Estudo de nuvens revela características da superfície de Vênus

Nosso vizinho é bastante misterioso, mas cientistas estudaram suas nuvens para entender melhor como é o clima dele.

A atmosfera excepcionalmente espessa de Vênus é geralmente considerada uma barreira que nos impede de observar sua superfície torturada. Ao estudar mudanças sutis nos padrões de clima, no entanto, cientistas descobriram que essas nuvens também oferecem dicas importantes do que está por trás disso.

Um novo estudo publicado no Journal of Geophysical Research mostra que há outra forma de estudar a topografia deste misterioso planeta, e é observando as coisas que obscurecem a sua superfície: as nuvens. Usando infravermelho e radares, os pesquisadores conseguiram furar a atmosfera opressiva do nosso vizinho mais próximo e verificar o que há abaixo dela.

Assim como a Terra, Vênus apresenta cadeias de montanhas, canyons, vales e vastas planícies. E assim como nosso planeta, essas características da superfície são influenciadas pelo clima. O clima é bastante diferente em Vênus do que é na Terra, e agora os cientistas estão começando a entender o quão estranho ele é por lá.

Devido ao efeito estufa, a superfície de Vênus tem tórridos 450 graus Celsius. O vento no nível do solo é bastante lento, se movendo a cerca de 3 km/h. Mas as coisas são diferentes mais acima, quando os ventos chegam a 70 km/h, e onde as temperaturas atingem valores de -70 graus Celsius. Ainda acima, no topo da camada atmosférica, o vento é centenas de vezes mais rápido do que na superfície.

Usando o Venus Express Satellite, uma equipe internacional de astrônomos, incluindo um grupo do Instituto Max Planck na Alemanha, estudou três aspectos diferentes do clima nublado do planeta: a velocidade com a qual as nuvens circulam, a quantidade de água presa nessas nuvens, e o brilho dessas nuvens ao redor do espectro visual (particularmente em luz ultravioleta). Juntos, esses três aspectos podem ser conectados a características da superfície abaixo deles.

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Ilustração do comportamento proposto das ondas de gravidade nos terrenos montanhosos de Vênus. Imagem: ESA

Por exemplo, os pesquisadores descobriram uma área em particular de nuvens próxima ao equador que continha mais vapor de água do que o comum. Acontece que essa região “úmida” é localizada diretamente acima de uma montanha conhecida como Aphrodite Terra. Ar rico em água da atmosfera baixa está sendo jogado para cima das montanhas, causando as nuvens excepcionalmente úmidas. Os pesquisadores chamaram essa característica meteorológica de “Fontes de Aphrodite.”

Para explicar esse efeito, os pesquisadores apontaram um fenômeno conhecido como ondas de gravidade, que não devem ser confundidas com ondas gravitacionais (são coisas bem diferentes.)

“Ondas de gravidade são um fenômeno atmosférico que frequentemente vemos em partes montanhosas da superfície da Terra,” explicou Jean-Loup Bertaux do LATMOS (Laboratoire Atmosphères, Milieux, Observations Spatiales), e um dos autores do novo estudo, em um comunicado. “Falando grosseiramente, elas se formam quando ondulações de ar passam por superfícies irregulares. As ondas se propagam verticalmente para cima, crescendo em tamanho e amplitude, até que se quebram logo abaixo do topo das nuvens, como ondas do mar no litoral.”

Conforme as ondas quebram, elas empurram de volta os ventos de alta altitude em um movimento rápido que os retardam. Isso resulta em um sistema de circulação de vento que funciona como uma bomba de ar; ar rico em água é jogado para cima na atmosfera, criando uma “fonte” e uma pluma de vapor a favor do vento. Efeitos semelhantes são vistos em outras regiões montanhosas ao longo do equador de Vênus, onde as temperaturas mais quentes alimentam esse recurso climático em particular.

Essa pesquisa é importante – e não só por melhorar nosso entendimento de Vênus. Os novos detalhes também melhoram nosso entendimento do clima como um todo. Nosso planeta está aquecendo devido à liberação dos gases do efeito estufa, então é bom aprender o máximo possível sobre esse planeta sufocante e quente que é o nosso vizinho.

[Journal of Geophysical Research]

Imagem de topo: NASA

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