
Estudo descobre que cães e humanos ficam obesos pelo mesmo gene
Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, identificaram vários genes que fazem tantos os cães quanto os humanos ficarem obesos.
Em um estudo publicado na revista Science, os cientistas descobriram as bases biológicas para regulação de apetite e ganho de peso em cães e humanos.
Primeiramente, é importante ressaltar que o estudo, que começou em 2022, é o segundo de associação do genoma completo sobre obesidade em cães da história.
Contudo, o primeiro estudo, de menor escalar, não encontrou associações. Além disso, a mesma equipe de cientistas publicou um estudo em 2024 que descobriu que cães ficavam obesos por uma mutação no gene pró-opiomelanocortina (POMC).
O estudo de 2024, por sua vez, se baseia em uma pesquisa de 2016 realizada, novamente, pela mesma equipe de Cambridge em parceria com outras Universidades.
Além das Universidades de Cambridge e Liverpool, os três estudos obtiveram financiamentos de ONGs de direitos dos animais e de instituições controversas. Mas, vamos ao estudo e aos resultados para descobrir a associação entre cães e humanos obesos.
Como os genes fazem os cães ficarem obesos?
Após descobrir a mutação no gene POMC, a principal autora dos dois estudos anteriores, Eleanor Raffar, tinha certeza que não era apenas sobre mutações. “Nossos próprios estudos mostravam que a mutação do gene POMC não contava toda a história”, afirmou a cientista em um comunicado.
A conclusão da história ocorreu na tese de doutorado de Natalie Wallis, que teve Eleanor Raffar como orientadora.
Wallis, de Liverpool, foi a primeira pessoa que estudou em escola pública a obter um PhD em Cambridge. Curiosamente, sua orientadora chama-se Eleanor.
Dr Natalie Wallis, BSc PhD 👩🎓 A state school educated, first-generation university student from Liverpool, and now a PhD graduate from @Cambridge_Uni!!! I am filled with pride and gratitude for this life changing experience. (1/3) pic.twitter.com/keJUppXB9k
— Natalie Wallis (@NatalieJessic10) July 22, 2024
Com a base da pesquisa da orientadora, o estudo de Wallis focou em uma das raças de cães mais famosas por ficarem obesos: o labrador. A cientista obteve amostras genéticas de 241 labradores, bem com informações sobre a gordura corporal de cada cão e como eles se comportam no sentido de pedir por comida.
Além disso, Wallis e sua colega de PhD avaliaram como os donos, cuja maioria pertence a clubes caninos da Inglaterra, regulavam a dieta dos cães.
DENND1B: o nome do gene
Para identificar variações em genes associados à obesidade em cães, os cientistas examinaram 30 milhões de base de dados de DNA. O método permitiu encontrar regiões genômicas e genes específicos relacionados ao alto índice de condição corporal.
Aliás, o alto índice de condição corporal é o equivalente dos cães ao IMC (Índice de Massa Corporal) dos humanos e o estudo identificou cinco genes que fazem tanto os humanos quanto os cães ficarem obesos.
O mais significativo foi o DENND1B, gene que codifica uma proteína com domínio de expressão gênica diferencial, que pode formar tanto células normais como neoplásicas. Células neoplásicas, em poucas palavras, são tumores.
Mas o estudo identificou que o gene DENND1B é responsável por fazer cães e humanos ficarem obesos por afetar o receptor de melanocortina 4 (MC4R), responsável pela redução de apetite.
In a genome-wide association study of Labrador retrievers, researchers in Science have identified an obesity-related gene—DENND1B—that may also influence obesity in humans.
Learn more: https://t.co/1RbULXedUD pic.twitter.com/IWcb4rFFfE
— Science Magazine (@ScienceMagazine) March 6, 2025
Labradores com grande risco de obesidade, ou seja: com mais genes associados à condição, costumavam ser mais dengosos e só pensam em comer. Para resolver o problema, os donos precisam adotar uma postura mais assertiva, segundo o estudo.
Por outro lado, cães com menos riscos genéticos mantiveram dietas saudáveis, independente da postura dos donos. Portanto, não é uma mutação — conforme os pesquisadores acreditavam no estudo anterior —, mas, sim, a ação de uma proteína de um gene específico que fazem os cães ficarem obesos.
Inteligência = gordura… Mas em cães
O estudo também indica que o cruzamento seletivo de cães pode tornar os cães obesos. Por exemplo, cães-guias, que geralmente são labradores de cruzamento seletivos com treino e inteligência acima da média, podem ficar obesos.
Os mesmos traços genéticos para melhorar a cognição estão ligados ao risco de obesidade. O motivo: esses cães são mais fáceis de treinar porque são mais responsivos a recompensas alimentícias, ocasionando obesidade.
Estudo foca em cães obesos ou em humanos?
O estudo que descobre o gene que fazem os cães ficarem obesos também traça um paralelo com a obesidade humana. A partir daí, as coisas ficam meio turvas.
“Esses genes não são alvos imediatos para remédios para emagrecer porque eles controlam outros processos biológicos no corpo humano que podem não sofrer interferência. Mas os resultados enfatizam a importância das principais vias cerebrais para o controle do apetite e do peso”, afirma Alyce McClellan, coautora do estudo.
Apesar da fala da cientista, o departamento responsável pelo estudo recebe financiamento direto da Fundação de Pesquisa da Novo Nordisk no Reino Unido (NNUKRF).
A Novo Nordisk é a fabricante do Ozempic, que perde cada vez mais o mercado e apela para novas estratégias. Na última quarta-feira (28), a empresa anunciou que doará US$ 57 milhões à OMS em meio aos cortes dos EUA.
Além disso, a multinacional dinamarquesa anunciou descontos no Wegovy e no Ozempic em farmácias dos EUA após demitir o CEO e claramente buscando um novo comandante com visões norte-americanas.
E no novo estudo, assim como outros dois anteriores, os pesquisadores responsáveis pela supervisão, edição, revisão e financiamento têm vínculos com empresas interessadas no assunto.
Os seis pesquisadores responsáveis pela supervisão do estudo são consultores para marca de rações para cães, receberam financiamento da Novo Nordisk e da Eli Lilly.
Eleanor Raffan, que além de geneticista em Cambridge e presidente da ONG GoDogs, é consultora paga da marca de rações Purina.