Dona da 99 suspende serviço de caronas na China após segundo assassinato de passageiros no ano
A empresa de transporte Didi Chuxing — que comprou a 99 no começo do ano — suspendeu o Hitch, sua opção de carpool (caronas grátis ou com pequenas gorjetas), que permite a passageiros e motoristas compartilhar carros com pessoas que estão indo para destinos próximos. O motivo da interrupção é o segundo assassinato de passageiro neste ano.
De acordo com o South China Morning Post, autoridades da cidade de Leqing, na província de Zhejiang, no leste do país, prenderam um suspeito de sobrenome Zhong. De acordo com a polícia, ele confessou o estupro e o assassinato de uma mulher de 20 anos de idade, chamada Zhao, que entrou em seu carro na sexta-feira.
A Reuters reporta que executivos da companhia admitiram sua responsabilidade no incidente. Eles dizem que, apesar de o suspeito não ter antecedentes criminais, possuir documentos válidos e passar em um teste de reconhecimento facial, a empresa falhou em agir em uma reclamação anterior sobre o motorista:
Mas a empresa disse no sábado que havia uma reclamação anterior feita contra o motorista na quinta-feira, por uma passageira. Ela diz que o motorista a levou para um lugar remoto e a seguiu depois de ela ter descido do carro.
“O incidente mostra muitas deficiências com nossos processos de atendimento ao consumidor, especialmente na falha de agir rapidamente depois da queixa da passageira anterior e no processo rígido e pesado de compartilhar informações com a polícia”, disse a empresa em um comunicado.
Como nota a publicação local, há três meses um motorista matou outra passageira do Didi Hitch, na província de Henan. O incidente levou o aplicativo a fazer várias mudanças, como remover as assustadoras tags personalizadas e avaliações que os motoristas podiam fazer nos perfis dos passageiros, além de suspender o serviço durante a noite por seis semanas.
A companhia também tomou uma série de medidas, como escaneamentos faciais obrigatórios, regras para obrigar motoristas a só dar caronas para passageiros do mesmo sexo durante a noite e um botão de emergência que grava áudio e permite que usuários possam contatar a Didi ou as autoridades.
Estas medidas falharam na prevenção do crime de semana passada. Funcionários deixaram de iniciar uma investigação após a queixa inicial de comportamento inadequado por parte do motorista. A polícia disse que o suspeito tinha “documento de identificação, registro do veículo e licença para dirigir, todos autênticos”, diz o Post, apesar de ter modificado a placa do carro antes de pegar passageiros no dia do assassinato.
A corrida aconteceu às 13 horas, fora do período de restrições de mesmo sexo. A mulher desaparecida enviou uma mensagem de texto para uma amiga pedindo por ajuda, mas os funcionários da Didi supostamente disseram a amigos e parentes que eles não poderiam fazer nada sem que a polícia fosse comunicada primeiro.
Em 2016, a Didi comprou a operação chinesa da Uber por dezenas de bilhões. Recentemente, ela está se expandindo em outros locais. Neste ano, ela lançou uma filial no México e comprou a brasileira 99.
Entretanto, como nota a Reuters, a repercussão na China depois dos assassinatos incluiu críticas da agência de notícias estatal Xinhua News e uma campanha nas redes sociais para deletar o aplicativo.
De acordo com o TechCrunch, a empresa demitiu dois executivos que trabalhavam no Hitch, e parece que não terá opção a não ser fechar o serviço de caronas, já que parece incapaz de garantir a segurança dos usuários.
“Esses dois acontecimentos perversos que violaram a vida e a segurança dos passageiros expuseram as falhas operacionais da plataforma da Didi Chuxing”, disse o ministérios dos transportes da China em um comunicado a AFP, citado pela BBC. “O Ministério exige que a Didi pare de fazer promessas vazias e tome medidas concretas para garantir a segurança dos passageiros.”
[Reuters, TechCrunch, The Verge]
Imagem do topo: AP