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Os últimos estudos sobre COVID-19: relação com psicose e potencial de crescimento da pandemia

Novos estudos dão ideia do que esperar do COVID-19. Um fala sobre problemas psicóticos, outro da extensão da pandemia e o terceiro dá esperança sobre imunidade.

Pessoas em rua lotada na França. Crédito: Getty Images

Pessoas em rua lotada na França. Crédito: Getty Images

Aqui vão alguns dos últimos desenvolvimentos de pesquisas sobre COVID-19, incluindo se pessoas podem desenvolver imunidade, os efeitos do novo coronavírus no cérebro, e o potencial da pandemia crescer ainda mais do que já sabemos.

COVID-19 e psicose

A gama completa de efeitos sobre a saúde do coronavírus, que infectou pelo menos 4,5 milhões de pessoas e matou mais de 300 mil em todo o mundo, levará anos para descobrirmos. Mas em um novo artigo publicado neste mês, pesquisadores da Austrália e do Reino Unido concluíram que uma pequena fatia de pessoas provavelmente sofrerá problemas graves de saúde mental como resultado da pandemia, incluindo até psicose.

O artigo, publicado na Schizophrenia Research, é uma revisão da literatura médica em torno de psicose e pandemias.

Os pesquisadores descrevem relatos de psicose aguda documentada durante pandemias passadas de gripe. Eles também citaram pesquisas que vinculam um risco maior de esquizofrenia entre crianças cujas mães contraíram a gripe quando grávidas durante a pandemia de 1918-1919. E alguns dos tratamentos usados para salvar as pessoas gravemente doentes com COVID-19, como os esteróides, também foram associados a uma chance ligeiramente maior de psicose posterior.

Mas não é apenas o próprio coronavírus que pode ser um fator de risco para psicose; o estresse da pandemia, isolamento e crise econômica também podem contribuir para colapsos mentais.

Esses efeitos não serão universais e, de fato, em alguns lugares, a pandemia pode até gerar um maior senso de comunidade, à medida que as pessoas se unem para combater um inimigo comum.

Um risco adicional de psicose de COVID-19 provavelmente será muito pequeno para qualquer pessoa e só é perceptível quando se olha para o nível da população. Mas para alguns de nós, é possível que o COVID-19 não afete apenas o corpo, mas também a mente, alertam os autores.

“A principal descoberta de nossa análise rápida é que existem evidências moderadas que sugerem que um número pequeno, mas importante, de pacientes desenvolverá psicose relacionada ao coronavírus que provavelmente está associada à exposição viral ou esteróides, vulnerabilidade pré-existente e estresse psicossocial”, escreveram eles.

O tamanho da pandemia na França e na Espanha

Uma das perguntas mais importantes sobre o COVID-19 é a sua prevalência, ou seja, quantas pessoas foram infectadas até agora.

É muito provável que sobreviver a uma infecção forneça imunidade contra o vírus no futuro, pelo menos por enquanto. Se a porcentagem de pessoas que já tinham COVID-19 já é alta, faz sentido começar a liberar medidas restritivas que visam retardar sua propagação. Infelizmente, a pesquisa desta semana é a mais recente a sugerir que não estamos nem perto de ver o pior dos efeitos do novo coronavírus.

Em um estudo publicado na última quarta-feira (13) na Science, pesquisadores tentaram estimar o ônus da infecção na França, um dos países mais atingidos pela pandemia.

Para criar seu modelo, eles se basearam nos dados do surto a bordo do navio Diamond Princess, que teve mais de 700 casos e 14 mortes. Como o surto do navio foi isolado e meticulosamente rastreado do começo ao fim, isso provavelmente fornece uma sensação do quanto o vírus é infeccioso, o risco de vida que ele proporciona e sua fatalidade em uma população.

Mapeando esses dados para o surto relatado na França, incluindo hospitalizações e mortes, os pesquisadores estimaram que cerca de 4,4% do país contraíram o vírus até 7 de maio. Eles também estimaram que a taxa geral de mortalidade em torno de 0,7%, mas que pode chegar a 10% em pessoas com mais de 80 anos.

Os números não são muito surpreendentes, pois se alinham a outras pesquisas, incluindo estudos na França que usaram exames de sangue para procurar anticorpos das pessoas contra o vírus, indicativos de terem sobrevivido a uma infecção anterior. Na quarta-feira, o governo da Espanha divulgou seus próprios dados preliminares de um estudo de anticorpos em andamento, envolvendo atualmente 60 mil residentes. Na capital Madri, estima-se que 11% das pessoas já contraíram a doença.

Essas descobertas, se forem precisas, não são um bom presságio para o mundo em geral.

Em 15 de maio, a França e a Espanha eram os países em quarto e quinto lugar, respectivamente, no número de mortos, com ambos com cerca de 27 mil óbitos. Portanto, é provável que nenhum país tenha tido muito mais exposição ao vírus, o que significa que a pandemia ainda pode crescer muito, especialmente se as áreas começaram a suspender a quarentena ou lockdown sem planos para impedir novas ondas de infecção.

Em outras palavras, a imunidade de rebanho não nos salvará tão cedo, e é provável que muito mais pessoas morram se essa estratégia for seguida.

“A imunidade da população parece insuficiente para evitar uma segunda onda, se todas as medidas de controle forem liberados no fim do lockdown”, escreveram os autores.

Imunidade de células T (linfócitos T) ao coronavírus

Aqui vão algumas notícias positivas para fecharmos este giro pelos principais estudos sobre COVD-19.

Muito foi falado sobre a importância de se ter anticorpos contra o coronavírus, que podem proteger uma pessoa da reinfecção. Mas a imunidade é mais complicada do que isso.

Os anticorpos são apenas uma das armas que nosso corpo usa para combater os germes que encontramos antes. Outros são certos tipos de células T, chamadas células CD8+ e CD4+.

Essas células, como anticorpos, são criadas e codificadas especificamente para atingir um vírus que aparece novamente. Alguns vírus, no entanto, encontraram maneiras de evitar essa resposta imune e não estava clara se o mesmo poderia acontecer com o coronavírus.

Um novo estudo, publicado na Cell nesta semana, sugere que provavelmente não será uma grande preocupação com o COVID-19. Os pesquisadores estudaram amostras de sangue colhidas em 20 pacientes não hospitalizados e recuperados e sem sintomas há pelo menos 20 dias. Todos os pacientes pareciam transportar células CD4+ específicas sintonizadas com o coronavírus, enquanto 70% transportavam células CD8+ específicas; ele também tinham anticorpos para o vírus.

As células CD4+, ou células T auxiliares, são cruciais para a imunidade, porque ativam ou ajudam outras células imunológicas, incluindo as responsáveis por bombear anticorpos, enquanto as células CD8+ buscam e matam ativamente seus germes visados. Alguma quantidade de ambos os tipos de células no estudo também respondeu à proteína de pico encontrada no coronavírus.

Isso é importante, porque muitas vacinas potenciais contra o COVID-19 esperam imitar a proteína spike, por isso sugere que essas vacinas serão capazes de criar uma forte resposta imune.

Considerando outras pesquisas, este é um sinal inicial, mas bom, de que a maioria das pessoas pode desenvolver imunidade com facilidade. Ainda não está claro se essa imunidade será duradoura ou se há exceções significativas à regra, mas, no entanto, são notícias positivas.

Os pesquisadores também encontraram evidências de que nossos encontros com outros coronavírus menos perigosos — aqueles que simplesmente causam o resfriado comum — podem ter preparado melhor algumas pessoas contra o COVID-19.

Mais pesquisas serão necessárias para provar se a presença dessas células mais antigas realmente fornece alguma proteção, mas é um fator possível que pode ter um “impacto substancial no curso geral da pandemia e na dinâmica da epidemiologia nos próximos anos”, escreveram os pesquisadores.

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