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Como elefantes podem ajudar florestas tropicais africanas na luta contra as mudanças climáticas

Grandes herbívoros são importantes — e, mesmo assim, estamos eliminando esses animais. O cocô de hipopótamo ajuda o maior lago da África a florescer. As depressões no solo geradas por bisões podem aumentar a diversidade de insetos nas pradarias. E os ameaçados elefantes da floresta africanos podem ter apenas um papel a desempenhar na luta […]

Foto: Getty

Grandes herbívoros são importantes — e, mesmo assim, estamos eliminando esses animais. O cocô de hipopótamo ajuda o maior lago da África a florescer. As depressões no solo geradas por bisões podem aumentar a diversidade de insetos nas pradarias. E os ameaçados elefantes da floresta africanos podem ter apenas um papel a desempenhar na luta contra as mudanças climáticas.

Isso, pelo menos, é a conclusão de um novo estudo de modelagem de dados publicado na Nature Geoscience, que analisa o papel dos elefantes da floresta na formação das florestas tropicais da Bacia do Congo. Os elefantes da floresta são oficialmente uma subespécie do elefante africano, mas com características físicas e habitat distintos, comparados com seus primos habitantes da savana. A pesquisa sugere que o recente e acelerado declínio no número de elefantes já pode ter feito a segunda maior floresta tropical do mundo perder bilhões de toneladas de carbono sequestrado.

“As florestas africanas têm em média estoques de carbono maiores do que as florestas amazônicas, e uma grande diferença entre os dois continentes é a presença de grandes herbívoros, como os elefantes, na África”, disse Fabio Berzaghi, pesquisador do Laboratório de Ciências Ambientais e Climáticas da França, ao Gizmodo.

Berzaghi e seus colegas se perguntaram se as maiores quantidades de carbono armazenadas nas florestas tropicais africanas, em comparação com suas contrapartes na Amazônia, tinham algo a ver com aqueles elefantes, que comem pequenas árvores e ajudam a diluir o sub-bosque. E assim, os pesquisadores usaram modelos de ecossistemas para ver como seria uma floresta considerando diferentes níveis de pastoreio de elefantes. Eles, então, compararam seus resultados com dados de campo do mundo real de dois locais de floresta tropical de baixa altitude no Congo, um onde elefantes pastam e outro onde isso não ocorre.

Os modelos mostraram que a presença de elefantes pastando “transforma a estrutura das florestas tropicais”. Eliminando algumas dessas árvores mais jovens, os elefantes parecem criar uma floresta com menos árvores maiores — e até 25 toneladas a mais de “biomassa” de árvores por acre de terra. Extrapolando seus resultados para toda a floresta central da África Central, que tem 2,2 milhões de quilômetros quadrados, os modelos mostraram 7% a mais de biomassa, ou quase 3 bilhões de toneladas de carbono adicional sequestrado, quando os elefantes estão presentes versus quando não estão.

Infelizmente, esse carbono pode já estar perdido. O estudo supõe números de elefantes vistos no século 19, antes de os humanos começarem sistematicamente a exterminar esses animais. Estima-se que havia um milhão de elefantes espalhados pelas florestas tropicais da África Central. Em 2011, a população caiu para cerca de 100 mil, devido, em grande parte, à caça furtiva incentivada pelo comércio de marfim.

“Não conseguimos estimar quanto dos 7% de carbono já foi perdido ou quanto tempo levará para perdê-lo completamente”, disse Berzaghi.

Mas Marjin Bauters, ecologista da Universidade de Ghent que estuda ciclagem de nutrientes na Bacia do Congo, alertou contra o uso desses impactos estimados de forma muito definitiva. “A hipótese da megafauna [como os elefantes] ter um efeito tão grande na estrutura da floresta (…) é uma hipótese que permanece em pé há muito tempo”, disse Bauters ao Gizmodo em uma mensagem de voz. “Experimentalmente, é muito difícil validar ou tentar verificar uma hipótese como esta.”

De fato, o estudo se baseou em apenas dois locais de campo para verificar os resultados do modelo e, embora os dados de campo apoiassem o que os modelos mostravam — menos árvores maiores e em florestas que os elefantes pastavam –, mais dados certamente ajudariam a reforçar o significado dessa relação em toda a bacia do Congo.

Monitorar esses gigantes gentis e fazer trabalho de campo na África central é complicado e difícil, disse Berzaghi, acrescentando que, se o estudo gerar interesse suficiente, ele tem esperanças de poder se juntar a outros pesquisadores para coletar mais dados de campo. E, como Bauters indicou, experimentos do mundo real, além de modelos, seriam ideais para confirmar que os elefantes estão realmente causando as mudanças florestais que os pesquisadores veem.

Deixando de lado a limitação de dados, Bauters achava que os autores foram “muito corajosos” ao tentar desvencilhar o papel da pastagem de elefantes e algo tão complexo quanto o ciclo do carbono. Berzaghi acrescentou que o estudo não analisou como o papel dos elefantes da floresta como dispersores de sementes e fontes de fertilizantes — os elefantes comem muitas frutas e acumulam muitas sementes e nutrientes, algo já muito bem documentado — pode afetar o armazenamento de carbono nas florestas, então há claramente muito mais pesquisas a serem feitas.

Ao mesmo tempo, agora há pelo menos um ponto de dados sugerindo um motivo adicional para proteger os elefantes da floresta remanescentes.

“Estes resultados adicionam mais evidências do papel ecológico fundamental dos elefantes nas florestas tropicais africanas”, disse Berzaghi. “Agora que sabemos que os elefantes da floresta também têm uma conexão com o clima, dá para dizer que eles nos ajudam a combater as mudanças climáticas, que é um problema complexo que requer um portfólio de soluções. Esta é uma dessas soluções, que é gratuita e beneficiaria também a biodiversidade. Parece uma oportunidade boa para todos.”

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