Estudo científico mostra que torcida de futebol vibra mais antes da bola rolar

Engana-se quem pensa que o jogo de futebol em si é o ponto alto da emoção dos torcedores. Uma pesquisa apontou que a emoção vem bem antes
Imagem: Bruno Peres/Agência Brasil

Um estudo da Universidade de Connecticut (EUA), publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, descobriu que os intensos sentimentos de alegria e união vividos por torcedores durante eventos esportivos estão menos ligados ao jogo em si. E mais aos rituais coletivos que o antecedem.

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A pesquisa, realizada pelo antropólogo Dimitris Xygalatas com torcedores brasileiros de futebol, mostrou que o ápice da conexão emocional ocorre antes mesmo da bola rolar.

Xygalatas — um apaixonado torcedor de futebol na Grécia —, investigou como rituais como a “Rua de Fogo”, tradição gaúcha em que multidões recebem o ônibus do time com fogos, cantos e bandeiras, influenciam as emoções. Utilizando monitores cardíacos, a equipe mediu a resposta do corpo dos torcedores antes, durante e depois de uma final estadual.

Os resultados são impressionantes: o maior pico de sincronia emocional, a chamada “efervescência coletiva”, aconteceu durante os rituais pré-jogo, superando até mesmo momentos do jogo — exceto quando o time marcava um gol. “O ritual gera mais conexão do que o jogo em si”, explica Xygalatas ao portal Phys.

O estudo reforça a ideia de que rituais esportivos, assim como cerimônias religiosas ou shows, moldam identidades e crenças. “O esporte não é só uma desculpa para se reunir; é um criador de identidade”, diz o antropólogo.

E a violência no futebol?

Apesar de celebrar o esporte das quatro linhas, o pesquisador lembra que é importante que as federações e clubes se preocupem com a segurança. E ele fala por experiência própria: Quando jovem, ele era membro de uma torcida organizada de um time de futebol da Grécia e foi emboscado por quatro homens e brutalmente atacado.

“Senti uma pancada na cabeça vinda de trás e, de repente, havia quatro homens me espancando e me chutando na cabeça, por todos os lados”, lembra. “Consegui escapar porque outro grupo de homens estava virando a esquina, usando o símbolo do meu clube, então eles os expulsaram.”

No Brasil, por exemplo, um levantamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mapeou os casos e vítimas desse fenômeno nas últimas três décadas. O estudo registrou 384 mortos em confrontos entre torcidas e/ou forças de segurança de 1993 a 2023. Desses casos, 11 ocorreram dentro de estádios.

Pensando nesse cenário, Xygalatas deixa claro que não defende menos paixão no futebol. Porém ele espera que seu trabalho ajude as pessoas a entender por que se importam tanto, em primeiro lugar. “Se observarmos o que nos torna humanos, percebemos que é nossa capacidade e necessidade de extrair significado de coisas que parecem sem sentido”, completa.

Gabriel Andrade

Gabriel Andrade

Jornalista que cobre ciência, economia e tudo mais. Já passou por veículos como Poder360, Carta Capital e Yahoo.

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