Demanda anual de petróleo pode cair pela primeira vez em uma década devido ao coronavírus

A previsão da Agência Internacional de Energia (IEA) aponta para um queda de 90.000 barris de petróleo por dia em comparação com 2019.
A situação ficou feia na segunda-feira, 9 de março, quando as negociações pararam em Wall Street devido à queda nos preços do petróleo. Imagem: Getty

A piora da crise global provocada pelo COVID-19 está levando ao cancelamento de negociações internacionais e a desperdícios causados por voos “fantasmas”. E agora está projetado para levar à primeira queda na demanda de petróleo em mais de uma década.

A Agência Internacional de Energia (IEA) atualizou sua previsão do mercado de petróleo na segunda-feira e projeta que a demanda global continuará em queda neste ano devido ao vírus. O mercado já havia sofrido a queda trimestral mais drástica e repentina da história. A previsão de fevereiro da IEA para o ano era um crescimento de 825.000 barris por dia na demanda, mas os números revisados agora apontam para um queda de 90.000 barris por dia em comparação com 2019.

“O impacto do coronavírus nos mercados de petróleo pode ser temporário”, disse o diretor executivo da IEA, Fatih Birol, em comunicado. “Mas os desafios de longo prazo enfrentados pelos fornecedores mundiais não vão desaparecer, especialmente aqueles fortemente dependentes das receitas de petróleo e gás”.

A queda esperada na demanda deve-se ao fato de as pessoas ficarem em casa, ignorando seus carros que consomem gasolina e cancelando voos, entre outros impactos ligados às consequências do coronavírus. De acordo com a projeção média, o mundo ainda usará 99,9 milhões de barris por dia este ano o que significa uma queda comparativamente pequena, mas o fato de que a demanda está projetada para cair de qualquer forma ainda é algo grande. É a primeira vez desde a recessão de 2009 que a demanda global por petróleo deverá diminuir. A previsão ainda pode mudar nos próximos meses, dependendo de como o COVID-19 se espalhar e afetar a economia.

Embora a expectativa da IEA seja uma queda na demanda, o quão grave isso pode se tornar varia muito. A agência projeta dois cenários diferentes: um em que as coisas correm ladeira abaixo e outro em que os governos conseguem se organizar. No cenário pessimista, o vírus não será contido e o uso de petróleo vai cair ainda mais do que a projeção média para 730.000 barris por dia em 2020. No cenário otimista, no entanto, o mundo se move rapidamente para conter o COVID-19 e a demanda global por petróleo cresce 480.000 barris por dia este ano.

O fato de a IEA considerar o cenário otimista como sendo aquele em que o consumo de petróleo cresce ignora todas as maneiras pelas quais a crise climática deve impactar nossa economia a longo prazo. O aumento do uso de combustíveis fósseis não é bom para a economia e certamente nem um pouco para o planeta. Isso não significa que essa queda intensa no setor seja boa. É particularmente ruim, pois deixa os trabalhadores expostos.

O relatório da IEA inclui até mesmo uma observação para essa mudança na política global para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A agência escreve:

O impacto das transições de energia limpa no suprimento de petróleo permanece incerto, com muitas empresas priorizando projetos de ciclo curto para os próximos anos. Até o momento, os anúncios das principais empresas de petróleo sobre a redução de suas emissões de CO2 tendem a se concentrar em objetivos de longo prazo. No entanto, os investidores continuam aumentando a pressão sobre o setor para aprimorar seu foco nas questões de sustentabilidade, enquanto ativistas, especialmente na Europa e América do Norte, buscam impedir novos desenvolvimentos de petróleo.

Afinal, o coronavírus é apenas um desastre. Em um mundo onde os choques climáticos se tornam mais comuns, é provável que as chances de uma recessão aumentem. Como a economia responderá então?

Os líderes do governo têm outras preocupações em mente enquanto tentam definir os planos adequados para lidar com o COVID-19, mas não podem perder de vista o trabalho necessário para resolver as mudanças climáticas. E esse trabalho envolve a transição para um mundo que não seja tão dependente de combustíveis fósseis. É disso que trata o Green New Deal.

Se essa transição não ocorrer de forma tranquila – ou se não acontecer logo! – a economia global sofrerá muito mais sustos. O que estamos vendo é apenas um gostinho da realidade que virá em um futuro devastado pelo aumento das temperaturas. Ou podemos optar por um futuro onde nós vemos isso como uma oportunidade para investir em energias renováveis e construir uma economia inteiramente nova.

Até a indústria solar está sendo afetada devido à produção chinesa de material necessário, relata a Bloomberg. As ações estão despencando, e a Bolsa de Valores de Nova York interrompeu as negociações por 15 minutos na segunda-feira (9) de manhã como resultado.

De fato, esse reconhecimento já está afetando o bem-estar financeiro de petróleo e gás. Bancos como o Goldman Sachs e o JPMorgan Chase já estão encerrando o financiamento de projetos no Ártico. Ativistas e investidores estão pressionando mais os bancos a encerrar o financiamento de petróleo e gás em geral. É apenas uma questão de tempo até que os interesses financeiros procurem gastar seu dinheiro em outro lugar. Até as empresas de energia estão reconhecendo que seus produtos estão em risco.

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