[Hands-on] Deezer: streaming de música se sai bem na web, mas derrapa nos apps
Quase um ano depois de nossos vizinhos sul americanos receberem o Deezer, o serviço chegou finalmente ao Brasil. Baseado em assinaturas e com um acervo de 20 milhões de canções, o Deezer segue os passos de outros, como Rdio, Power Music Club (ambos disponíveis no Brasil) e Spotify, e aposta no streaming de música. A troca é justa: o usuário gasta o valor de um CD por mês e pode ouvir quantas músicas quiser, na web ou em smartphones e tablets. Mas na prática, como o Deezer se sai frente aos seus concorrentes?
Interface e uso
A interface do Deezer, em todos os dispositivos onde ele está disponível, lembra mais um player das antigas do que outros que, hoje, apostam em visuais mais simples e diretos. Numa comparação mais pragmática, o Deezer é quase como um Winamp moderno. Isso significa vários botões, alguns bem pequenos, especialmente na (amedrontadora) “mesa de mistura” da versão web — única disponível para computadores, já que não há aplicativo “instalável”, como os que Rdio e Spotify oferecem.
Há controles do player no topo, incluindo nome do cantor/banda e música, e a barra de progresso. Ao lado, ícones minúsculos para compartilhar a música em execução nas redes sociais, adicioná-la a playlists e comprá-las (iTunes ou Amazon que, por sinal, não vende MP3 no Brasil). A lista em execução está a um clique e, diferente do Rdio, permite reordenar as músicas. Por fim, existe um campo de pesquisa que oferece resultados em tempo real, através de um popup, com divisões entre músicas, artistas e playlists. Dando um Enter, resultados mais apurados são mostrados na página inteira.
A interação com o web app é bem limitada. Não dá para, por exemplo, usar o teclado para pausar ou avançar/voltar músicas, como no Rdio. Porém, existem alguns complementos, exclusivos para o Chrome, onde o Deezer definitivamente funciona melhor, que habilitam o cache offline de músicas e teclas de atalho. Fora isso, algumas inconsistências, como só ser possível começar a ouvir um álbum a partir da primeira música (se clico em outra, ele só toca aquela música e para), mas nada comprometedor. É mais questão de costume mesmo.
O Deezer está traduzido para o português, mas é o da terrinha. Não se espante ao encontrar coisas como “Partilhar” em vez de “Compartilhar”, “Colecção” e “actividade” e outros termos tranquilamente compreensíveis, mas estranhos para o português que se fala no Brasil. Isso sem falar em trechos em francês, o idioma nativo do Deezer, que vez ou outra fazem uma pontinha. Não nos pergunte o porquê, mas o Deezer estava configurado para o português de Portugal sendo que existe a opção pelo português brasileiro. Depois de mudar, nas opções da conta, tudo ficou ok.
Se há tanta esperança e comprometimento com a operação brasileira, poderia ter dado alguma atenção a esse detalhe antes de liberar o Deezer por aqui, não?
Som na caixa!
Um dos grandes apelos desses serviços de streaming musical é a “descobertabilidade” de músicas e, nesse ponto, o Deezer cumpre seu dever. A página inicial traz seis destaques, seleções organizadas por gênero, rankings de músicas/artistas/álbuns, rádios temáticas e ainda se conecta ao Facebook e Last.fm para sugerir novos artistas. Também existe o sistema de contatos, de onde sempre pinta algo legal (ou constrangedor, dependendo dos seus amigos). O sistema de rádios, além das separadas por gênero musical, também pode ser iniciada a partir dos meus artistas favoritos. Ele lembra bastante o do Spotify, e é uma coisa que deveria ser mais explorada no Rdio — até existem estações, mas elas parecem mais limitadas e escondidas.
Ainda existe uma área de aplicações, mas não espere por algo semelhante ao que rola no Spotify. As aplicações são externas (web ou apps móveis) e se integram, de alguma forma, ao Deezer. Outra característica também vista no concorrente e que faz muita, muita falta no Rdio, é a capacidade de lidar com arquivos MP3 do usuário. Sim, 20 milhões é um punhado de músicas, mas acredite: vai faltar alguma. E, nessas horas, nada melhor do que complementar o acervo com os seus próprios arquivos. Uma pena que o uploader seja bem, bem lento e instável — ainda estou lutando para subir uma música para lá.
Quanto à disponibilidade de músicas, o acervo é bem vasto. É difícil se deparar com buscas que não retornam o resultado esperado, mas não impossível. Em testes informais que realizei, por exemplo, o Deezer revelou não ter o último álbum do Yo La Tengo, “Fade”, nem os da cantora brasileira Tulipa Ruiz. O ótimo “Deleted Scenes from the Cutting Room Floor”, álbum de estreia da holandesa Caro Emerald, também desfalca a seleção de músicas do Deezer. Falta um álbum da Maria Gadú. Tudo isso o Rdio nacional tem. O Deezer deve se sobressair em outros pontos (notei que ele tem mais álbuns do Roberto Carlos do que o Rdio). Essa questão de acervo é muito pessoal, por isso vale a pena experimentar os períodos de degustação gratuita que todos os serviços de streaming de música oferecem.
Apps móveis
Há três planos no Deezer. O Discovery é gratuito, oferece seis meses de música via web limitando o tempo, após esse período, para duas horas mensais. O Premium, que custa R$ 8,90 por mês, remove essa limitação e concede alguns benefícios extras, como música em alta qualidade (320 kbps), remoção de banners publicitários e a tal mesa de mistura esquisitona, mostrada lá em cima. O Premium+ é o plano mais caro, custa R$ 14,90 por mês, e em troca oferece a possibilidade de baixar músicas preferidas dentro do app para audição offline e os apps móveis e para TV (no momento, só disponível no media center da Western Digital).
O principal motivo para se assinar a versão Premium+ são os apps móveis — o cache offline é quase uma consequência dessa função. E o Deezer, no que tange a compatibilidade, está de parabéns: em smartphones, há apps para Android, iPhone, Windows Phone e BlackBerry OS; já para tablets, iPad, Android e até o PlayBook, da RIM. Mas se sobram elogios para a abrangência, é difícil encontrar o que cumprimentar nos apps em si.
Testamos dois, o para Android em smartphones em um Nexus 4, e o para iPad, em um iPad 2. No Nexus 4, fica bem claro que o app está datado, mesmo tendo recebido a sua última atualização no início de janeiro. Ele não segue as diretrizes do Google para apps feitos para Android 4.0+ (usando o tema Holo, sem menus inferiores etc) e parece que os desenvolvedores não sabem da existência ou decidiram ignorar, em 2013, as telas de alta definição. Na de 1280×768 deste aparelho, todos os botões e controles são minúsculos e difíceis de acertar.
O app do Deezer para Android é feito com a mentalidade no Gingerbread (Android 2.3). Ver o player, por exemplo, pede um toque no “menu”, um botão que aparece no canto direito da fileira de botões virtuais do sistema, e depois outro toque na opção “Ir para o player”, no menu. A busca não traz aquela divisão bacana da interface web, ela se divide em menus superiores. Tudo, com exceção da arte do álbum no player, é pequeno. Antes de começar a tocar uma música, a barra de progresso tem um glitch bizarro e fica piscando por vários segundos.
E a gente achava o app do Rdio ruim…
No iPad a apresentação melhora, mas um erro crítico põe tudo a perder. No tablet da Apple aquela sensação de “Winamp” é maior. Apesar disso, não é muito difícil navegar e os botões e outros elementos da interface estão em proporção correta. O que mata aqui é que, não importa qual música, cantor ou playlist você coloque para rodar, o app… trava. Trava e volta para a tela inicial do iOS. É um problemão, eu diria.
Vale a pena?
Concorrência é sempre bom, não podemos negar. Na web, o Deezer é bem competente — apesar da interface meio esquisita e de ser, em conexões lentas, pior que o Rdio. Os apps móveis, porém, deixam muito a desejar (o do iPad nem toca músicas!) e ainda carecem de alguns recursos avançados que o principal concorrente local oferece, em especial o modo controle remoto. Não dá nem para dizer que é mais barato, embora tecnicamente seja no plano Premium (acesso ilimitado apenas na web) por incríveis… R$ 0,09 de diferença.
Apesar dos problemas e da falta de diferenciais positivos, é de se esperar que, com o tempo, a situação melhore. O Rdio também estreou no Brasil todo capenga e, com o tempo, melhorou bastante (o que não significa que ele seja perfeito; há tanta coisa, mas tanta coisa que pode ser melhorada…) Mas é bom que se apressem, já que opções não faltam e a chegada de outros players que ainda não atuam no Brasil (Spotify, MOG) pode tornar a concorrência ainda mais acirrada.