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Após uma década, é possível dizer que a tecnologia Bluetooth é boa

Após uma década de estreia de dispositivos de consumo com Bluetooth, é possível dizer que atualmente a tecnologia atingiu um patamar bom de qualidade.

Símbolo do Bluetooth com dispositivos conectados

Ilustração por Benjamin Currie/Gizmodo

Há quase uma década, um gadget azul chegou na minha caixa de correio e mudou fundamentalmente minha compreensão da tecnologia sem fio. O gadget era um Jawbone Jambox — provavelmente o primeiro alto-falante Bluetooth popular — que me permitia tocar música do meu telefone do outro lado do meu quintal. Como a maioria das engenhocas Bluetooth da época, o Jambox às vezes não funcionava bem, mas essa ideia de vida sem fio era emocionante! Agora, dez anos depois, o Bluetooth é realmente bom.

Em 2009, um ano antes do Jambox chegar ao mercado, os padrões Bluetooth tiveram grandes atualizações que começariam a transformar o ecossistema, como velocidades mais altas de transferências de dados e o uso da tecnologia com baixa energia. Meu Jambox não suportava esses padrões quando o comprei e, como resultado, certamente foi um pesadelo de usar. Com o Bluetooth 2.1, o Jambox lutava para permanecer conectado a qualquer um dos meus dispositivos, tanto que acabei ligando meu telefone diretamente ao alto-falante a maior parte do tempo. Mesmo assim, a maldita coisa pareceu morrer depois de uma hora de reprodução de música.

Avance uma década e parece que todos os aparelhos que uso diariamente são alimentados por algum tipo de Bluetooth. Meu laptop, meu computador desktop, meu mouse, meu teclado, meus fones de ouvido, meu smartwatch e, sim, meu alto-falante, repleto de tecnologia Bluetooth, que permite que eles conversem entre si e troquem dados em alta velocidade. O verdadeiro milagre hoje em dia é que todos são incrivelmente confiáveis. Eles se conectam rapidamente e permanecem conectados. Suas baterias duram muito mais tempo. É o oposto do quão ruim eram o Bluetooth há dez anos.

A extensão em que eu nem penso sobre o uso do Bluetooth atualmente é a evidência de que a tecnologia não é apenas boa agora, é incrível. E está prestes a melhorar. Como chegamos até aqui é essencial para entender o que está por vir.

O início do Bluetooth

O Bluetooth ainda é uma nova tecnologia. Acredite ou não, tanto o celular quando o Wi-Fi existem desde a década de 1970 e hoje são inegavelmente as tecnologias sem fio mais prevalentes. O primeiro dispositivo de consumidor com Bluetooth — um fone de ouvido sem fio feito pela Ericsson — não chegou ao mercado até 1999. Como o novo garoto do setor sem fio, o Bluetooth era motivo de riso.

Nos primeiros dias, a largura de banda do Bluetooth era uma porcaria, o que é parte do motivo pelo qual era usado principalmente para fones de ouvido telefônicos. Isso mudou drasticamente com a introdução do Bluetooth 3.0 em 2009, mas o verdadeiro fator de mudança foi uma nova tecnologia chamada Bluetooth Low Energy, que chegou com o padrão 4.0 em 2011. Isso basicamente dividiu o padrão em dois segmentos: Bluetooth clássico e Bluetooth Low Energy (ou Bluetooth LE). Este foi um grande negócio.

“Bluetooth Low Energy tornou possível que tudo e qualquer coisa fossem um dispositivo conectado”, disse Chuck Sabin, do Bluetooth Special Interest Group (SIG), em uma conversa comigo. “Começou o que você consideraria a internet das coisas moderna”.

Parte da razão pela qual isso acontece é que, na época, o Bluetooth era incorporado em praticamente todos os telefones do mercado, e o Bluetooth LE tornava mais fácil para os desenvolvedores criarem aplicativos que aproveitam os recursos da tecnologia. Enquanto o Bluetooth clássico era voltado para conexões de largura de banda mais alta e exigia operações complicadas de emparelhamento, a tecnologia Low Energy mais recente lidava com transmissão de dados menores, ideais para dispositivos como relógios inteligentes, beacons e aparelhos domésticos inteligentes.

Como o nome indica, o Bluetooth LE também usava menos energia, para que esses dispositivos pudessem ser alimentados por baterias embutidas. O novo padrão Bluetooth também permitiu que o processo de emparelhamento acontecesse em segundo plano, o que incentivou ainda mais desenvolvedores a criar novos truques par aa tecnologia.

Nova leva de produtos

Estas atualizações incentivaram a adoção do Bluetooth de várias maneiras. Como seus chips de baixo custo podem ser alimentados por baterias de célula tipo moeda por meses ou até anos, o Bluetooth LE começou a aparecer em todos os tipos de novos aparelhos, desde monitores de pressão arterial a pequenos dispositivos de rastreamento que você pode guardar junto com seu chaveiro.

O processo simplificado de emparelhamento do Bluetooth LE também o tornou uma alternativa útil para dispositivos de comunicação de campo próximo (NFC). Uma vantagem importante, no entanto, é que o Bluetooth LE pode separar os dispositivos a dezenas de metros para conversar com cada um, enquanto o NFC funciona a uma distância de centímetros. O Bluetooth LE também pode suportar conexões conexões em duas vias com o Bluetooth clássico, que possibilitou novos recursos e melhor duração de bateria. (Os beacons Bluetooth LE também podem detectar dispositivos Bluetooth à medida que passam por ele, o que é aterrorizante para os defensores de privacidade, mas uma mina de ouro para o varejo).

Foi há cerca de cinco anos que comecei a fazer análises de fones de ouvido Bluetooth. O desafio, na época, era descobrir se alguém deles era confiável para o uso diário. Até os aparelhos mais caros eram propensos a cortar a conexão ou ser alvo de interferências.

Esta também foi a época em que muitas pessoas tinham dúvidas sobre a qualidade do áudio no Bluetooth. Isso foi justificado durante os primeiros padrões da tecnologia. A especificação 1.0 original poderia lidar com uma faixa de transferência máxima de 721 kbps, o que funcionaria bem em ligações telefônicas, mas provavelmente não faria muito mais com seus arquivos FLAC.

À medida que novas versões do Bluetooth foram lançadas, no entanto, a largura de banda aumentou e codecs como o aptX e o LDAC passaram a oferecer uma compreensão aprimorada para arquivos de áudio. Para ser sincero, há cinco anos, era difícil dizer a diferença na qualidade de áudio ao ouvir por meio de fones de ouvido Bluetooth versus fones de ouvido com fio.

Na minha experiência, o desempenho também variou amplamente por marca, pois algumas empresas simplesmente estavam melhor equipadas para navegar pelos padrões e integrar a tecnologia em seus produtos. A Jabra, por exemplo, foi um destaque inicial. Ela foi uma das primeiras empresas a produzir dispositivos Bluetooth no início da década, e seu popular Jabra Move foi um dos primeiros conjuntos de fones de ouvido sem fio que testei que ofereciam conectividade quase perfeita.

Isso aconteceu em 2014, quando a maioria dos fones de ouvido Bluetooth ainda era um pesadelo (A Jabra mais tarde me impressionou com os fones de ouvido verdadeiramente sem fio Elite 65t, um concorrente dos AirPods, da Apple, e que não está disponível no Brasil). Dentro de alguns anos, todos fabricantes, da Bowers & Wilkins à Sony, estavam fabricando fones de ouvido Bluetooth que podiam permanecer conectados, reproduzindo áudio de alta qualidade e, em alguns casos, duram mais de oito horas com uma única carga.

Então, em 2016, a Apple veio com seu chip W1. Este System On a Chip (SOC) apareceu pela primeira vez nos primeiros AirPods, além de alguns modelos da Beats. O W1 ajudou a manter uma conexão Bluetooth Class 1 entre os fones de ouvido e dispositivos Apple. (A Classe 1 é o Bluetooth mais forte e com maior consumo de energia). Esse tipo de ajuste proprietário significava que você podia emparelhar os AirPods a um iPhone sem procurar no seu configurações e, então, os pequenos fones sem fio se conectariam ao dispositivo imediatamente e sem vacilar. De repente, o Bluetooth, para alguns foi mais fácil do que conectar um fio.

Crédito: Christina Warren/Gizmodo

Na mesma época em que os AirPods começaram a melhorar o mercado no início de 2017, os dispositivos com suporte ao Bluetooth 5 começaram a aparecer. Embora esse padrão não crie categorias totalmente novas de produtos como o Bluetooth LE, as melhorias de desempenho significam mudar o que os dispositivos Bluetooth existentes podem fazer. O alcance mais longo, as velocidades mais altas e os melhores recursos de serviços de localização ajudaram o Bluetooth 5 a crescer a partir de dispositivos de consumo e a entrar em novos sistemas massivos.

“Na metade da década, a entrega do Bluetooth 5 deu início à revolução e evolução do Bluetooth em edifícios industriais, comerciais, casas inteligentes e aplicativos de cidades inteligentes”, lembrou Sabin. Ele acrescentou que as redes de sensores podem fazer uso de novos recursos de rede mesh no Bluetooth, que podem permitir que milhares de dispositivos se comuniquem.

E o futuro?

As melhorias vistas no Bluetooth 5 também estão transformando o modo como a tecnologia funciona em dispositivos de consumo. Por ser mais eficiente, o Bluetooth 5 está aumentando a vida da bateria em muitos dispositivos. A Master & Dynamic, por exemplo, adicionou o Bluetooth 5 a nova geração de seus populares fones de ouvido sem fio MW07, e a duração de bateria quase triplicou de 3,5 horas na versão antiga para 10 horas na versão nova.

Combinada com eficiência, a largura de banda aprimorada do Bluetooth 5 está possibilitando novos recursos, como microfones sempre ativados para assistentes de voz em fones de ouvido.

Você provavelmente percebeu que estou falando muito sobre fones de ouvido e alto-falantes Bluetooth. Isso ocorre em parte porque passo muito tempo testando essas coisas e posso falar sobre como as atualizações de Bluetooth melhoraram drasticamente a maneira como elas funcionam. Mas também é importante perceber que o Bluetooth começou no áudio e continuará focado em áudio nos próximos anos.

O pessoal da Bluetooth SIG me disse que podemos esperar novos codecs para áudio de alta qualidade, mais recursos de aparelhos auditivos e alguns recursos de transmissão à medida que a próxima década se aproxima.

Caso contrário, será interessante ver o Bluetooth “lutar” com tecnologias como o Wi-Fi no nosso futuro conectado. Nós apenas estamos no começo em termos do que o Bluetooth 5 pode realizar em operações comerciais e industriais, mas é importante observar que o Wi-Fi está em toda parte. Enquanto um número crescente de dispositivos usa o Bluetooth para conversar, o Wi-Fi oferece aos gadgets a capacidade de se conectar a outros dispositivos e de se conectar diretamente à internet. Portanto, à medida que vemos as lâmpadas com Bluetooth se tornarem dispositivos cada vez mais comuns, as lâmpadas com Wi-Fi podem ser mais capazes.

“O Wi-Fi será um candidato muito forte para praticamente qualquer cenário de conectividade em casa, porque a rede Wi-Fi já existe em quase toda a casa”, disse para mim Kevin Robinson, da Wi-Fi Alliance. “Quando você fala sobre internet das coisas, uma das palavras chave é internet”.

A fala de Robinson não está errada. A tecnologia Bluetooth também enfrenta uma série de limitações que tornam o Wi-Fi mais atraente para os desenvolvedores. A velocidade também é um grande fator. Embora as transferências de dados tenham dobrado do Bluetooth 4 para o Bluetooth 5, a última padronização consegue lidar com apenas 48 Mbps. O próximo padrão Wi-Fi 6 chega aos 9,6 Gbps. O alcance e o consumo de bateria são mais dois problemas que sempre afetaram o Bluetooth e, embora tenham melhorado com o tempo, o Wi-Fi ainda é melhor em algumas circunstâncias.

Mas, em última análise, à medida que essas tecnologias convergem, as pessoas ganham. O Bluetooth é bom para coisas que o Wi-Fi não é e vice-versa. O simples fato de a conectividade sem fio estar se tornando o padrão é um passo excepcional adiante. Nos próximos anos, também veremos mais inovação com o 5G, por isso não é totalmente absurdo acreditar que não nos preocuparemos com a tecnologia sem fio em uma década porque a tecnologia sem fio estará em todo lugar. A única questão, então, é como aproveitar tudo isso ao máximo.

Este post faz parte da série Decade’s End que tenta revisitar grandes descobertas da última década. Você pode ler o restante dos textos (em inglês) aqui.

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