Estudo destrói tese da propulsão de foguetes proposta na ficção científica

Pesquisadores da Áustria testaram a teoria da "propulsão Ramjet", proposta nos anos 1960. Entenda porque a ideia só é bonita no papel
Propulsão de foguetes
Imagem: NASA/Reprodução

A NASA já detectou alguns exoplanetas potencialmente habitáveis pelo Universo. O problema é que todos esses candidatos a se tornarem a Terra 2.0 estão anos-luz de distância de nós. E, por enquanto, não há tecnologia capaz de realizar viagens interestelares — e, consequentemente, checar se há vida universo afora. 

O que existem são teorias sobre foguetes que poderiam levar astronautas além da Via Láctea, as quais costumam ser representadas em obras de ficção científica. Uma das principais ideias envolve a “propulsão Ramjet”, idealizada em 1960 pelo físico americano Robert Bussard.

Agora, pesquisadores da Universidade Técnica de Viena, na Áustria, resolveram testar essa ideia. O estudo que analisa a viabilidade do método foi publicado na revista científica Acta Astronautica.

“No espaço interestelar, há gás altamente diluído, principalmente hidrogênio – cerca de um átomo por centímetro cúbico”, disse o físico e autor de ficção científica Peter Schattschneider, em comunicado. “Se coletássemos o hidrogênio na frente da espaçonave, como em um funil magnético, você poderia usá-lo para operar um reator de fusão e acelerar a espaçonave”.

Na prática

Vamos lá, aqui temos uma notícia boa e outra ruim. Para começar, os cientistas provaram que sim, o princípio básico do aprisionamento de partículas magnéticas realmente funciona. As partículas podem ser coletadas no campo magnético e conduzidas para um reator de fusão. Sendo assim, é possível alcançar uma aceleração considerável. 

Mas ainda não dá para comemorar. Para atingir um impulso de 10 milhões de newtons, equivalente ao dobro da propulsão principal de um ônibus espacial, seria necessário um funil magnético de quase 4 mil km – dois terços do comprimento da Grande Muralha da China.

Em proporções astronômicas pode parecer pouco — e até um problema possível de se superar. Mas não para por aí. Os campos magnéticos da espaçonave teriam que ter um comprimento de 150 milhões de quilômetros, o que equivale a distância entre a Terra e o Sol. 

Outras opções

Talvez você esteja pensando, “não é possível que ninguém teve outras ideias?”. Tiveram, na verdade, mas elas também não funcionam. 

O Projeto Orion da NASA, por exemplo, sugeria que fossem colocadas ogivas nucleares atrás do foguete. Dessa forma, elas seriam detonadas de maneira cronometrada. Teoricamente, essa espaçonave seria capaz de atingir 10% da velocidade da luz.

Mas seriam necessários milhares de dispositivos nucleares, o que exigiria uma nave gigante e muitos foguetes propulsores externos. Os rastros radioativos deixados pelo espaço também não pareciam boa ideia, claro.

Outra possibilidade foi levantada pelo o Projeto Daedalus: bolotas de deutério ou hélio-3 para gerar propulsão. As bolas gigantes seriam fundidas em uma câmara de reação, usando lasers de elétrons, e a energia resultante seria direcionada para a parte traseira para criar o impulso. O problema é que, para acelerar a espaçonave seria necessária uma quantidade enorme de propelente e tanques de propelente. Isso ocuparia todo o espaço de carga.

Moral da história? Se pudéssemos resumir tudo isso em apenas uma frase, seria: não devemos fazer uma viagem tão longa para fora da Terra tão cedo. Os astrônomos que lutem.

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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