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Elon Musk acha que pode aumentar a capacidade do cérebro humano, mas existem problemas nisso

Elon Musk, CEO da Tesla e SpaceX, anunciou um novo negócio, chamado Neuralink: uma startup que tem como objetivo desenvolver chips para o cérebro

Elon Musk, CEO da Tesla e SpaceX, anunciou um novo negócio, chamado Neuralink: uma startup que tem como objetivo desenvolver tecnologias de interfaces neurais que conectam nossos cérebros a computadores. Musk afirma que essa é a melhor maneira de prevenir um apocalipse com a inteligência artificial, mas seu argumento é um tanto quanto problemático.

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Como apontado no Wall Street Journal, a startup ainda está no seu estágio embrionário. A empresa, registrada como iniciativa de “pesquisa médica”, tentará buscar o que Musk chama de tecnologias “laços neurais”, que provavelmente envolvem o implante de pequenos eletrodos no cérebro para criar uma conexão com um computador.

A “interface cortical direta” poderia ser utilizada para subir ou baixar pensamentos num computador, embaçando a fronteira entre os humanos e a máquina. No futuro, chips cerebrais poderiam ser utilizados para complementar e aumentar capacidades cognitivas, resultando em mais memória e inteligência. É algo superfuturista, com certeza – mas não fora do campo da possibilidade.

De acordo com o WSJ, Musk está fundando a startup e tomando um papel ativo de liderança dentro da companhia. Diversos acadêmicos de destaque do segmento teriam assinado contratos para trabalhar lá, e Musk aparentemente procurou a Founders Fund, uma empresa de investimento iniciada pelo co-fundador do PayPal, Peter Thiel. O site da Neuralink atualmente consiste num logo numa única página, com um endereço de email para quem estiver interessado em trabalhar com eles. No começo desta semana, Musk confirmou a existência da startup por meio de um tweet, comentando que mais detalhes aparecerão na próxima semana no WaitBuyWhy, um site que utiliza bonecos de pauzinhos para ilustrar suas matérias.

A Neuralink se junta a Tesla, SpaceX e outras iniciativas altamente ambiciosas e com aspecto futurista geradas por Musk. É muito cedo para dizer se ele será capaz de alcançar seus objetivos grandiosos por meio da Neuralink, mas dada a dedicação do executivo em seus outros projetos, podemos dizer que ele fará uma tentativa aplicada.

A Neurolink provavelmente irá iniciar desenvolvendo tecnologias que tratem de doenças cerebrais como epilepsia, depressão e Parkinson, mas depois pode seguir para desenvolver tecnologias específicas para a interface neural e o melhoramento cognitivo. Musk não está sozinho nesse campo, e terá que competir com a Kernel, uma startup avaliada em US$ 100 milhões fundada por Bryan Johnson da Braintree, e pelo Facebook, que recentemente abriu vagas para “engenheiros de interfaces cérebro-computador”. Braços de pesquisa governamentais como o DARPA também estão trabalhando no desenvolvimento de chips implantáveis no cérebro para tratar de doenças mentais e distúrbios neurológicos.

Fazer dinheiro certamente é um fator motivante para Musk, mas se suas intenções forem realmente verdadeiras, ele está fazendo isso para prevenir que a humanidade sofra uma catástrofe. Como Stephen Hawking e muitos outros enxergam, a superinteligência artificial (ASI) representa um risco existencial. Esses pensadores acreditam que por meio de um erro, indiferença ou intenção deliberada, uma ASI poderia aniquilar toda a nossa civilização. E, aparentemente, na visão de Musk, uma possível receita para esse problema é melhorar os humanos junto com a inteligência artificial para assegurar que seremos capazes de conter quaisquer riscos antes que eles surjam, e para acompanhar a inteligência artificial se quisermos evitar sermos subjugados ou destruídos. Musk alertou numa conferência no ano passado: “Se você assume qualquer taxa de avanço [na inteligência artificial], seremos deixados para trás”.

O logo da Neuralink, e um endereço de email para vagas (Imagem: Neurolink)

Os avanços na realização de interfaces neurais e o melhoramento cognitivo podem progredir mais rápido do que a inteligência artificial. A razão para isso é que nós já temos um modelo funcional para começar a mexer: o cérebro humano. Pesquisadores de inteligência artificial, por outro lado, estão tentando construir cérebros a partir do zero. Na tentativa de criar níveis de inteligência maiores do que as humanas, a corrida poderia ser vencida por aqueles que estão procurando melhorar cérebros pré-existentes, um processo conhecido como inteligência humana radicalmente amplificada.

Tudo isso soa legal na teoria, mas pode ser mais fácil dizer do que fazer. A equipe de Musk, ou seja qual for a empresa que siga por esse caminho, terá que encontrar uma maneira de implantar de forma segura e efetiva esses chips. Eles precisarão também encontrar voluntários que estão dispostos a passar por cirurgias cerebrais invasivas e que estejam confortáveis com chips permanentemente presos aos seus cérebros. Antes mesmo de chegarmos a esse estágio, no entanto, os primeiros testes deverão ser feitos em animais, o que abre uma porta para alguns cenários assustadores e eticamente carregados, incluindo bichos com capacidades cognitivas aumentadas.

Os pesquisadores precisarão assegurar que as pessoas que passarão por esses procedimentos permanecerão psicologicamente estáveis e capazes de lidar com o mundo real. Um melhoramento moderado poderia resultar numa personalidade muito parecida com a de Einstein, mas aumentar a capacidade cerebral de uma pessoa centenas ou milhares de vezes certamente resultará em algo que não se parecerá nada com um ser humano. Um humano melhorado poderia ser completamente insano, também.

E aqui está o problema: ao criar humanos melhorados para conter a ASI (uma ideia eticamente problemática por si só, já que os humanos não podem ser tratados como um meio para se chegar a um fim), nós estaríamos basicamente criando o mesmo problema que estamos tentando resolver. Não há garantias de que uma pessoa com poderes cognitivos radicalmente melhorados será algo seguro, controlável, ou com objetivos e motivações compatíveis com os interesses humanos. Esses pós-humanos talvez tenham suas próprias metas, ou se romperem para grupos com interesses próprios, com sua própria agenda. As rivalidades e as corridas armamentistas tecnológicas poderiam surgir em níveis maiores do que nunca.

Não há dúvidas de que a ASI é um problema sério que está surgindo, e nós com certeza devemos pensar em maneiras de mitigar essa ameaça ainda hipotética. Felizmente, existem muitas outras ideias por aí que não envolvem a criação de entidades ainda mais superavançadas, como limitar a habilidade da inteligência artificial modificar a si mesmo até um certo ponto, ou criar uma inteligência artificial “amigável”, incapaz de fazer mal a humanos.

Por enquanto, essas pequenas especulações talvez sejam prematuras. Musk, assim como seus concorrentes, precisa fazer a iniciativa funcionar e provar a viabilidade de seus planos de negócios. Musk pode ser o rei da publicidade, mas dado o desenvolvimento lento na SpaceX e Tesla, pode demorar um pouco até que o empreendedor visionário tenha algum retorno da Neuralink.

[Wall Street Journal]

Imagem do topo: AP

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