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Em carta, cientistas pedem investigação séria sobre as origens do coronavírus

Cientistas dos EUA, Reino Unido e Suíça querem mais evidências para determinar se origem do coronavírus é natural ou laboratorial.

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Artista britânico Luke Jerram olhando para sua escultura de vidro do vírus Sars-CoV-2, intitulada "coronavirus COVID-19", em foto tirada em 17 de março de 2020. Foto: Adrian Dennis/AFP

Cientistas em vários países estão pedindo uma investigação séria sobre a origem do Sars-CoV-2, o coronavírus que causou a pandemia de Covid-19. Em carta aberta divulgada na quinta-feira (13), o grupo afirma que ainda há muitas perguntas sem resposta sobre como a pandemia começou e que a chamada teoria de “vazamento de laboratório” continua plausível, assim como a teoria da origem natural.

No início de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde revelou os resultados preliminares de sua investigação sobre o início da pandemia em dezembro de 2019, que envolveu pesquisadores que viajaram para algumas das primeiras áreas conhecidas de transmissão em Wuhan, China. A equipe não descartou a possibilidade de que o vírus tenha atingido a população humana depois de ser liberado de um laboratório de virologia próximo, mas eles chamaram essa hipótese de ‘extremamente improvável’. A explicação mais provável, eles concluíram, era que o vírus havia saltado de animais (provavelmente morcegos) para humanos, possivelmente por meio de um hospedeiro intermediário como os pangolins.

Mesmo na época, nem todo mundo comprou as conclusões da OMS. Algumas pesquisas de opinião pública sugerem que uma parcela considerável da população continua a acreditar que o vírus foi deliberadamente criado como uma arma biológica e liberado na natureza. No entanto, outras pessoas, incluindo o ex-chefe do CDC — Robert Redfield — afirmam que o vírus pode simplesmente ter vazado de um laboratório sem que houvesse má intenção. Segundo essa teoria, o vírus pode ter escapado após ser manipulado no laboratório anteriormente, mas também poderia simplesmente ter vindo da natureza e atingido as pessoas sem ter sido alterado.

Muitos cientistas criticaram as versões mais fantásticas dessas teorias. Ele mostram evidências de que não há nada inerentemente suspeito na genética do Sars-CoV-2 que poderia sugerir que ele foi criado como uma arma biológica. Eles também apontam que os vírus rotineiramente saltam de uma espécie para outra, então é completamente plausível que a pandemia possa ter começado em um desses eventos zoonóticos.

Os autores desta nova carta, publicada na Science, não contestam esses pontos. Mas eles dizem que é muito cedo para fechar a porta para a teoria do vazamento de laboratório, pelo menos até que haja mais evidências. “As teorias de liberação acidental de um laboratório e propagação zoonótica permanecem viáveis”, escreveram os autores.

O ponto principal é que não há pesquisas suficientes para chamar a teoria de vazamento de laboratório de extremamente improvável. Como evidência, eles citam o próprio diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Em seus comentários finais após a divulgação final das descobertas da equipe da OMS no final de março, Ghebreyesus disse que a investigação da organização sobre a possibilidade de um acidente de laboratório não foi extensa o suficiente e que “mais dados e estudos serão necessários para chegar a conclusões mais robustas” — estudos para os quais ele estaria disposto a empregar mais recursos.

A suspeita persistente de um vazamento de laboratório ter sido o ímpeto para a pandemia também não tem tudo a ver com ciência, mas com a política do país onde surgiu. A China é famosa por censurar informações desagradáveis para o governo, muitas vezes a ponto de silenciar seus próprios cidadãos. Independentemente de suas verdadeiras origens, a China tentou limitar as informações sobre a pandemia desde o início, inclusive de médicos e cientistas que tentaram alertar o mundo sobre a ameaça potencial da Covid-19. E o país também impôs restrições aos investigadores da OMS enviados a Wuhan.

Os autores da carta são de universidades e instituições de pesquisa nos Estados Unidos, Reino Unido e Suíça, incluindo Harvard, MIT e a Universidade de Cambridge. E eles dizem que apenas uma investigação verdadeiramente imparcial poderá esclarecer como a Covid-19 surgiu. Até que isso seja possível, nenhuma das teorias sobre o vírus deve ser descartada de imediato.

“Devemos levar a sério as hipóteses sobre disseminações naturais e laboratoriais até que tenhamos dados suficientes”, escreveram eles. “Uma investigação adequada deve ser transparente, objetiva, baseada em dados, incluir ampla experiência, sujeita a supervisão independente e gerida de forma responsável para minimizar o impacto de conflitos de interesse.”

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