Estúdios brasileiros já apostam no desenvolvimento de games em realidade virtual

Alguns jogos em realidade virtual já estão sendo desenvolvidos aqui no Brasil e prontos para a chegada dos aparelhos VR.

por Bruno Izidro

Ainda é um pouco cedo para saber se a realidade virtual veio realmente para ficar dessa vez ou será mais uma moda passageira, mas todos nós estamos muito empolgados com o que ela pode oferecer, principalmente com relação aos jogos. Passear por mundos imersivos em aparelhos colocados na nossa cabeça pode ser a próxima grande evolução para os jogos eletrônicos e não é à toa que Sony e Valve estão envolvidas diretamente nos principais aparelhos VR que chegarão nos próximos meses.

Sabendo desse potencial, muitas produtoras de jogos já estão embarcando nessas experiências imersivas e isso inclui também estúdios brasileiros. Pelo menos três desenvolvedoras no país estão apostando em novos projetos para realidade virtual: a IMGNATION com Monowheels VR, a Duaik com o Projeto WOC e a Black River com a versão VR de Finding Monsters Adventures.

Nós conversamos com eles para saber mais detalhes desses jogos e também para saber como é trabalhar nesse terreno ainda pouco explorado e ainda cheio de riscos da realidade virtual.

Três experiências virtuais

Os gaúchos da IMGNATIONS podem ser considerados um dos mais experientes a mexer com jogos de realidade virtual no país. Foi lá em 2014 que trombamos na Brasil Game Show com a versão de Dodge This! para o então inédito Gear VR da Samsung. Já em 2015 eles foram responsáveis por criar duas experiências VR baseadas em Angry Birds, trabalhando diretamente com a Rovio.

Segundo o diretor criativo do estúdio, Orlando Fonseca, agora a IMGNATIONS é praticamente focada só em experiências em realidade virtual e eles estão envolvidos até mesmo com pequenas ideias para o Cardboard do Google. Porém, o atual grande projeto deles é Monowheels VR, um jogo de corrida com visão em primeira pessoa e veículos que dão nome ao game – uma espécie de moto com uma roda enorme em volta.

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Orlando explica que Monowheels VR é ambientado em um futuro distópico, cheio de ambientes perigosos e isso vai ditar muito a jogabilidade. “O jogo combina corrida e combate, com referências como Road Rash, Pod Racer e Twisted Metal”, fala o desenvolvedor. Monowheels VR ainda está nos primeiros estágios de produção, por isso o game só deve chegar no primeiro semestre de 2017, mas será lançado para as principais plataformas de realidade virtual: PlayStation VR, Oculus Rift e Vive da HTC e Valve. “Também estamos considerando talvez uma versão Light pra Gear VR”, completa Orlando.

Para a IMGNATION, se voltar para a realidade virtual teve muito a ver com a oportunidade que a Samsung deu para eles com o Gear VR da empresa há mais de dois anos. “A chance única que tivemos ao ser convidados pela Samsung e Oculus para fazer parte do lançamento de um produto foi o maior determinante, sem dúvida”, revela Orlando. Uma situação diferente, no entanto, do que aconteceu com a Duaik Studios.

Depois do sucesso e reconhecimento com Aritana e a Pena da Harpia, os irmãos Ricardo e Pérsis Duaik queriam chamar a atenção com o próximo trabalho, que seria revelado na Brasil Game Show 2015. Assim eles embarcaram na realidade virtual, que se encaixou com o que eles queriam demonstrar.  “Se fizéssemos mais um jogo [convencional], iríamos concorrer com outros muito grandes e a chance do público lembrar mesmo do game é pequena. Então, a gente ofereceu um jogo de realidade virtual, que quase não teria lá e que chamaria a atenção”, explica Pérsis Duaik. O que foi mostrado na feira é o Projeto WOC… ou pelo menos uma parte dele, com o game 9 de Julho, onde o jogador deve escapar de uma nave que está explodindo.

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O Projeto WOC é formado pelo jogo 9 de Julho (que já está pronto e será gratuito), um documentário dos bastidores de toda a produção e mais a distribuição dos assets do game, do código da programação à partitura da trilha sonora, para aqueles que desejam criar outros jogos a partir dele. O documentário e os assets serão pagos e todo esse pacote será disponibilizado, de forma digital, a partir de 8 de março, pouco antes do lançamento oficial do Oculus Rift.

O game trabalha com os movimentos da cabeça do jogador para interagir com o cenário, acionar portas e dispositivos para escapar de uma estação espacial que está prestes a explodir. Já o título vem da característica do estúdio de sempre conter algum elemento brasileiro em suas produções e, no caso, remete a data histórica da Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.

Ricardo Duaik, que ficou mais à frente na produção do jogo, diz que o 9 de Julho é muito mais um experimento, um teste para saber o que conseguiam fazer com o VR. “Ficou muito legal, mas para eventos, ainda não é a experiência ideal para o Oculus Rift. A gente ainda tá testando”, diz o desenvolvedor.

Por isso também, ele é uma experiência curta, de no máximo 3 minutos de duração, “onde muita gente pudesse jogar, mas não saísse frustrada do que viu”, completa Pérsis. O resultado, segundo eles, foi ótimo. Durante os cinco dias da BGS, cerca de mil pessoas puderam experimentar o 9 de Julho no stand da Duaik na Área Indie da feira, e o feedback de todos foi positivo.

Monowheels VR só deve ser lançado em 2017 e 9 de Julho daqui uns dois meses, mas um bom game brasileiro em realidade virtual que já está disponível e – o melhor – de graça é Finding Monsters Adventure, ou FMA, (até já falamos dele por aqui) para o Samsung Gear VR.

Desenvolvido pelo estúdio amazonense Black River, ele é uma versão VR do jogo mobile de mesmo nome lançado quase no fim do ano passado e o mais próximo que teremos de uma continuação do clássico Pokémon Snap. O objetivo é tirar fotos dos simpáticos monstros, de preferência em situações ou poses inusitadas.

Segundo o produtor do game, Edival “Ed” Lago, criar uma versão VR de Finding Monster Adventure tem a ver com o propósito do estúdio de alinhar jogos com novas tecnologias. “O VR foi um caminho natural”, comenta o desenvolvedor. “Um pequeno time dentro da Black River Studios estava pesquisando sobre VR e eles fizeram a primeira versão do FMA pro Gear VR, pegando a mecânica base de tirar foto dos monstrinhos”.

O Black River, assim como a IMGNATION, conseguiu uma parceria com a Oculus, o que fez com que Finding Monster Adventure logo se tornasse um dos jogos que promoveram o lançamento da versão de consumidor do Gear VR, em novembro de 2015. Além disso, o estúdio conseguiu ganhar notoriedade e até chamar atenção internacional em eventos como a Vision Summit Awards 2016, principal evento da Unity (a que faz a engine de mesmo nome) voltado para realidade virtual.

Tanto a versão mobile quanto a VR de Finding Monster Adventure também foram um grande sucesso para o estúdio, tanto que eles já estão com outro projeto VR no formo, chamado Rococo VR. “Uma pequena experiência que o time desenvolveu durante o tempo livre”, descreve Ed Lago, sem dar muito mais detalhes, apenas que estará disponível em breve.

Criando uma realidade

Pelo fascínio que a realidade virtual causa, principalmente na primeira vez que usamos um aparelho VR, pode parecer que aquelas experiências são algo bem complexo e trabalhoso para se fazer. Bom, na verdade não chega a ser um bicho de sete cabeças. “Trabalhar com realidade virtual tem várias particularidades, mas no fim do dia, é fazer jogos ainda”, fala Orlando Fanseca, da IMGNATIONS. Segundo ele, essas particularidades são mais relacionados a ambiente do jogo, por causa da imersão, e informações de interface e HUD que são passados para o jogador. “Grudar uma barra de energia no canto superior da tela não funciona, por que não temos mais cantos”, exemplifica.

Toda essa nova maneira de pensar em como construir um jogo para realidade virtual foi também um desafio na Black River. Ed Lago fala que muitos dos conceitos que os desenvolvedores tinham dos jogos mobile ou de PC que já estavam acostumados tinham que ser deixados de lado. “Quando pegamos as fases de mobile e colocamos no VR, vimos que muitas alterações deveriam ser realizadas para podermos aproveitar melhor a capacidade de interação dessa nova plataforma”, revela. “Tanto é que o level design de todas as fases foram totalmente refeitas”.

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A criação do jogo em si não chegou a preocupar a Duaik, já que 9 de Julho foi terminado em apenas três semanas, mas os irmãos apontam o cuidado que tiveram em impedir que sensações de mal estar fossem sentidas pelos jogadores durante a experiência. Após alguns estudos e experimentações que realizaram, eles falam que tudo tem a ver, acredite, com o nosso nariz.

“A gente sempre tá vendo o nosso nariz.  Sem prestarmos a atenção, ele é um ponto de referência, e quando você criar jogos de movimentação dentro do óculos, sem nenhum ponto de referência, isso causa enjoo conforme o tempo passa”, explica Ricardo Duaik.

Esse é o motivo, segundo ele, que a movimentação no 9 de Julho é feita com a cabeça, com o capacete sendo o ponto de referência e sem usar um controle ou teclado + mouse para se locomover. “Com o controle no mouse e teclado, o seu corpo não está esperando aquela reação, porque você está muito mais imerso do que se estivesse só jogando videogame”, completa o desenvolvedor.

VR-GUY

Com poucos meses para a chegada de Oculus Rift, PlayStation VR e Vive, jogos de realidade virtual ainda tem muito o que evoluir e melhorar. Ainda bem porque os estúdios brasileiros com quem conversamos veem com empolgação o que essas ferramentas e novidades podem trazer, o que pode mudar como vemos essas experiências hoje. “Por estarmos no início, a inovação está pronta para ser explorada, não existem formatos pré-definidos e as possibilidades são muitas”, afirma Ed Lago, da Black River.

É claro que há também riscos. A realidade virtual pode ser uma onda passageira, como foi o controle de movimento há alguns anos, com o Wii e depois o Kinect, que até deram certo no início, mas não conseguiram se manter. No entanto, o impacto e o fascínio que essas experiências já causam quando bem feitas já podem mostrar um futuro promissor. “VR deve levar uns 2 ou 3 anos para começar a ter uma adoção em massa, mas o que vai fazer a maior diferença é conteúdo, e vejo muita possibilidade e muita gente boa trabalhando pra fazer isso acontecer”, finaliza Orlando Fonseca, da IMGNATION. Sony, Oculus, Valve e todos os jogadores esperam por isso.

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