Facebook já trabalha com possibilidade de candidato nos EUA querer deslegitimar eleições

Em post, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, fala da possibildiade de um candidato deslegitimar os resultados das eleições.
Símbolo de curti na sede do Facebook. Crédito: Stephen Lam/Getty Images
Símbolo de curti na sede do Facebook. Crédito: Stephen Lam/Getty Images

O Facebook afirma há anos que trabalhar para salvaguardar as eleições (lembra daquela história de Sala de Guerra?) mas, de alguma forma, toda essa proteção não impediu que a desinformação sobre votação continuasse a proliferar nem que a campanha do presidente Donald Trump tivesse um papel ativo na disseminação de fake news.

Independente de tudo isso, a empresa, em um blog post, informou as ações que tomará caso algum candidato queira deslegitimar o pleito e que “não aceitará novos anúncios políticos na semana das eleições”. Não custa lembrar que as eleições nos EUA ocorrem daqui a dois meses.

Não se iluda pensando que isso é algo que se assemelha a uma tão esperada proibição de anúncios políticos. O Facebook continuará a mostrar às pessoas anúncios comprados anteriormente (que podem incluir mentiras). O comunicado serve menos para apresentar uma política útil e mais para admitir que a rede espera uma série de eventos ultrajantes, mas previsíveis — e os deixará livres com o mínimo de interferência.

Por um lado, os posts (aparentemente anúncios ou posts regulares) não podem dizer que as pessoas vão pegar coronavírus ao votar. Por outro, a pandemia pode ser usada para “desencorajar a votação” com um link de informações sobre o coronavírus. Sério: é isso que diz a nova e ousada estratégia da empresa de Mark Zuckerberg:

Removeremos as postagens que afirmam que as pessoas contrairão COVID-19 se forem votar e anexaremos um link para informações oficiais sobre o coronavírus a postagens que podem usar o COVID-19 para desencorajar a votação.

Se uma campanha ou candidato quiser deslegitimar o resultado da eleição, pode, mas aparecerá um rótulo informativo no post. O Facebook permitirá que um determinado candidato reivindique vitória antes do resultado da eleição: a rede apenas vai adicionar um rótulo que redireciona as pessoas para a Reuters (agência de notícias) e para o National Election Pool (consórcio de empresas de mídia dos EUA que fornece informações no dia da eleição).

O Facebook parece estar preparando uma campanha de intimidação de eleitores e um cenário em que Trump tenta reivindicar preventivamente a Casa Branca por meio do Facebook.

Em uma postagem, Mark Zuckerberg disse que está “preocupado que, com nossa nação tão dividida e a demora de dias ou até semanas para a finalização dos resultados das eleições, possa haver um risco maior de agitação civil em todo o país”.

Prevendo isso, ele disse que o Facebook está agindo contra campanhas que desincentivam a votação (o que já é proibido pelos padrões da comunidade, mas é uma atitude que acontece desenfreadamente na plataforma), tem removido mensagens mentirosas sobre os requisitos de votação e está “expandindo esta política para incluir declarações incorretas implícitas sobre o voto, como ‘ouvi dizer que qualquer pessoa com carteira de motorista vai votar neste ano’, porque isso pode enganar sobre o que é necessário para conseguir uma cédula de votação, mesmo que, por si só, não necessariamente invalide o seu voto”.

Você pode imaginar que, sabendo a importância desta eleição e o escrutínio que o Facebook está sofrendo para não influenciar como em 2016, os rótulos acrescentariam um contexto útil ou pelo menos declarariam sem rodeios quando o conteúdo de uma postagem é uma mentira completa — mas, pelo menos na implementação atual dessas políticas, não é bem assim. Aqui está, com um exemplo prático, de como o Trump ensina como votar duas vezes, o que é ilegal:

Tuite de Trump em inglês ensinando como votar duas vezes

Com base no grande número de cédulas não solicitadas e solicitadas que serão enviadas a eleitores em potencial para a próxima eleição de 2020 e para que você GARANTA QUE SEU VOTO SEJA CONTADO, VALIDADO E ENVIADO na urna O QUANTO ANTES: no dia da eleição, ou na votação antecipada, vá ao seu local de votação para ver se a sua correspondência foi tabulada (contada) ou não. Se foi, você não conseguirá votar, e o sistema funcionou corretamente. Se não foi, VOTE (que é um direito do cidadão). Se a sua cédula chegar depois de você votar [pessoalmente], o que não deveria acontecer, essa cédula não será usada ou contada porque seu voto já foi lançado e contabilizado.

AGORA VOCÊ GARANTIU QUE SEU PRECIOSO VOTO FOI CONTADO, não foi “perdido, jogado fora ou destruído de alguma forma”. DEUS ABENÇOE A AMÉRICA!!!

A ladainha usada por tantas empresas de mídia social — que “discurso bom” se contrapõe a “discurso mau” no imaginário mercado de ideias — convenientemente camufla o jogo que Trump está jogando nas plataformas. O argumento do Facebook é que só “mais discurso” pode desmentir coisas desse tipo, mas os únicos vencedores nesse ambiente são as pessoas que gritam mais alto e as plataformas que conseguem lavar as mãos de qualquer responsabilidade real.

“É importante que os comitês possam rodar campanhas que incentivem o voto, e eu geralmente acredito que o melhor antídoto para o mau discurso seja mais discurso”, escreveu Zuckerberg, “mas nos dias finais das eleições pode não ter tempo o suficiente para contestar novas reivindicações”.

O Gizmodo entrou em contato com o Facebook para comentar e atualizará este texto se recebermos uma resposta.

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