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Facebook pegou leve com conservadores que infringiam regras nos EUA, diz jornal

Reportagem do Washington Post revela que Donald Trump Jr., um comitê de apoio à reeleição e republicanos famosos não foram punidos.

Foto: Olivier Douliery (Getty Images)

Na tentativa de evitar acusações de ser enviesado contra conservadores, o Facebook supostamente teria permitido que republicanos do alto escalão violassem suas regras. Fontes disseram ao Washington Post que a rede social tem evitado punir membros da família do presidente dos EUA, Donald Trump, e outras personalidades e grupos conservadores que infringem repetidamente suas regras contra desinformação, até removendo advertências em alguns casos. Essa postura teria sido motivada por medo do “backlash” que poderia vir por causa da aplicação dessas penalidades.

Por volta do final do ano passado, o Facebook retirou uma sinalização de infração repetida contra Donald Trump Jr. por postar desinformação no Instagram. Dessa forma, a rede conseguiu evitar ter de rotulá-lo como reincidente na prática, dois ex-funcionários do Facebook disseram ao jornal.

Isso salvou o filho mais velho do presidente americano de sofrer penalidades, como tráfego reduzido, rebaixamento nos resultados de pesquisa e bloqueio temporário de publicidade. Um ex-funcionário disse que outros membros da família Trump receberam tratamento preferencial semelhante ao longo do ano passado, e que este foi apenas um “entre vários avisos removidos”.

Várias organizações pró-Trump foram repetidamente autorizadas a distribuir informações julgadas falsas pela checagem de fatos feita por parceiros do Facebook. As políticas da rede social determinam que contas que recebem duas advertências por postar “informações falsas” em 90 dias ganhem o status de reincidente.

Por exemplo, um dos maiores grupos de apoio à candidatura do presidente à reeleição, o comitê de ação política America First Action, postou dois vídeos em um período de quatro dias alegando falsamente que o candidato democrata à presidência, Joe Biden, está pressionando para diminuir os recursos financeiros das polícias do país.

Embora o Facebook tenha rotulado ambos os vídeos para indicar que eles eram falsos, o arquivo público da própria empresa mostrou que o comitê aparentemente não perdeu os privilégios de publicidade, relata o Post. Os dados de engajamento da ferramenta de análise de mídia social CrowdTangle, que é do próprio Facebook, não mostraram nenhuma evidência de que o tráfego ou a distribuição de posts desse grupo diminuíram.

Em alguns casos, o Facebook nem chegou a sinalizar posts desmentidos que vinham de fontes conservadoras. O apresentador de rádio Rush Limbaugh compartilhou com seus 2,3 milhões de seguidores uma teoria falsa sobre como o principal especialista em doenças infecciosas dos EUA, Dr. Anthony Fauci, possui secretamente metade da patente de uma vacina contra COVID-19. O Facebook não aplicou um rótulo a essa postagem, apesar de os próprios verificadores da empresa terem desmentido seu conteúdo, relatou o Post.

Outro dos posts de Limbaugh sobre uma teoria da conspiração envolvendo Biden foi igualmente ignorado. Outras páginas conservadoras, incluindo as do meio de comunicação de direita Gateway Pundit e da blogueira conservadora Pamela Geller, também pareceram contornar penalidades, mesmo tendo postado conteúdos identificados como falsos pelos verificadores de fatos.

O Post conversou com vários parceiros de checagem de informações terceirizados do Facebook sob a condição de anonimato para sua denúncia, e eles pareciam confusos ao ver a empresa facilitando a transgressão das regras.

“Estou perplexo com a política”, disse o chefe de uma dessas organizações ao canal, destacando particularmente a falta de medidas para a America First Action, apesar de suas violações flagrantes. “Nós, várias vezes, sinalizamos infratores que, no entanto, parecem prosperar e continuam a fazer anúncios”.

O Facebook também não chegou a negar essas descobertas. A porta-voz da empresa, Andrea Vallone, não contestou os detalhes da reportagem sobre Donald Trump Jr. em entrevista ao Post, observando que o Facebook é “responsável pela forma como aplicamos a fiscalização e, por uma questão de diligência, não aplicaremos uma penalidade nos raros casos em que a classificação não era apropriada ou garantida pelas diretrizes estabelecidas no programa”.

Vallone disse que “muitas” das páginas citadas pelo Post em seu relatório “foram penalizadas por compartilhar repetidamente informações incorretas nos últimos três meses”. No entanto, ela se recusou a comentar sobre o status de qualquer página em particular, incluindo a America First Action, e não especificou as penalidades que qualquer uma dessas páginas supostamente tenha recebido.

[The Washington Post]

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