Tecnologia

Empresas aderem a IA sem base científica para monitorar emoções de funcionários

Em 2021, IA de análise de emoções foi usada em prisões para manter os prisioneiros "mais dóceis". Agora, ela chega ao ambiente de trabalho
Imagem: Freepik/Reprodução

A IA (inteligência artificial) já pode ser usada para diversas coisas, inclusive para prever transtornos como ansiedade e depressão. Mas agora, startups ao redor do mundo acreditam que é possível usar a EAI sigla para inteligência artificial emocional –, para captar movimentos faciais sutis e detectar sentimentos. Mas há um problema: ela não tem comprovação científica.

Atualmente, o software já começou a ser utilizado no ambiente de trabalho e, de acordo com desenvolvedores, pode diferenciar emoções como felicidade, confusão e raiva, mesmo que a própria pessoa não as reconheça ou disfarce. Algumas empresas já usam ela no desenvolvimento de produtos ou para avaliar propagandas, por exemplo. No entanto, outras a utilizam para monitorar o emocional dos funcionários.

Em 2021, uma reportagem do The Guardian relatou pela primeira vez o sistema de reconhecimento de emoções por IA da empresa chinesa Taigusys. O recurso consegue gerar relatórios sobre indivíduos e recomendá-los para “apoio emocional” caso excedam os marcadores recomendados para “emoções negativas”.

A matéria também revelou que a tecnologia era usada em 300 prisões e centros de detenção no país, ajudando a manter os prisioneiros “mais dóceis”. Mais de 30 empresas, incluindo multinacionais como a Huawei (que já desenvolveu diversas tecnologias de vigilância baseadas em etnia), estavam entre as clientes da marca, apesar de não ser claro se adquiriram o sistema e para quê.

Em 2014, a plataforma de recrutamento norte-americana HireVue começou a usar a análise facial em seu processo seletivo de candidatos, segundo o Washington Post. A ideia era combater preconceitos e identificar habilidades interpessoais, capacidade cognitiva, traços psicológicos e inteligência emocional. Mas, após críticas, interrompeu o uso em 2021, continuando com o monitoramento de fala e comportamento.

Mas quais sãos problemas do uso da IA de emoções no trabalho?

Enquanto ativistas alertam para a violação do direito humano à privacidade, o professor Desmond Ong, da Escola de Computação da Universidade Nacional de Cingapura, disse ao Business Insider que o software poderia ajudar a “identificar situações perigosas de vida ou morte, como pilotos e maquinistas cansados, embriagados ou com problemas mentais”. Por outro lado, Ong explica que o recurso também poderia penalizar injustamente ou otimizar desumanamente o desempenho dos funcionários.

Além disso, não é certo se a EAI funciona. Afinal, a interpretação de expressões faciais está, em grande parte, relacionada à pesquisa do psicólogo norte-americano Paul Ekman. O pesquisador diz que expressões universais resultam nas emoções humanas fundamentais (medo, raiva, alegria, tristeza, nojo e surpresa) e transcendem as diferenças culturais. Entretanto, não há consenso entre os cientistas sobre o tema.

Por fim, estudos da Universidade de Michigan revelaram que funcionários muitas vezes não sabem que suas empresas usam a tecnologia no trabalho. Isso porque, devido à ausência de legislação sobre inteligência artificial em muitos países, como os EUA, não há exigência de que os empregadores os informem.

Isabela Oliveira

Isabela Oliveira

Jornalista formada pela Unesp. Com passagem pelo site de turismo Mundo Viajar, já escreveu sobre cultura, celebridades, meio ambiente e de tudo um pouco. É entusiasta de moda, música e temas relacionados à mulher.

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