Drones autônomos são uma realidade, e a polícia já faz uso deles nos EUA
Drones policiais não são mais coisa de um futuro distópico. Mas para deixar essa história um pouco mais assustadora, agora os aparelhos estão começando a pensar por si mesmos.
Nos últimos anos, departamentos de polícia nos Estados Unidos passaram a contar com drones equipados com inteligência artificial em suas operações do dia a dia. Uma reportagem do New York Times fornece um vislumbre de como isso acontece na prática. E sim, é tão desconcertante quanto você pode imaginar.
Eis um exemplo: policiais em Chula Vista, na Califórnia, atenderam uma chamada sobre um homem dormindo em um carro roubado. Havia a suspeita de ter drogas no veículo. E o que a polícia fez? Usou um drone para perseguir o criminoso. Leia o relato abaixo:
Quando o homem saiu do carro, carregando uma arma e um saco de heroína, um carro da polícia que estava nas proximidades teve problemas para persegui-lo enquanto ele disparava pela rua e se escondia atrás de um muro. Mas quando ele jogou a arma em uma lixeira e escondeu o saco de heroína, o drone, pairando acima dele, capturou toda a ação por uma câmera. O drone o seguiu quando ele entrou em um shopping pela porta dos fundos, saiu pela porta principal e correu pela calçada.
Assistindo ao vídeo ao vivo, um policial na sede retransmitiu os detalhes para a equipe no local, que logo prendeu o homem e o levou sob custódia. Mais tarde, eles recuperaram a arma e a heroína. E depois de pressionar um botão, o drone voltou, por conta própria, para o telhado.
O departamento de polícia de Chula Vista iniciou seu programa “Drone as First Responder” há dois anos. Foi o primeiro projeto desse tipo nos EUA e já lançou drones para mais de 4.100 voos desde então. Os equipamentos são programados para responder a até 15 chamadas de emergência por dia, e a polícia é capaz de supervisionar cerca de um terço da cidade a partir de dois locais de lançamento de drones. Os oficiais esperam adicionar uma terceira aprovação pendente da Administração Federal de Aviação (FAA), que expandiria a cobertura do programa para o resto da cidade.
A polícia dos EUA vem incorporando drones a seus arsenais há anos, mas os modelos mais recentes podem literalmente voar sozinhos, quase sem interferência humana. Cada unidade custa US$ 35.000 — o valor é alto, mas eles são são significativamente mais econômicos do que gastar milhões em helicópteros e pilotos –, e inclui câmeras de longo alcance, sensores e software para os drones transitarem pelos céus. O projeto também permite que os policiais não se agrupem fisicamente, aumentando o distanciamento social em meio à pandemia.
É claro que a ideia de automatizar o policiamento levanta grandes questões de privacidade, especialmente em um momento de protestos generalizados contra a violência policial e pedidos de reforma dessa instituição. A polícia de Chula Vista trata tanto a filmagem da câmera corporal do policial quanto o vídeo do drone como evidência. Portanto, não podem ser divulgados ao público sem aprovação judicial.
De acordo com o New York Times, o departamento também garantiu regulamentações mais brandas para uso de drones. Enquanto dispositivos comuns precisam estar dentro da vista do usuário que controla o voo, os drones policiais podem voar até 4,8 km de distância do local de lançamento, que e comandado por um piloto que supervisiona o aparelho remotamente.
Em uma demonstração para o Times, um oficial mostrou como o drone podia rastrear uma pessoa ou veículo por conta própria com o apertar de um simples botão. A empresa Skydio, responsável pela fabricação do drone, oferece aos clientes a opção de que seus drones os sigam automaticamente. Contudo, o recurso assume um contexto muito mais preocupante nas mãos das autoridades, especialmente porque há pouca supervisão de legisladores locais.
Defensores da privacidade expressaram preocupação com o fato de a polícia poder usar essa tecnologia para discriminar certas comunidades ou reprimir protestos. Jay Stanley, analista de política sênior do Projeto sobre Fala, Privacidade e Tecnologia da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), disse ao Times que, “à medida que o poder e o escopo dessa tecnologia se expandem, também aumenta a necessidade de proteção da privacidade”. “Drones podem ser usados para investigar crimes conhecidos. Mas também podem cometer delitos”, completou.