
EUA x China: novo tarifaço de Trump tensiona corrida espacial
O tarifaço de Trump, que ampliou a guerra comercial entre EUA e China e impactou diversas indústrias e o setor espacial, ganhou mais um capítulo na quarta-feira (9).
Pela manhã, o presidente dos EUA anunciou uma pausa nas tarifas recíprocas por 90 dias na maioria dos países. No entanto, o break não inclui a China. Pelo contrário, o tarifaço de Trump aumentou os impostos em importações da China para 125% após o país asiático contragolpear.
Antes do anúncio de Trump, a China ampliou o imposto sobre produtos dos EUA em 84% — que entram em vigor nesta quinta-feira (10).
No entanto, os impactos do tarifaço da China não afetariam a economia dos EUA se comparado às ações de Trump. A China importa US$ 160 bilhões de bens dos EUA, enquanto exporta(va) mais de US$ 400 bilhões.
Por outro lado, China pode travar a guerra comercial em outras frentes, como agricultura, Hollywood – a China é um dos principais mercados do cinema dos EUA – e na indústria espacial.
Esta última, aparentemente, já começou. Após o anúncio do aumento do tarifaço de Trump, o governo da China anunciou restrições comerciais em 18 empresas dos EUA diretamente ligadas ao setor espacial, acirrando a corrida 2.0.
China sanciona empresas do setor aeroespacial após tarifaço
Doze das 18 foram adicionadas em uma lista que proíbe exportação de itens, tecnologias e softwares com aplicação civil e militar. As outras seis foram consideradas “entidades não confiáveis”, permitindo que a China tome medidas punitivas contra instituições estrangeiras.
As seis “entidades não confiáveis” incluem a Shield AI e a Sierra Nevada. A última é uma das principais parceiras da NASA e construirá, por exemplo, o próximo avião do “juízo final” dos EUA.
As empresas não possuem muitas operações na China, mas dependem do país para funções de logística, montagem e abastecimento. Mas esse não é o primeiro – e nem o último – exemplo de como o tarifaço de Trump vai afetar a corrida espacial entre EUA e China.
Elon Musk
Desde o início do tarifaço de Trump, o setor espacial de dezenas de países sofreu com as sanções comerciais à China por dependerem do país, que controla boa parte de elementos raros da Terra.
A lista de elementos é grande, mas podemos citar o gadolínio, essencial para criar escudos contra a radiação e que a China controla todas as reservas. As agências e empresas também são numerosas, como a ESA e a NASA – que já enfrenta problemas no orçamento – e as grandes empresas, como a Airbus e, obviamente, a SpaceX.
Aliás, no último sábado (5), o dono da SpaceX e amigo próximo de Donald Trump pediu ao presidente para reconsiderar o “tarifaço” à China, não porque ele se importa com a posição dos EUA na corrida espacial.
As intenções de Elon Musk, que teve sua primeira divergência com o presidente, envolvem reverter a queda livre de sua empresa de carros elétricos na China.
O bilionário usou uma de suas empresas para chamar Peter Navarro, a mente por trás do tarifaço, de “idiota”. Musk também se manifestou contra o tarifaço em países da Europa. Veja:
Tarifaço de Trump: impacto na NASA, na SpaceX e na corrida espacial
Nesta quarta-feira (9), além do “tarifaço de Trump”, outro momento da política dos EUA marcou um novo capítulo na corrida espacial contra a China e outro baque nas relações próximas de Elon Musk.
Jared Isaacman, o bilionário que se tornou o primeiro civil a realizar uma caminhada espacial, participou de uma audiência no congresso dos EUA. Isaacman é a escolha de Trump para assumir o cargo de chefe da NASA por sua proximidade com Elon Musk e seus investimentos na SpaceX.
Durante a audiência, Isaacman afirmou que, apesar de seu vínculo com Musk e com a SpaceX, Elon Musk não teria influência nas decisões da NASA.
“Eu quero ser bastante claro: minha lealdade é para com esta nação, a NASA e a sua missão que mudará o mundo. A SpaceX é uma empresa que presta serviços. A NASA é o cliente. Eles trabalham para nós e não o contrário”, disse Isaacman.
Veja:
Além disso, Isaacman contrariou ainda mais as vontades de Elon Musk. O dono da SpaceX usa sua influência política para priorizar a missão à Marte e deixar de lado o programa Artemis.
Contudo, de acordo com o outro bilionário, a NASA vai focar nas duas missões.
Ao responder a uma pergunta do senador republicano Ted Cruz, Isaacman ressaltou que a NASA deve manter o programa Artemis citando riscos de os EUA perderem a corrida espacial para a China, citando os avanços do país mesmo no cenário do tarifaço.
Porém, o tarifaço de Trump, os cortes na NASA e o tratamento “convencional” pela agência podem dificultar os planos da SpaceX — que são bastante importantes para os EUA na corrida espacial contra a China.