Estudo brasileiro mostra um dos fatores para maior taxa de contágio da variante B.1.1.7 do coronavírus

Pesquisadores da USP descrevem em novo artigo um dos fatores que torna a variante B.1.1.7 do coronavírus mais contagiosa.
Ilustração com células do coronavírus interligadas. Ilustração por Angelica Alzona/Gizmodo
Ilustração com células do coronavírus interligadas. Ilustração por Angelica Alzona/Gizmodo

O Reino Unido tem registrado taxas recordes relacionadas ao coronavírus, com o número de casos diários passando dos 60 mil, enquanto a média de mortes é de 830. O governo britânico havia anunciado que parte disso se deve a uma nova variante do vírus, que seria 70% mais contagiosa. A notícia gerou preocupação em todo o mundo — no Brasil, por exemplo, já foram identificados dois casos –, levando pesquisadores a se concentrarem nessa nova ameaça.

Uma das pesquisas mais recentes sobre o que torna a cepa mais contagiosa foi conduzida por pesquisadores das faculdades de Medicina (FMRP) e de Odontologia (FORP) da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. O estudo foi publicado no servidor bioRxiv, mas o artigo ainda não foi revisado por pares. Os autores são Geraldo Aleixo Passos, professor da FMRP e FORP-USP, e Jadson Santos, que é aluno de doutorado da FMRP-USP sob orientação de Passos.

Ao realizarem análises bioinformáticas para estudar a nova variante do SARS-CoV-2, batizada de B.1.1.7, os pesquisadores descobriram que um dos principais fatores que têm acelerado essa disseminação do vírus está relacionado à proteína spike.

Basicamente, a infecção acontece quando essa proteína se liga ao receptor ACE2 presente na superfície das nossas células. No caso da nova variante, a proteína spike consegue estabelecer uma maior força de interação molecular com esse receptor.

Essa maior força de interação, por sua vez, é causada por uma mutação no resíduo de aminoácido 501 da proteína spike, chamada N501Y. Estudos anteriores já haviam apontado que esse é um elemento crucial na ligação da proteína spike ao receptor ACE2. Para comprovar essa hipótese de que a alta infectividade da mutação estava relacionada ao N501Y, Passos e Santos utilizaram dois softwares de domínio público.

O primeiro deles, o PyMOL, permitiu que os pesquisadores visualizassem as interações entre o resíduo de aminoácido 501 da proteína spike do SARS-CoV-2 de Wuhan com o resíduo Y41 da proteína ACE2 humana. A ferramenta ainda permitiu simular e analisar essas mesmas interações para a linhagem B.1.1.7.

O segundo software, o PDBePISA, foi utilizado para comparar as interações entre as proteínas spike do vírus que se originou em Wuhan e a nova cepa do Reino Unido com o receptor ACE2. Assim, foram observados dois resultados principais.

Primeiramente, Passos e Santos concluíram que a mutação N501Y na proteína spike estabelece interações moleculares mais fortes que permitem que o vírus entre mais facilmente nas células. O segundo resultado observado foi que a N501Y causa uma mudança no espaçamento entre os resíduos de aminoácidos da proteína spike, o que permite que ela estabeleça mais interações com o ACE2.

Ainda de acordo com os pesquisadores, um dos fatores que têm impulsionado a evolução do vírus é a rápida propagação entre humanos, sendo que a maioria das mutações acontece na proteína spike. No caso da B.1.1.7, o que chamou a atenção dos cientistas é o fato de ela acumular 17 mutações, com oito delas localizadas no gene que codifica essa proteína.

Por enquanto, os cientistas avaliam que as vacinas existentes poderão combater a nova variante, pois as mutações acontecem em pequenas partes do vírus e as vacinas geram anticorpos contra grandes regiões dele. No entanto, serão necessários mais estudos para continuar acompanhando a evolução do SARS-CoV-2. Dependendo da rapidez com que ele sofrer alterações, as vacinas também deverão ser ajustadas, como já acontece no caso da gripe comum.

Uma outra variante já foi identificada na África do Sul e tem gerado preocupação. O governo britânico afirmou que os pesquisadores não estão confiantes de que as vacinas existentes contra COVID-19 serão eficazes contra essa cepa. Por outro lado, cientistas da BioNTech e da Universidade de Oxford afirmam que já estão testando seus imunizantes nas novas variantes e que poderão fazer ajustes, caso necessário, em cerca de seis semanas.

[Agência FAPESP]

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