
Estudo científico mostra que torcida de futebol vibra mais antes da bola rolar
Um estudo da Universidade de Connecticut (EUA), publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, descobriu que os intensos sentimentos de alegria e união vividos por torcedores durante eventos esportivos estão menos ligados ao jogo em si. E mais aos rituais coletivos que o antecedem.
A pesquisa, realizada pelo antropólogo Dimitris Xygalatas com torcedores brasileiros de futebol, mostrou que o ápice da conexão emocional ocorre antes mesmo da bola rolar.
Xygalatas — um apaixonado torcedor de futebol na Grécia —, investigou como rituais como a “Rua de Fogo”, tradição gaúcha em que multidões recebem o ônibus do time com fogos, cantos e bandeiras, influenciam as emoções. Utilizando monitores cardíacos, a equipe mediu a resposta do corpo dos torcedores antes, durante e depois de uma final estadual.
Os resultados são impressionantes: o maior pico de sincronia emocional, a chamada “efervescência coletiva”, aconteceu durante os rituais pré-jogo, superando até mesmo momentos do jogo — exceto quando o time marcava um gol. “O ritual gera mais conexão do que o jogo em si”, explica Xygalatas ao portal Phys.
O estudo reforça a ideia de que rituais esportivos, assim como cerimônias religiosas ou shows, moldam identidades e crenças. “O esporte não é só uma desculpa para se reunir; é um criador de identidade”, diz o antropólogo.
E a violência no futebol?
Apesar de celebrar o esporte das quatro linhas, o pesquisador lembra que é importante que as federações e clubes se preocupem com a segurança. E ele fala por experiência própria: Quando jovem, ele era membro de uma torcida organizada de um time de futebol da Grécia e foi emboscado por quatro homens e brutalmente atacado.
“Senti uma pancada na cabeça vinda de trás e, de repente, havia quatro homens me espancando e me chutando na cabeça, por todos os lados”, lembra. “Consegui escapar porque outro grupo de homens estava virando a esquina, usando o símbolo do meu clube, então eles os expulsaram.”
No Brasil, por exemplo, um levantamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mapeou os casos e vítimas desse fenômeno nas últimas três décadas. O estudo registrou 384 mortos em confrontos entre torcidas e/ou forças de segurança de 1993 a 2023. Desses casos, 11 ocorreram dentro de estádios.
Pensando nesse cenário, Xygalatas deixa claro que não defende menos paixão no futebol. Porém ele espera que seu trabalho ajude as pessoas a entender por que se importam tanto, em primeiro lugar. “Se observarmos o que nos torna humanos, percebemos que é nossa capacidade e necessidade de extrair significado de coisas que parecem sem sentido”, completa.