EUA aprovam primeiro remédio feito especificamente para depressão pós-parto

O medicamento deve estar disponível ao público nos Estados Unidos no final de junho e é o segundo tratamento aprovado para depressão pela FDA neste mês
bingngu93/Pixabay

As futuras mães nos Estados Unidos que infelizmente sofrerão de depressão pós-parto têm finalmente um tratamento aprovado especificamente para elas. Esta é a segunda droga aprovada neste mês pela FDA (equivalente norte-americana à Anvisa) para tratar a depressão de uma maneira drasticamente diferente. Mas o tratamento não virá sem sérias restrições ao seu uso, nem será necessariamente barato.

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Nesta semana, a FDA aprovou o Zulresso, da Sage Therapeutics, para o tratamento da depressão pós-parto em mulheres adultas. Esse é o primeiro medicamento adaptado especificamente para a depressão pós-parto, que, estima-se, afeta 400 mil mulheres anualmente nos Estados Unidos — no Brasil, o problema acomete mais de 25% das mães, segundo o portal do Ministério da Saúde. De acordo com Samantha Meltzer-Brody, uma das principais investigadoras dos ensaios clínicos do Zulresso submetidos ao FDA, essa é uma necessidade essencial para esse grupo específico.

“Este medicamento é muito importante, porque os tratamentos atuais podem levar de semanas a meses para funcionar. E a depressão pós-parto pode ser um transtorno tão devastador para a mãe, seu bebê e sua família que tem havido uma grande necessidade de tratamentos que funcionem rapidamente”, disse Meltzer-Brody, que é também diretora clínica do Programa de Psiquiatria Perinatal da Universidade da Carolina do Norte, ao Gizmodo. “Isso pode tratar as mulheres de forma rápida e diferente de qualquer outra maneira que tenhamos sido capazes de fazer antes.”

O ingrediente ativo do Zulresso é chamado de brexanolona, a versão sintética de um esteroide produzido naturalmente chamado alopregnanolona. Este interage com um receptor chave no cérebro que ajuda a controlar o fluxo do principal neurotransmissor inibitório do corpo, o GABA. A pesquisa mostrou que as mulheres têm níveis elevados de alopregnanolona durante a gravidez (juntamente com outro hormônio, a progesterona, que se decompõe em alopregnanolona). Porém, após o parto, os níveis de alopregnanolona caem nas mulheres, e é essa queda repentina, especulam os pesquisadores, que pode desestabilizar e diminuir os níveis de GABA no cérebro, o que, em seguida, contribui para a depressão pós-parto e a ansiedade.

A alopregnanolona tem sido ligada a efeitos antidepressivos já há algum tempo, mas tem sido um desafio formular e estudar potenciais tratamentos baseados nela. Graças à sua composição química, ela não é facilmente absorvida pelo organismo quando tomada por via oral. Para contornar essa limitação, o Zulresso é uma versão injetável do esteroide.

Em ensaios clínicos analisados pela FDA, foi demonstrado que os sintomas melhoram em média mais em pacientes com depressão moderada a grave do que naquelas que receberam uma injeção de placebo juntamente com antidepressivos padrão (devido à forma como eles funcionam, os efeitos dessas drogas teriam levado semanas para entrar em ação). Mais mulheres utilizando Zulresso também relataram uma remissão completa de sua depressão em comparação com o grupo do placebo. Essas melhorias no humor foram relatadas horas ou dias após o início do tratamento e duraram pelo menos 30 dias após o tratamento.

Assim como com o Spravato, o novo spray nasal à base de cetamina para depressão aprovado no início de março, a FDA colocou algumas condições sérias sobre o uso de Zulresso. O tratamento requer uma única infusão durante um período de 60 horas, ou dois dias e meio. E, por causa de efeitos colaterais como sonolência, tontura e, mais perigosamente, desmaios, as mulheres só podem tomar Zulresso em centros médicos certificados, incluindo hospitais, onde elas terão que ser monitoradas como pacientes internadas durante todo o tratamento.

No entanto, os custos financeiros e pessoais de uma hospitalização de dois dias podem dificultar a disponibilidade do medicamento, assim como os seus custos diretos. A Sage Therapeutics disse que a infusão irá custar cerca de US$ 34 mil por paciente, antes dos descontos serem aplicados. E, embora esperem que as companhias de seguros o cubram, o nível de cobertura e os custos imediatos que ficam serão obviamente diferentes de paciente para paciente.

De acordo com Meltzer-Brody, a importância do Zulresso vai além da droga em si. A Sage Therapeutics está desenvolvendo outro medicamento que afeta o GABA, semelhante à brexanolona, mas que pode ser tomado oralmente — outras empresas farmacêuticas estão fazendo o mesmo. Essas drogas à base de GABA podem não só funcionar para mulheres com depressão pós-parto, mas para outros grupos populacionais também, incluindo pessoas com depressão crônica que não responderam a tratamentos convencionais.

“A depressão pós-parto pode ser a janela para o tratamento mais amplo da depressão, com novas drogas e novas terapias. E eu acho que isso é um grande passo adiante para o campo”, disse Meltzer-Brody.

O medicamento oral experimental de Zulresso está sendo submetido a ensaios de Fase 3, que até agora revelaram resultados promissores. Meltzer-Brody também pediu a realização de estudos a longo prazo sobre o remédio, incluindo quanto tempo os seus efeitos podem durar após os primeiros 30 dias. O medicamento deve estar disponível ao público no final de junho, disse a empresa em seu anúncio sobre a aprovação da FDA.

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