Discriminação pode causar doenças cardiovasculares em pessoas LGBTQI+, revela estudo

De acordo com o estudo, o corpo reage aos comentários discriminatórios alterando a pressão arterial, a frequência cardíaca e os níveis de cortisol, o que pode causar doenças a longo prazo.
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Foto: Banco de imagens (Freepik)

Um estudo publicado na Health Psychology descobriu que lésbicas, gays e bissexuais, quando expostos a ataques discriminatórios, podem desenvolver problemas cardiovasculares, porque o corpo reage aos comentários e eleva a pressão arterial. Para a pesquisa, os cientistas expuseram 134 pessoas da comunidade LGBTQI+ a uma atividade estressante: uma entrevista.

Antes do experimento, os pesquisadores deram um papel para os participantes para que eles conhecessem a pessoa que estaria os entrevistando. Em seguida, os cientistas dividiram as pessoas em dois grupos: um grupo de controle e um grupo experimental. O segundo grupo sabia que quem os abordaria seria uma pessoa que supostamente era contra o casamento de pessoas do mesmo sexo. Para que não houvesse variabilidade de perguntas ou diferença no tom de voz, os investigadores pré-gravaram as questões a serem abordadas.

Os estudiosos redigiram diversas perguntas com temas discriminatórios para gerar reações dos entrevistados, de maneira que ele pudesse monitorar a frequência cardíaca enquanto estavam expostos à situação. O grupo de controle não foi envolvido nas perguntas hostis.

Todos os participantes mostraram alterações no corpo quando foram solicitados a participar da entrevista, mas aqueles que foram expostos às declarações preconceituosas tiveram uma resposta fisiológica muito mais intensa. Os pesquisadores perceberam que:

  • A pressão arterial subiu mais no grupo exposto a declarações anti-gays e se recuperou mais lentamente do que no grupo de controle.
  • A frequência cardíaca aumentou mais para o grupo experimental e voltou ao normal mais lentamente do que o grupo de controle.
  • Os participantes do grupo experimental tinham níveis mais elevados de cortisol, um hormônio liberado pelo corpo em resposta a uma situação perigosa ou ameaçadora.

Este estudo fornece fortes evidências de que quando as pessoas LGBTQI+ sofrem preconceito, seus corpos respondem com aumentos na frequência cardíaca, na pressão arterial e no hormônio do estresse cortisol, disse à publicação David M. Huebner, professor de prevenção e saúde comunitária na George Washington University e principal autor do estudo. Ele explica que quando o corpo responde assim repetidamente, pode contribuir para doenças cardiovasculares e outras doenças que se desenvolvem com o tempo.

Há algum tempo outras pesquisas já indicavam que a discriminação está ligada à problemas de saúde, seja ela de raça, cor, sexo ou religião. Contudo, elas não demonstravam a mudança fisiológica na prática.

“Durante anos, pesquisadores mostraram correlações entre relatos de discriminação e problemas de saúde. Este estudo é um dos primeiros a mostrar como a exposição ao preconceito contra os homossexuais realmente causa mudanças nos processos fisiológicos que podem afetar a saúde a longo prazo”, explica Huebner.

Ainda assim, de acordo com o pesquisador, o estudo possui uma limitação. Segundo ele, a amostra foi composta, em sua maioria, por jovens brancos. Outras pesquisas no futuro terão descobrir como o estresse da discriminação anti-gay afeta negros ou outras minorias étnicas que também são lésbicas, gays ou bissexuais, bem como pessoas mais velhas e mais jovens.

As práticas de atenção voltada à saúde mental e física da comunidade LGBTQI+ são totalmente necessárias. Somente há pouco mais de 30 anos a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de classificar a homossexualidade como doença, e apenas em 2019 a homofobia passou a ser crime no Brasil.

“Este trabalho realmente começa a ligar os pontos entre a exposição à discriminação e a saúde física de uma forma que nunca foi feita antes”, disse Huebner à publicação.

Outro ponto em destaque foi um estudo feito pelo The Trevor Project, organização de prevenção ao suicídio na comunidade LGBTQI+, que revelou que os jovens pertencentes a essa comunidade têm cinco vezes mais chances de tentar suicídio do que heterossexuais.

No entanto, hoje existem muito poucas pesquisas para mostrar como as pessoas podem diminuir os impactos específicos que a discriminação pode ter sobre o corpo. Huebner destaca que, talvez, adotar estratégias para lidar com outras formas de estresse, seja com exercícios, uma dieta saudável e aumentar a atenção plena, poderiam ser úteis.

O pesquisador também pontua que as pessoas que se encontram lutando contra a discriminação devem procurar o apoio de um terapeuta qualificado. A pesquisa e outros estudos sugerem que a psicoterapia pode ajudar as pessoas a gerenciar eventos estressantes de forma mais eficaz e reduzir seus efeitos negativos sobre a saúde.

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Mesmo assim, resistir é um ato de coragem. Lidar com alguém que abomina sua existência não é fácil. Por isso, o dia 28 de junho é considerado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQI+. Neste contexto, é imprescindível que governos de todo mundo adotem políticas públicas voltadas contra a discriminação e favoráveis à saúde da comunidade LGBTQI+.

[EurekAlert]

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