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Diminuição no uso de plasma pode ter causado 29 mil mortes por coronavírus nos EUA

O plasma convalescente é retirado de pessoas recuperadas da Covid-19 e serve como tratamento em pacientes internados

Bolsa de sangue

Getty Images

Um estudo da Escola de Saúde Pública de Johns Hopkins Bloomberg, Estados Unidos, indica que a queda no uso de plasma convalescente para tratar pacientes com Covid-19 pode ter ser a causa de 29 mil mortes a mais do que o esperado no país entre novembro de 2020 a fevereiro de 2021.

O plasma convalescente é uma parte do sangue rica em anticorpos contra a Covid-19, retirado de pacientes que já se recuperaram da doença e pode ser utilizado no tratamento. (Veja imagem)

Ilustração: Hemocentro da Unicamp

Os pesquisadores compararam a quantidade de plasma doados, por paciente, aos hospitais dos EUA a partir de bancos de sangue, com o número de mortes por coronavírus relatadas por internação hospitalar em todo o país.

O resultado era o que os cientistas esperavam: enquanto o uso total de plasma atingiu o pico, em dezembro e janeiro, as mortes de Covid-19 nos pacientes internados diminuíram. Posteriormente, analisaram os resultados negativos; quando o uso de plasma em paciente hospitalizado caiu drasticamente, as mortes em pacientes internados aumentaram.

“Os ensaios clínicos do uso de plasma convalescente em Covid-19 tiveram resultados mistos, mas outros estudos, incluindo este, têm sido consistentes com a ideia de que reduz a mortalidade”, disseram à publicação os autores do estudo, Arturo Casadevall, diretor médico e Jill Sommer, professora e presidente do Departamento de Microbiologia e Imunologia Molecular, ambos da Escola Bloomberg.

De acordo com a publicação, os hospitais dos EUA começaram a tratar pacientes Covid-19 com terapia de plasma convalescente no verão de 2020, quando os médicos procuravam identificar tratamentos para a doença emergente. Em março deste ano, os médicos nos EUA trataram mais de meio milhão de pacientes com sangue doado. O uso de plasma convalescente começou a diminuir no final de 2020, depois que vários estudos clínicos não mostraram nenhum benefício notável.

Apesar disso, os pesquisadores apontam no artigo que muitos dos ensaios clínicos com resultados negativos usaram plasma relativamente tarde no tratamento do coronavírus, quando os pacientes já estavam muito afetados pelo vírus para se beneficiarem do plasma — principalmente porque, segundo eles, as respostas estão relacionadas ao sistema imunológico de cada paciente, e não pelo próprio coronavírus.

Ainda assim, Casadevall destaca que o plasma convalescente permanece sob a Autorização para uso emergencial da Food and Drug Administration (FDA) (agência reguladora americana) nos Estados Unidos e que está prontamente disponível. “Esperamos que médicos, legisladores e reguladores considerem a totalidade das evidências disponíveis, incluindo nossas descobertas, ao tomar decisões sobre o uso de plasma convalescente em pacientes de Covid-19 hospitalizados”, diz Casadevall.

É importante lembrar que as terapias utilizando plasma convalescente são antigas. Elas foram aplicadas pela primeira vez em 1890. Ela foi utilizada para conter surtos como caxumba, gripe espanhola e sarampo.Ou até mesmo a H1N1, em 2009 e Ebola, 2013.

Esse estudo da Escola de Johns Hopkins não foi financiado e contou com a ajuda de pesquisadores do National Institutes of Health. Talvez, a longo prazo, essa possa ser a chave para um tratamento eficaz contra a doença que assola o mundo hoje.

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