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Uma descoberta fascinante pode estar cercando esta foto de Saturno

Astrônomo amador acredita ter encontrado gêiseres em erupção no polo sul da lua Encélado, de Saturno

Definitivamente vale a pena tirar o pó das fotos antigas de vez em quando. Prova disso é esta notícia: um astrônomo amador acredita ter encontrado gêiseres em erupção no polo sul da lua Encélado, de Saturno… Em imagens tiradas pela sonda Voyager 1, em 1980.

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Claro, esses gêiseres são apenas pouco mais do que um punhado de pixels cinza perdidos desaparecendo do fundo de uma bolha branca deformada. Mas se a descoberta se sustentar, ela estenderia nossos dados de base de referência sobre as atividades de gêiseres na Encélado para muito tempo antes — mais de 25 anos antes da primeira observação da sonda Cassini de um gêiser de gelo, em 2005.

Isso, de acordo com Ted Stryk — professor de filosofia, blogueiro de espaço e aficionado por dados planetários que analisou as imagens no último outono do Hemisfério Norte e escreveu suas descobertas nesta semana —, é uma “ótima notícia” para o pessoal que quer enviar uma espaçonave para a lua gelada de Saturno, em busca de sinais de vida.

“Muitas das propostas da New Frontiers [da NASA] agora são sobre explorar essas plumas”, disse Stryke ao Gizmodo. “Uma das maiores preocupações é: e se forem efêmeras? O fato de que, na única vez que olhamos para elas há 25 anos, [vimos as plumas] é um bom sinal.”

Pluma do sul polar da Encélado é mostrada espirrando vapor de água e partículas geladas no espaço, nesta foto da Cassini (NASA/JPL/Space Science Institute)

Desde que a sonda Cassini, que orbita Saturno, começou a tirar fotos em alta resolução da Encélado, no começo da década de 2000, ela se tornou um dos objetos mais fascinantes no sistema solar para astrobiólogos e cientistas planetários. Apesar de ter apenas 498,8 quilômetros de diâmetro, a Encélado é um mundo complexo e surpreendentemente parecido com a Terra. Abaixo da superfície coberta de gelo e brilhante da lua, há um oceano de água líquida, mantido aquecido por um núcleo rochoso que capta seu calor do puxão gravitacional de outra lua saturniana, a Dione.

Até agora, todos os sinais apontaram para o fato de o oceano subterrâneo da Encélado ter uma composição semelhante à da Terra — e, de maneira fascinante, não precisamos dar uma de Europa Report e perfurar a superfície para descobrir se isso é verdade. O polo sul da Encélado apresentam um complexo sistema de gêiser com “listras de tigre”; fissuras que parecem abrir e fechar conforme a crosta da lua se flexiona sob tensão gravitacional. Esses gêiseres estão basicamente oferecendo amostras grátis para qualquer espaçonave que calhe de estar por perto.

É por essas razões que a Encélado se tornou um alvo principal na busca por vida alienígena em nosso sistema solar.

Encélado, vista sobre Saturno em foto tirada pela Voyager 1, em 13 de novembro de 1980 (NASA/JPL-Caltech/Ted Stryk)

Doze anos de dados da Cassini mostrando atividade de gêiseres contínuas na Encélado é algo promissor, mas com certeza seria uma pena se esses gêiseres se desligassem, digamos, a cada 25 anos, e não soubéssemos sobre isso antes de enviar outra sonda para lá. Stryk, que esteve envolvido com o processamento de imagens para a missão New Horizons, da NASA, para Plutão, e que uma vez descobriu uma lua desconhecida de Netuno em antigas imagens da Voyager 2 (nada demais, né?), se perguntou por anos se mais informações sobre a atividade da Encélado poderiam ser colhidas da Voyager 1.

“Logo após a Cassini inicialmente anunciar os dados [sobre os gêiseres da Encélado], olhei as imagens da Voyager marcadas nos arquivos de dados para a Encélado”, contou Stryk ao Gizmodo. “Mas não encontrei coisa alguma no ângulo de iluminação correto.”

Foi só no verão de 2015, enquanto participava de uma reunião sobre o processamento de imagens retroiluminadas de Plutão, tiradas do voo da New Horizons, que Stryk teve uma nova ideia: talvez a Encélada estivesse presente em algumas das imagens da “fase alta” do processamento de imagens da Voyager 1, que teria oferecido um melhor ângulo de iluminação para se encontrar plumas.

No último outono, ele pode trabalhar polindo imagens de “fase alta” do voo da espaçonave para Saturno, no outono de 1980. E lá, no canto de oito fotos em preto e branco de ângulos largos que a Voyager 1 tirou em 13 de novembro, ele viu: Encélado, pouco mais que uma mancha, com um borrão revelador emanando de seu polo sul.

Encélado, tirada pela Voyager 1, em 13 de novembro de 1980. O borrão emanando do polo sul da lua é consistente com os gêiseres de “faixas de tigre” capturadas em resolução muito maior pela Cassini (NASA/JPL-Caltech/Ted Stryk)

“Ao empilhar [as imagens], tive certeza de que eu havia tirado as plumas”, disse Stryk. “São a iluminação e a direção corretas.” Stryk, que escreveu um resumo da conferência de Ciências Lunares e Planetares sobre suas descobertas, disse que maioria dos astrônomos com quem discutiu seu trabalho estavam “muito certos sobre a análise”.

Isso não significa que seja caso encerrado. O astrônomo da Cornell Jonathan Lunine contou ao Gizmodo que, embora o resumo de Stryk tenha gerado “um bocado de discussões divertidas” em uma reunião do grupo de projetos científicos da Cassini na semana passada, ele precisa ver mais detalhes para descartar a possibilidade de artefatos de processamento de imagem.

“Se uma análise mais detalhada provar a análise de Stryk, então é evidência direta de que a pluma tem uma longevidade de pelo menos déacadas”, afirmou Lunine. “E então poderei deixar de dizer ao público que as câmeras da Voyager não puderam detectar a presença de uma pluma.”

Stryk, por sua parte, planeja continuar a peneirar as imagens da Voyager para descobrir mais evidências da pluma. Se uma coisa está clara é que a Encélado está se tornando um alvo muito mais atraente do que nunca — e que a sonda Voyager 1, que ainda está enviando dados e fazendo descobertas da borda do espaço interestelar, valeu muito a pena o investimento.

[The Planetary Society]

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