Descoberta de amuleto na Alemanha pode reescrever história do cristianismo
A descoberta de um amuleto de prata na Alemanha pode reescrever a história do cristianismo, revelando a evidência mais antiga da religião ao norte dos alpes.
Encontrado em escavações entre 2017 e 2018, no sítio arqueológico da antiga cidade romana de Nida, atual Frankfurt, o amuleto de prata mede apenas 3,5 centímetros.
Além disso, o amuleto tem mais de 1.800 anos, de acordo com análises dos arqueólogos, que encontraram o amuleto sob o queixo de um homem enterrado em um cemitério romano.
Os pesquisadores afirmam que o homem morreu entre os anos 230 e 270 e, provavelmente, usava o amuleto em um cordão em seu pescoço.
Após encontrar o amuleto, os arqueólogos identificaram um pequeno pergaminho feito de folha de prata com uma inscrição em Latim de 18 linhas, recebendo, assim, o nome de “Inscrição de Prata de Frankfurt”.
No entanto, como o pergaminho era muito fino, o risco era enorme. Desse modo, arqueólogos, linguistas e cientistas de várias universidades da Alemanha passaram os últimos seis anos tentando descobrir como decifrar o texto do amuleto.
Em maio deste ano, cientistas do Centro de Arqueologia de Leibniz (LEIZA), em Mainz, conseguiram escanear o pergaminho usando tecnologias avançadas de tomografia computadorizada.
Assim, os arqueólogos conseguiram criar um modelo em 3D do amuleto, permitindo desenrolar digitalmente o pergaminho de prata para análise.
Veja o vídeo do processo de escavação e das análises em laboratório:
Após a criação do modelo 3D, o professor Markus Scholz, arqueólogo especialista em inscrições em Latim, ficou responsável por decifrar o texto do amuleto, mas a tarefa não foi fácil.
“Em alguns momentos, demorei semanas, ou até meses, para decifrar partes do texto. Eu tive que consultar especialistas em história da tecnologia para, aos poucos, formar o texto e, finalmente, decifrá-lo”, disse Scholz em um comunicado.
A inscrição e a importância do amuleto para o cristianismo
O arqueólogo decifrou a inscrição de prata “Inscrição de Prata de Frankfurt” colocando símbolos de interrogação em áreas cuja tradução é incerta.
“(Em nome de?) São Tito. Santo, santo, santo! Em nome de Jesus Cristo, Filho de Deus! O Senhor da terra resiste a todos os ataques(?)/infortúnios(2) com (força?). Deus (?) concede a entrada ao paraíso. Será esse meio de salvação (?), proteger o homem que se render à vontade do Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, pois perante a Jesus Cristo, todo joelho se dobra: aqueles no céu, aqueles na terra e aqueles debaixo da terra, e toda língua confessa (Jesus Cristo).”
A inscrição do amuleto tem diversos elementos do cristianismo, como uma invocação a São Tito, referências ao Apóstolo Paulo e ao Triságio.
Aliás, o Triságio (três vezes santo) não era amplamente reconhecido na liturgia cristã até o século 4. Portanto, esses elementos no amuleto indicam que o escriba tinha muito conhecimento do cristianismo.
Além disso, por ser de meados do século 3, a descoberta do amuleto sugere uma entrada mais antiga e mais profunda do cristianismo na Germânia romana.
No século 3, praticar o cristianismo ainda era um risco no Império Romano, sobretudo no governo de Valeriano. O imperador ordenou o massacre a cristãos em 258, durante a crise do terceiro século.
Por isso, os arqueólogos afirmam que o cristianismo era muito importante para o homem enterrado com o amuleto na Alemanha.
Além de reescrever o cristianismo no norte da Europa, a importância do amuleto se estende para além da teologia. O artefato será útil para a arqueologia, a filologia (estudo das línguas) e, sobretudo, para a história cultural.