das missões a Marte

Imagem: NASA/Divulgação

Um cenário similar nos dois casos anteriores: a missão Apollo como inspiração para brasileiros que trabalham na NASA. O caso é similar ao de Ivair Gontijo, de Moema, em Minas Gerais, mas a estrada da pequena cidade nas montanhas mineiras à NASA foi longa e sinuosa.

Assim como Lyra e Lopes, Ivair Gontijo ficou encantado pela missão Apollo 11, mas por motivos diferentes.

A primeira vez que Ivair Gontijo viu uma televisão foi quando o homem pisou na Lua, em 19 de julho de 1969, mas, segundo o próprio, não foi esse o fator que o levou a “perseguir a oportunidade de um dia trabalhar para a NASA”.

Ivair Gontijo e antigos colegas do colégio agrícola. Imagem: IFMG/Divulgação

Nos anos 1970, durante o ensino médio, Ivair estudou no Colégio Agrícola da cidade de Bambuí e descobriu o livro “O Universo e o Dr. Einstein”, mas, ainda assim, o futuro engenheiro da NASA enxergava seu destino trabalhando em fazendas.

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Ivair se tornou gerente de uma fazenda no Norte de Minas em 1978, onde ficou por três anos até pedir demissão e prestar vestibular para física na UFMG.

Após se formar, Ivair fez mestrado em óptica também na UFMG e doutorado em optoeletrônica na Universidade de Glasgow, na Escócia. Antes de chegar ao JPL, trabalhou em empresas de fibra ótica nos EUA até chegar à NASA em 2006.

Ivair Gontijo e o rover Curiosity no JPL. Imagem: Arquivo pessoal

Ivair, assim como Jackie Lyra, são dezenas de brasileiros que trabalham na NASA e que participaram da missão de lançamento do Curiosity, em 2011. Ivair trabalhou no desenvolvimento do pouso do veículo em Marte.

Posteriormente, o mineiro foi o responsável por desenvolver as interfaces entre o Perseverance e a SuperCam, que conseguiram detectar os elementos que formam os minerais de Marte. Após o lançamento do Perseverance, Ivair trabalha em equipamentos para captar imagens de exoplanetas.

Luciano Camilo: Europa Clipper e Artemis

Imagem: Arquivo pessoal

Por fim, o último da lista é Luciano Camilo, que também saiu de Minas Gerais para desempenhar um papel importante na exploração espacial.

Assim como Ivair, Luciano estudou em colégio agrícola e se formou em engenharia elétrica no Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas.

Na Inatel, Luciano fez mestrado e doutorado, desenvolvendo pesquisas da área de engenharia de espectro.

Além disso, Luciano era membro da delegação brasileira da ITU (União Internacional de Telecomunicações) e do Comitê Consultivo Permanente II da Comissão Interamericana de Telecomunicações (CITEL).

Portanto, quando Luciano tentou uma vaga para trabalhar na NASA, sua experiência facilitou a conseguir o cargo de engenheiro de telecomunicações no JPL.

Atualmente, Luciano Camilo chefia a equipe de telecomunicação robótica do JPL, no Mission Control (Centro de Missões e Controle), que recebe comunicações de todas as agências espaciais.

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No Mission Control, Luciano trabalha nas tecnologias de IA e comando remoto para a missão Europa Clipper, que chegará à lua Europa, de Júpiter, no ano que vem.

Luciano Camilo e mais um grupo de brasileiros trabalham na NASA em programas como as missões Artemis

Luciano Camilo no Centro de Controle de Missões. Imagem: TV Globo/Reprodução

Além disso, o brasileiro chefia a equipe responsável por fornecer tecnologias de conectividade à missão Artemis. Os astronautas da missão Artemis 3 vão registrar imagens da Lua em 2026 utilizando câmeras nos trajes com 4G e Wi-Fi, adaptadas para o ambiente lunar.

Assim como as imagens da missão Apollo 11 influenciaram três dos brasileiros que trabalham na NASA, agora, um brasileiro pode influenciar milhões de crianças a buscar uma carreira na indústria espacial.

De acordo com Ivair Gontijo, apenas no setor responsável pela Perseverance, havia 20 brasileiros. Por isso, para estrangeiros, a oportunidade de trabalhar na NASA não é fácil, mas algo que todos os brasileiros desta lista concordam é que não é impossível.

Pablo Nogueira

Pablo Nogueira

Jornalista e mineiro. Já escreveu sobre tecnologia, games e ciência no site Hardware.com.br e outros sites especializados, mas gosta mesmo de falar sobre os Beatles.

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