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Até os adultos dormem melhor quando são balançados para dormir

Dois novos estudos farão você sentir falta daquele tempo em que era embalado pelos seus pais antes de dormir. As pesquisas descobriram que um suave movimento de balanço antes e durante o período que você está dormindo resulta em um sono mais profundo, tanto nos testes realizados com camundongos quanto com jovens adultos saudáveis. Nos […]

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Dois novos estudos farão você sentir falta daquele tempo em que era embalado pelos seus pais antes de dormir. As pesquisas descobriram que um suave movimento de balanço antes e durante o período que você está dormindo resulta em um sono mais profundo, tanto nos testes realizados com camundongos quanto com jovens adultos saudáveis. Nos humanos, o balanço aparentemente melhorou até as habilidades de memória.

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Qualquer pessoa que já pegou uma criança no colo enquanto ela chorava sabe que balançar parece ajudar a acalmá-la e até fazê-la dormir. Alguns cientistas especializados no sono começaram, então, a estudar se o balançar poderia ser útil mesmo depois de abandonarmos o berço.

Em 2011, por exemplo, pesquisadores da Suíça publicaram um estudo mostrando que as pessoas que tiravam uma soneca à tarde em uma cama de balanço conseguiam adormecer mais rápido e passavam mais tempo em uma fase profunda do sono do que quando dormiam em uma cama normal. Alguns desses mesmos pesquisadores colaboraram nos dois últimos estudos, publicados na quinta-feira (24) na revista Current Biology.

No estudo que envolvia humanos, eles contaram com 18 jovens voluntários (com idade média de 23 anos), que passaram três noites em um laboratório, onde suas ondas cerebrais e padrões de sono foram monitorados.

A primeira noite serviu para habituá-los a dormir no laboratório. Em uma ordem aleatória nas duas noites seguintes, os voluntários ou dormiam normalmente ou em uma cama que era gentilmente balançada de um lado para o outro com a ajuda de um motor.

A cama de balanço usada em um dos estudos. GIF: Perrault, et al/Current Biology

No geral, em comparação com a noite normal de sono, os voluntários não dormiam por mais tempo. Mas eles pareciam ter um sono mais profundo, indicado pela maior quantidade de tempo que passavam na 3ª fase do sono NREM (Movimento Não Rápido dos Olhos). Geralmente, passamos por um ciclo de três fases do sono não-REM, após o sono REM, várias vezes por noite.

Eles também experimentaram menos momentos de mudanças bruscas nos padrões de ondas cerebrais e não despertaram tantas vezes. Essas mudanças no despertar sinalizam uma mudança de sono profundo para sono leve ou de estar dormindo e então despertar.

“Na prática, o balanço lateral suave ajuda a adormecer e, pelo menos em humanos, faz com que passemos mais tempo em sono mais profundo”, disse Konstantinos Kompotis, pesquisador da Universidade de Lausanne, na Suíça, e coautor de ambos os estudos, ao Gizmodo.

O sono é necessário por vários motivos, mas o principal deles é nos ajudar a nos lembrar de memórias que estão armazenadas na memória de curto prazo. É o que os cientistas chamam de consolidação da memória.

Deste modo, os pesquisadores teorizaram que o sono auxiliado pelo balanço levaria indiretamente a uma maior consolidação da memória. Essa hipótese foi levantada porque os voluntários se saíram melhor em um simples teste de memória de pares de palavras após a noite na cama de balanço.

Kompotis e sua equipe também puderam perceber alguns desses mesmos efeitos causados pelo balançar em um estudo realizado com camundongos. Esse é o primeiro estudo a mostrar que o balanço pode ajudar animais não humanos a dormir melhor, de acordo com os autores.

Mas houve algumas diferenças. Primeiro, foi necessário um movimento de balanço mais rápido com os ratos para perceber qualquer aumento positivo no sono. Em ambos os estudos, eles também foram capazes de identificar algumas possíveis razões pelas quais o movimento contribui para um sono melhor.

“Em camundongos, parece que o balanço age por meio do sistema vestibular (o sistema sensorial responsável pelo equilíbrio e orientação espacial) e impacta diretamente no circuito do sono, impedindo que os camundongos mantenham sua vigília”, disse Kompotis.

Em humanos, ele acrescentou, o padrão rítmico de balanço pode fazer com que nossos cérebros sincronizem de uma forma que aumente a frequência de padrões de atividade cerebral importantes para o sono profundo e para a memória de longo prazo, um fenômeno também conhecido como “arrastamento”.

Kompotis e sua equipe não estavam apenas balançando voluntários por diversão. Entender como nossos cérebros interagem com o mundo exterior antes e enquanto dormimos é importante para descobrir como ajudar as pessoas que, por uma razão ou outra, não conseguem ter um sono saudável.

É possível que o balançar possa ser usado para tratar pessoas com insônia, problemas de sono relacionados à idade e “outros distúrbios do sono, bem como perda de memória”, afirmou Kompotis.

“Estou interessado em investigar tratamentos não farmacológicos para distúrbios do sono, e por que não testar uma cama de balanço?”, acrescentou a coautora Aurore Perrault, agora pesquisadora do Laboratório de Sono, Cognição e Neuroimagem em Montreal, no Canadá.

Quando perguntei a Kompotis se as descobertas de sua equipe deveriam fazer as pessoas com insônia considerarem dormir em uma rede, ele disse que, pessoalmente, consideraria fazer isso. Mas ainda é preciso fazer mais pesquisas para assegurar a eficácia.

“Eu sei que faria isso, sempre quis uma rede”, disse ele. “Falando um pouco mais sério, porém, eu esperaria primeiro até que tivéssemos uma melhor compreensão das estruturas cerebrais envolvidas e até que tivéssemos testado os parâmetros sub e supra-ótimos de balanço em humanos, para que possamos utilizar o máximo e único impacto benéfico do balanço no sono.”

Os efeitos do balanço também podem ser diferentes quando estamos tentando tirar um cochilo em vez de dormir a noite toda. E isso pode se resumir ao tipo de movimento de balanço usado; uma rede de balanço é diferente de uma rede fixa, por exemplo.

Em outras palavras, temos que descobrir o quão gentil ou rápido deve ser esse balançar.

[Current Biology]

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