EUA podem passar por longo platô de coronavírus, com queda lenta dos números

No início desta semana, os EUA alcançaram outro triste marco na pandemia de COVID-19, com o país relatando agora mais de 2 milhões de casos confirmados da doença viral, além de pelo menos 115 mil mortes. À medida que o verão se aproxima e grande parte do país suspende suas restrições ao distanciamento, é importante […]
Ilustração: Jim Cooke

No início desta semana, os EUA alcançaram outro triste marco na pandemia de COVID-19, com o país relatando agora mais de 2 milhões de casos confirmados da doença viral, além de pelo menos 115 mil mortes.

À medida que o verão se aproxima e grande parte do país suspende suas restrições ao distanciamento, é importante ter em mente que podemos não ver uma temida segunda onda imediatamente, como muitos temem, pelo menos não em todo o país.

Em vez disso, os EUA podem estar diante de um platô lento e agonizante no futuro próximo, em que surtos surgem em alguns lugares e desaparecem lentamente em outros, deixando o país com um número ainda terrivelmente alto de novos casos e mortes todos os dias.

Mas mesmo que as coisas não melhorem nacionalmente, não se deve desistir de conter o vírus o máximo possível, e há medidas que todos possam tomar para manter entes queridos a salvo.

A segunda onda que não aconteceu (ainda)

Há semanas, um tipo recorrente de mensagem aparece nas mídias sociais: espere duas semanas pela enorme onda de novos casos a aparecer (uma referência ao período de incubação típico do vírus).

Posts assim geralmente aparecem em resposta a artigos de notícias que relatam, por exemplo, que um participante infectado que visitou o Lago de Ozarks no Missouri durante o feriado do Memorial Day, quando o lugar estava lotado.

No entanto, quando você checa essas histórias específicas, vê que, na verdade, isso não aconteceu.

Até agora, somente um caso de COVID-19 foi vinculado às multidões do Memorial Day que foram fotografadas amontoadas e sem máscaras no Ozarks, mesmo levando em conta que uma pessoa desenvolveu sintomas enquanto visitava o local.

Uma semana antes dessas festas, também foram encontrados dois cabeleireiros no Missouri que contraíram o vírus e podem ter potencialmente exposto 140 de seus clientes a ele. Mais uma vez, as autoridades de saúde disseram nesta semana que não foi relatado nada além de casos suspeitos entre esses clientes nas semanas seguintes — uma ressalva é que apenas 46 pessoas foram realmente testadas para o vírus, todas com resultados negativos.

E, apesar dos protestos em massa que começaram em estados como Nova York em resposta ao assassinato de George Floyd pela polícia em 25 de maio — já se passaram duas semanas desde os primeiros protestos –, Nova York continua relatando quedas nos números de casos, hospitalizações e mortes.

O condado de Hennepin, Minnesota, onde Floyd foi morto e onde começaram os protestos, teve menos casos diários nas duas semanas desde então, assim como outras áreas onde grandes protestos foram realizados.

Entendendo melhor como o vírus se espalha

Existem várias razões que podem explicar por que essas reuniões de massa ainda não levaram a um surto explosivo — razões que reduzem, da mesma forma, as chances de uma segunda onda acontecer em todo o país.

Por um lado, as pesquisas estão começando a sugerir que a maioria das pessoas infectadas não transmite o vírus a muitas pessoas. Em vez disso, os chamados eventos de superpropagação podem ser responsáveis ​​pela maior parte dos casos em um surto ou cluster (grupo de pessoas com o vírus e ligadas umas as outras de alguma forma), onde apenas uma pessoa ou algumas poucas pessoas transmitem o vírus a muitos outros.

Um super-espalhador não é inerentemente mais contagioso do que o resto das pessoas; em vez disso, a disseminação pode se resumir a variáveis ​​externas. A mesma pessoa que trabalha silenciosamente em um cubículo o dia inteiro pode não infectar ninguém, mas pode espalhar o vírus facilmente para o resto do coral em que ela canta à noite, por exemplo.

Portanto, a chance de uma única pessoa infectada causar um surto enorme é relativamente baixa emse ela permanecer isolada e provavelmente depende muito de onde e como essa pessoa interage com outras pessoas.

Outro fator em consideração é o clima. Muitos poucos casos foram relacionados ao ar livre, provavelmente porque a luz do sol e o vento parecem ter um efeito modesto, mas real, na redução da transmissão.

As máscaras também parecem desempenhar um grande papel na redução do risco de transmissão. Todas as pessoas envolvidas no possível surto de salão de cabeleireiro do Missouri usavam máscaras enquanto cortavam cabelos ou eram atendidas, por exemplo, o que pode ter ajudado a evitar o contágio.

A “colcha de retalhos” da pandemia continua

É claro que esses não-eventos isolados não tiram o fato de que os EUA ainda estão em uma epidemia nacional. Mesmo com o número diário de mortos caindo lentamente desde o pico ocorrido em abril, o país ainda registra cerca de 20 mil novos casos por dia — um número que não mudou muito desde meados de maio.

Parte desse platô pode ser atribuída ao aumento de testes, que podem estar encontrando casos mais leves que não levam a hospitalizações e mortes. Certamente há estados em que a situação ficou muito melhor, e menos casos novos estão sendo encontrados do que antes, como Nova York e a maior parte do nordeste. Mas existem vários estados, incluindo Texas, Arizona e Carolina do Norte, onde as hospitalizações estão aumentando. Esses estados, talvez não por coincidência, foram alguns dos primeiros a suspender lockdowns e restrições ao distanciamento.

É absolutamente plausível que esses ou quaisquer futuros surtos até o final do ano possam piorar a ponto de grande parte dos EUA acabar na mesma situação em que Nova York estava em abril, quando os hospitais das áreas mais atingidas eram escassos e centenas de moradores morriam todos os dias por COVID-19.

Mas também é possível que continuemos a ver um fluxo e refluxo de epicentros em algumas partes do país e nunca uma segunda onda completa. Como escreveu Ed Yong na Altantic, é a “colcha de retalhos” da pandemia: em um mesmo momento, diferentes partes do país passam por experiências completamente distintas.

Ainda há muito a ser feito

Esses epicentros podem surgir em parte por causa de uma resposta mal gerenciada pelos estados que abriram o comércio e as atividades econômicas cedo demais sem precauções suficientes, como um programa robusto de testes e rastreamento de contatos para interromper os surtos antes de começarem.

Mas eles também podem ser reprimidos ou impedidos pelas próprias pessoas, caso elas estejam comprometidas o suficiente para usar máscaras quando estão em lugares lotados; por empresas e clientes que adotarem regras consistentes para manter distância física mesmo quando se abrem; e empregadores que permitirem que as pessoas continuem trabalhando em casa ou fiquem em casa quando se sentirem doentes.

Os EUA não estão nem perto do pós-pandemia, como alguns se apressaram para chamar neste período. Uma média de 800 pessoas no país ainda estão morrendo todos os dias; inúmeras outras ficarão com problemas de saúde remanescentes ou dívidas enormes por causa das hospitalizações. No outono, o vírus poderá ter matado 200 mil americanos, quase certamente tornando-o mais mortal do que qualquer outra causa além de ataques cardíacos e câncer não relacionados.

Mas há ações a ser tomadas contra o coronavírus. Já se sabe como diminuir o risco de pegá-lo e espalhá-lo; cientistas estão compreendendo melhor sua biologia; e esperamos que em breve tenhamos ferramentas melhores para ajudar nos casos mais graves ou impedir novos. É possível se proteger mantendo distância sempre que possível, usando máscaras quando não é possível, fazendo testes e praticando o isolamento ao confirmar a infecção.

As pandemias acontecem porque as pessoas são inevitavelmente atraídas umas pelas outras. Mas é esse mesmo espírito coletivo que também fez a maioria de nós querer sacrificar os momentos perto de nossos amigos durante esses últimos meses — sacrifícios que já podem ter salvado milhões de vidas em todo o mundo. As coisas não foram e não serão fáceis por mais algum tempo, mas é possível superar isso.

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