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Experimento com nanopartículas no espaço pode ajudar em novos tratamentos antienvelhecimento

Estação Espacial Internacional testa novos antioxidantes que podem auxiliar no tratamento de doenças relacionadas ao processo de envelhecimento

Partículas nanoceria (verde) misturando-se com células (azul)

Partículas nanoceria (verde) misturando-se com células (azul). Crédito: Gianni Ciofani

Um novo experimento a bordo da Estação Espacial Internacional vai testas os efeitos da microgravidade em células vivas misturadas com nanopartículas de cerâmica. O teste pode resultar em novos antioxidantes poderosos para o tratamento de efeitos degenerativos causados pela exposição prolongada ao espaço assim como de diversas doenças relacionadas ao processo de envelhecimento.

Os materiais necessários para a realização da pesquisa, chamada de “experimento Nano Antioxidantes”, chegaram à estação espacial na manhã do dia 6 de maio, a bordo da cápsula de carga SpaceX Dragon, segundo release divulgado pela Agência Espacial Europeia.

O propósito do projeto é encontrar novas formas de estimular as células a combaterem influências negativas da microgravidade nos músculos e ossos de astronautas durante missões de longa duração. Um bônus dessa experiência é que a mesma tecnologia poderia ser utilizada aqui na Terra para tratamentos em idosos e pessoas com doenças degenerativas dos músculos.

As nanopartículas de cerâmica, desenvolvidas em laboratório e chamadas de “nanoceria”, serão adicionadas a uma cultura de células vivas e mantidas à temperatura de 30°C por seis dias. As nanoceria foram desenvolvidas para imitar a forma como enzimas agem em organismos vivos e – caso o experimento funcione – proteger organismos contra os danos causados pelo estresse oxidativo.

O cientista responsável pelo projeto, Gianni Ciofani, do Instituto de Tecnologia Italiano, está utilizando o ambiente de microgravidade na Estação Espacial Internacional para estudar como a ausência de peso influencia o desenvolvimento dessa cultura.

“Esses nanomateriais quimicamente desenvolvidos em nossos laboratórios são muito promissores para sua atividade antioxidante”, afirmou Ciofani em nota divulgada pela ESA. “As partículas podem proteger organismos de danos causados pelo estresse oxidativo”, acrescentando que “a nanotecnologia já tem sido estudada na Terra, mas sua aplicação no espaço ainda está em fase inicial”.

A equipe de Ciofani está estudando o papel que a gravidade exerce na produção de espécies de oxigênio reativo (ROS, em inglês), tanto a nível molecular como a nível celular, de acordo com a NASA. Uma abundância de ROS, também conhecidos como radicais livres, nas células pode danificar o DNA e as proteínas, levando a doenças relacionadas ao envelhecimento e, em alguns casos, à morte. Os antioxidantes inibem o processo de oxidação, portanto são capazes de prevenir os efeitos causados por esse acúmulo de radicais livres.

Para realizar o experimento, metade da cultura de células misturadas à nanoceria será exposta a condições microgravitacionais, enquanto a outra metade será exposta a uma gravidade simulada por uma centrífuga. Após os seis dias de duração do experimento, as amostras serão armazenadas a -80°C para depois retornarem à Terra.

Elas serão, então, comparadas às amostras do mesmo experimento realizado aqui na Terra e que está servindo como controle. Juntos, os experimentos poderão revelar os efeitos únicos da microgravidade no crescimento de células em cultura.

Idealmente, essa linha de pesquisa poderia, um dia, resultar em terapias envolvendo pílulas ou injeções, e com efeitos capazes de durar várias semanas, de acordo com a Agência Espacial Europeia. A nanoceria tem o potencial de prevenir a atrofia muscular em astronautas, além de agir como uma terapia antienvelhecimento para pessoas idosas ou vítimas de Parkinson e outras formas de atrofia muscular.

A Agência Espacial Europeia prevê ainda aplicações cosméticas da pesquisa, como “tratamentos para uma pele mais brilhante e jovem”, de acordo com o release da agência espacial.

Pode levar um tempo até que os resultados da pesquisa sejam aplicados a cenários clínicos, mas o novo experimento já é um passo interessante nessa direção.

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