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Órgão criado para garantir fornecimento de petróleo quer fim de investimentos em combustíveis fósseis

A ciência há muito tempo deixa claro que precisamos parar com os combustíveis sujos quase imediatamente e agora, um dos maiores árbitros de energia do mundo diz que concorda. A Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) divulgou um relatório que sugere que as empresas do mundo inteiro parem de investir em campos de […]

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A ciência há muito tempo deixa claro que precisamos parar com os combustíveis sujos quase imediatamente e agora, um dos maiores árbitros de energia do mundo diz que concorda. A Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) divulgou um relatório que sugere que as empresas do mundo inteiro parem de investir em campos de petróleo e gás natural se os governos estiverem mesmo dispostos a zerar emissões líquidas de carbono até 2050.

O documento foi divulgado nesta terça-feira (18), e mostra aos países a melhor maneira de manter o aquecimento abaixo de 1,5°C, nível descrito no Acordo de Paris. No relatório, a IEA basicamente conclui que precisamos parar de minerar carvão, extrair petróleo e desenvolver novas infraestruturas de combustível fóssil o mais rápido possível. E não apenas até 2030. Este ano é “um ano crítico no início de uma década crítica para esses esforços”, aponta o relatório.

Para quem não passa o dia pensando em política energética internacional (bom para você), isso pode parecer bastante óbvio. Mas a importância que tem a agência que emitiu esse conselho é enorme. A organização é basicamente a mais pura empresa de orientação capitalista que se pode imaginar: foi fundada na década de 1970, após a crise do petróleo, em parte para garantir o fornecimento de petróleo aos Estados Unidos.

Os posicionamentos da IEA são citados e usados ​​como base para decisões de todos os tipos de organizações financeiras, governos e grandes empresas de petróleo. O novo relatório, entretanto, representa uma grande mudança na forma como o mundo poderia tratar os combustíveis fósseis.

“Eu diria que a indústria de petróleo e gás perdeu um de seus escudos mais poderosos por causa do efeito da IEA em direcionar o desenvolvimento de petróleo e gás em todo o mundo”, disse Kelly Trout, analista de pesquisa da Oil Change International.

“A IEA finalmente reconheceu que sua credibilidade em termos de sua posição como consultor global sobre o clima e a transição energética que dependia deles finalmente avançou para o modelo alinhado à meta de 1,5ºC”, completa Trout.

Empresas como BP, Exxon, Shell e Occidental argumentaram que estão comprometidas com a luta contra a mudança climática, realizando uma série de investimentos em tecnologias de remoção e captura de carbono enquanto introduzem termos como “óleo neutro em carbono” (seja lá o que isso signifique).

As empresas gostam de argumentar que combustíveis fósseis são simplesmente essenciais demais para serem eliminados para sempre; tecnologias para desfazer o que já fizemos serão a verdadeira chave para combater as mudanças climáticas.

Essa posição foi apoiada por bilionários como Bill Gates, que tem defendido com entusiasmo despejar dinheiro no desenvolvimento de novas tecnologias para sugar o carbono do céu enquanto se esforça em coisas como o “desinvestimento” de combustíveis fósseis. “Não há possibilidade de se livrar dos combustíveis fósseis em 10 anos”, disse Gates ao Politico em fevereiro. “Isso é tanto antirrealidade quanto negar que exista uma crise climática”, finaliza.

No entanto, o foco em tecnologias que parecem coisa de ficção científica ignora o importante trabalho de evitar as emissões hoje, que são muito importantes no curto prazo para colocar o mundo em um curso alinhado com as metas do Acordo de Paris.

As tecnologias para remover o carbono do ar “desempenham um papel apropriadamente pequeno, mas importante no novo relatório da IEA”, de acordo com David Morrow, diretor de pesquisa do Instituto de Legislação e Política de Remoção de Carbono da American University.

Morrow também destacou que a IEA estima que as tecnologias de remoção de carbono possam ajudar a remover cerca de 5% das emissões globais todos os anos até 2050. “Quase todo o trabalho para chegar a zero líquido envolve o corte de emissões, não a remoção de carbono”, completa.

O relatório da IEA deixa claro que, por mais que empresas como a Shell ou a Exxon trabalhem para convencer o público de que seu produto pode coexistir com compromissos climáticos, a única solução real para manter o aquecimento sob controle é abandonar os combustíveis fósseis imediatamente. Com o maior árbitro de energia do mundo agora defendendo o apelo para eliminar os combustíveis sujos, a possibilidade de se livrar desses combustíveis está se tornando cada vez mais real.

[IEA]

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