EUA aprovam injeção contra obesidade que é considerada “divisora de águas”

Remédio tem eficácia comparada a cirurgia bariátrica.
Vacina
Imagem: Getty Images

Na última sexta-feira (4), a Food and Drug Adminstration (FDA, na sigla em inglês — uma espécie de Anvisa dos EUA) aprovou uma nova medicação injetável para tratar obesidade. Em testes clínicos foi comprovado que a droga, batizada de Wegovy, consegue ajudar as pessoas a perderem quantidades significativas de peso.

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O medicamento foi aprovado para o gerenciamento crônico de peso em adultos que sejam classificados como obesos ou em sobrepeso com ao menos uma comorbidade relacionada ao peso — como diabetes tipo 2. Ele deverá ser utilizado junto com prescrição de dieta de restrição calórica e exercícios. A injeção deve ser tomada uma vez por semana.

“A aprovação [do medicamento] oferece a adultos obesos ou com sobrepeso uma opção de tratamento benéfico para ser incorporada em programas de gerenciamento de peso”, disse John Aharretts, diretor da Divisão de Diabetes, Desordens Lipídicas e Obesidade no Centro de Avaliação e Pesquisa de Medicamentos da FDA.

O ingrediente ativo da Wegovy é a semaglutida, uma droga já existente e desenvolvida pela Nova Nordisk, utilizada para controlar diabetes tipo 2. A semaglutida é uma versão sintética do hormônio peptídeo semelhante a glucagon 1 (GLP-1), que ajuda a regular nossa sensação de fome, além do metabolismo.

Em pessoas com diabetes, o remédio acelera a produção de insulina, o que mantém o açúcar sanguíneo sob controle. Mas a pesquisa revelou que pessoas tomando semaglutida e outros análogos ao GLP-1 tendem a perder mais peso — o que incentivou a Novo Nordiks a testar uma dose maior (de 2,4 miligramas) especialmente para o tratamento de obesidade.

Este é o primeiro medicamento desde 2014 que os EUA aprovam para obesidade. Mas ele parece ser muito mais eficiente do que as drogas existentes, quase rivalizando em eficácia com a cirurgia bariátrica. Isso fez com que alguns especialistas tratassem o remédio como um “divisor de águas”.

No maior dos testes, que durou 68 semanas, voluntários com obesidade e que tomaram a semaglutida perderam, em média, 12,4% mais do peso corporal inicial do que pessoas que haviam tomado o placebo (ambos emagreceram porque mantiveram uma dieta saudável e exercícios). Outros três ensaios mostraram um padrão similar de melhora na perda de peso com o medicamento.

Donna Ryan, pesquisadora de obesidade e professora emérita do Centro de Pesquisa Biomédica Pennington, em Louisiana, EUA, disse ao Gizmodo, por e-mail, que os resultados dos testes foram mais do que suficientes para conquistar a aprovação. “Temos muita experiência do lado de segurança da molécula, e a eficácia está inquestionável”, disse Ryan, que não está ligada aos testes usados pela FDA para a aprovação. “Com 42% dos americanos adultos tendo IMC de obeso, precisamos de ferramentas seguras e eficazes”.

A semaglutida, como qualquer medicamento, tem efeitos colaterais. Alguns dos mais comuns incluem náusea, diarreia, vômitos, constipação, dor abdominal, dor de cabeça, fatiga e indigestão, principalmente nas primeiras semanas ou enquanto se ajusta a uma nova dose. A FDA irá exigir um alerta indicando o risco potencial de tumores de células C da tireoide — risco que só foi observado em animais, mas não em humanos. Pessoas com risco de desenvolver certos tipos de câncer de tireoide serão advertidas para não utilizarem a droga.

A aprovação do Wegovy não é só importante para a droga em si, mas para o que ela pode significar para a evolução do tratamento da obesidade. Há outros análogos ao GLP-1 sendo testados em ensaios clínicos que estão perto de serem aprovados. Há também pesquisas com outros hormônios intestinais que ajudam a manter um metabolismo saudável. Alguns estudos iniciais já mostraram que talvez seja possível usar esses medicamentos junto com a semaglutida para conseguir resultados ainda melhores.

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De acordo com Ryan, é provável que o Wegovy seja só o primeiro de vários tratamentos a chegar ao público. “O futuro é brilhante. Os GLP-1s são só os primeiros — mais tarde estudaremos outros peptídeos intestinais, bem como outros sinais entre o intestino e o cérebro”, disse.

Infelizmente muitos ainda vem a obesidade como uma questão de força de vontade ou falha pessoal. Mas alguns especialistas em obesidade defendem que a eficácia de novas drogas como a semaglutida podem mudar a percepção das pessoas sobre a obesidade e ajudar médicos a tratar como o distúrbio metabólica que é.

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