Ciência

Estudo identifica mecanismo que aumenta apetite durante o frio

Neurônios são ativados pela combinação de perda energética e exposição ao frio; estudo é pontapé inicial para terapias de controle do apetite
Imagem: Thom Holmes/ Unsplash/ Reprodução

Diversos estudos já comprovaram que, quando expostos ao frio, mamíferos instintivamente queimam mais energia para manter a temperatura corporal estável. Isso, por sua vez, leva a um aumento no apetite.

Contudo, o mecanismo específico que controla isso era desconhecido. Mas não mais: agora, um novo estudo publicado na revista Nature identificou como isso acontece. 

Segundo a pesquisa, um conjunto de neurônios específicos funcionam como um “interruptor” para esse comportamento.

Entenda a pesquisa

Durante o estudo, os pesquisadores utilizaram uma técnica chamada de “clareamento de cérebro inteiro”. Ela consiste em processos que permitem tornar um cérebro inteiro translúcido para facilitar sua visualização.

Além dessa técnica, outro método utilizado foi a de microscopia de folha de luz. 

Em geral, os camundongos aumentaram a busca por alimentos apenas após seis horas da exposição ao frio. Isso sugere que o apetite não é simplesmente um resultado direto da sensação de temperatura.

Dessa forma, eles puderam comparar a atividade dos neurônios em todo o cérebro durante condições de frio e de calor. 

Os pesquisadores observaram que, enquanto a maioria da atividade dos neurônios do cérebro era muito menor no frio, partes de uma região chamada tálamo mostraram maior ativação.

A partir de então, a equipe focou em um conjunto específico de neurônios: o núcleo xifóide do tálamo de linha média. Assim, puderam perceber que a atividade neuronal aumentou pouco antes dos camundongos saírem do torpor causado pelo frio para procurar comida. 

Isso indica que esses neurônios respondem a um déficit de energia induzido pelo frio, não ao frio em si.

Em outro momento da pesquisa, os cientistas ativaram artificialmente o núcleo xifóide. Como consequência, os camundongos aumentaram a busca por alimentos, mas não outras atividades. 

Da mesma forma, quando a equipe inibiu a atividade desses neurônios, os camundongos diminuíram a busca por alimentos.

Por fim, em um último conjunto de experimentos, a equipe mostrou que esses neurônios do núcleo xifóide projetam-se para uma região cerebral chamada núcleo accumbens. 

Essa é uma área há muito tempo conhecida por seu papel na integração de sinais de recompensa e aversão para orientar o comportamento. E isso inclui o comportamento alimentar.

Na prática, o que isso pode mudar?

“Isso é um mecanismo adaptativo fundamental em mamíferos e direcioná-lo com tratamentos futuros pode permitir o aprimoramento dos benefícios metabólicos do frio ou de outras formas de queima de gordura“, disse o autor do estudo, Li Ye, ao SciTechDaily.

Agora, os autores do estudo querem seguir as pesquisas na área. “Um de nossos principais objetivos agora é descobrir como desvincular o aumento do apetite do aumento do gasto de energia”, disse Ye. 

Eles também pretendem entender se o mecanismo de aumento do apetite induzido pelo frio faz parte de um algo mais amplo. Por exemplo, se faz parte do mesmo mecanismo que o corpo utiliza para compensar o gasto extra de energia após o exercício.

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Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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