Uma nova técnica de fertilização pode tornar os “bebês sob medida” uma realidade

A nova técnica de fertilização, chamada Gametogênese in vitro, poderia ser combinada com engenharia genética para definirmos características dos embriões.

Bebês sob medida (desenvolvidos com engenharia genética) são uma questão hipotética que deixa os cientistas loucos. Mas e se, você se pergunta, se tornar fácil escolher que características nós desejamos em nossas crianças, para que seja possível o nascimento de um tipo de super humanos geneticamente modificados, basicamente começando algo parecido com o romance Admirável Mundo Novo? Sim, e se, a maioria dos cientistas responderiam.

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Porém, rápidos avanços nos campos tanto da engenharia genética quanto da reprodução requerem que nós comecemos a enfrentar as questões éticas que esses cenários de ficção científica apresentam. No momento, fertilização in vitro (FIV) já permite aos pais escolherem as características desejadas de imensos e cuidadosamente curados catálogos de doadores de esperma e óvulos. Estamos dispostos a ir muito mais longe do que isso?

Um grupo de cientistas e bioéticos em particular, está preocupado em como uma nova tecnologia de reprodução que pode tornar o futuro dos bebês sob medida bem mais relevante.

Gametogênese in vitro, ou IVG, é uma técnica que pode permitir que qualquer tipo de célula seja programada dentro de um esperma ou óvulo. Isso significa, teoricamente, que você pode ir num encontro de Tinder horrível, não passar do primeiro drink e alguns meses depois receber uma ligação o informando que seu pretendente pegou uma das suas células da pele e a transformou em esperma ou óvulo, já que embora você não fosse o par perfeito, suas qualidades genéticas eram ideais.

IVG e CRISPR juntos

“O que o IVG muda? Na verdade é sua combinação com a ferramenta de edição de genes CRISPR”, disse Glenn Cohen, um professor de direito de Harvard e um dos autores de um editorial na Science Translational Medicine que adverte que o IVG pode ser o portador de um conjunto de “sérios desafios de políticas” e dilemas éticos. “No momento o CRISPR ainda está em sua infância, mas é possível imaginar um futuro a longo prazo onde ele seria muito mais preciso ao escolher características”.

O IVG, ele disse, pode permitir que você muito facilmente reproduza um grande número de embriões, e o CRISPR pode permitir que esses óvulos sejam facilmente editados, para simplesmente escolher as opções genéticas mais atraentes antes da inseminação.

“É um pouco como a diferença entre a pintura de Michelangelo na capela sistina, e alguém tentando criar uma obra parecida em seu computador com o Photoshop”, Cohen disse ao Gizmodo. “O Michelangelo moderno pode gerar muitas cópias da arte, tentar mil variações, e então ver qual ficou melhor. Essa é a possibilidade (bem no futuro) levantada pela combinação do IVG com o CRISPR”.

Esse cenário realmente está bem distante. Até agora, IVG é uma técnica que só foi demonstrada em cobaias. E o CRISPR, por mais que seja descrito como uma ferramenta que “recorta e cola” o DNA, não é tão preciso assim no momento. Esse cenário de pesadelo do Tinder ainda requer muitos avanços tecnológicos, assim como mudanças em políticas reguladoras em lugares como os EUA, onde um embrião humano geneticamente modificado é proibido.

Controle de qualidade

Tirando as questões éticas de lado, o IVG permitiria uma conquista incrível para mulheres que tem dificuldade em engravidar, permitindo aos médicos criarem óvulos de outras células quando não houvessem mais óvulos.

Mas os autores do editorial avisam, também isso também pode “aumentar o espectro da ‘fazenda de embriões’ a níveis até agora inimagináveis”.

Isso em parte por causa das principais diferenças nos detalhes técnicos de como alguém poderia editar os genes de um embrião com o IVG ao invés do FIV. Até hoje, se você quer editar um embrião, você teria que fazer isso depois do esperma e óvulo se fundirem, e então esperar que você consiga alguns embriões com as características desejadas. Se você trabalha com células tronco, no entanto, como no IVG, essas células podem ser editadas antes de virarem um embrião. O que significa que teoricamente um número infinito de células pode ser escolhido antes de alguém comece o processo de criação do embrião.

“O motivo pelo qual o IVG é tão potencialmente poderoso é que ele permite um exaustivo controle de qualidade de células que passaram pela edição genética”, diz George Daley, um pesquisador de células tronco em Harvard, coautor da pesquisa.

Cohen disse que a sugestão não é que o IVG seja considerado uma tecnologia de fertilidade viável. Ao invés disso, ele e seus coautores sugeriram uma avaliação rigorosa das implicações éticas antes da tecnologia ter avançado demais. A abordagem do Reino Unido pode ser um bom guia: enquanto a maioria das outras nações baniram a modificação genética de embriões humanos de uma vez, o Reino Unido permite em casos bem específicos, como na cura de raras doenças mitocondriais.

“Nós gostaríamos de desenvolver um conjunto de diretrizes sobre quando o IVG seria apropriado”, Cohen diz. “Um caso que eu acho provável seria no uso por sobreviventes de câncer, que não são capazes de produzir óvulos por causa do tratamento”.

Enquanto isso, não se preocupe: Por enquanto, se você não tirar as calças, seus dates de Tinder vão continuar livres de bebês.

Imagem do topo: Shutterstock.

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