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Facebook responde a artigo em que cofundador defende que empresa precisa ser dividida

Na quinta-feira, o cofundador do Facebook Chris Hughes escreveu um editorial no New York Times pedindo a divisão da empresa, o cancelamento das compras de suas subsidiárias Instagram e WhatsApp e a proibição de futuras aquisições por vários anos. Hughes argumentou que o Facebook — e, por extensão, seu todo-poderoso CEO Mark Zuckerberg, — suprime […]

mark zuckerberg, ceo do facebook, em audiência no congresso americano. ele parece estar com uma expressão contrariada.

Andrew Harnik/AP

Na quinta-feira, o cofundador do Facebook Chris Hughes escreveu um editorial no New York Times pedindo a divisão da empresa, o cancelamento das compras de suas subsidiárias Instagram e WhatsApp e a proibição de futuras aquisições por vários anos.

Hughes argumentou que o Facebook — e, por extensão, seu todo-poderoso CEO Mark Zuckerberg, — suprime a concorrência “adquirindo, bloqueando ou copiando” concorrentes, que a plataforma tem poder avassalador sobre discursos e que a rede é tão grande que pode ignorar virtualmente todas as formas de responsabilização externa. Ele também pediu a formação de uma agência governamental independente para regular as empresas de tecnologia.

Em resposta, o Facebook publicou seu próprio editorial no New York Times no sábado, desta vez escrito pelo ex-vice-ministro do Reino Unido e atual vice-presidente do Facebook para assuntos globais e comunicações Nick Clegg.

Clegg voltou a bater na mesma tecla que muitos outros executivos da empresa: todos eles dizem saber que têm algum trabalho a fazer.

Ele também fez uma leitura absurdamente errada do argumento de Hughes, resumindo-o a “o Facebook representa um risco para a sociedade porque é grande”.

Além disso, ele reiterou a posição de que o Facebook está “na incomum situação de pedir mais regulamentação, não menos”. Por fim, ofereceu um aperitivo do manual da empresa para se defender contra hipotéticas futuras aplicações da legislação antitruste.

Hughes apontou que mais de dois terços dos 70% dos adultos nos EUA usam o Facebook, um terço usa o Instagram e um quinto usa o WhatsApp, enquanto “menos de um terço usa o Pinterest, o LinkedIn ou o Snapchat”.

Clegg respondeu dizendo que “todos os nossos produtos e serviços competem por clientes” contra essas empresas:

O primeiro mal-entendido é sobre o próprio Facebook e a dinâmica competitiva em que operamos. Somos uma grande empresa composta de muitas partes menores. Todos os nossos produtos e serviços competem por clientes. Cada um tem pelo menos três ou quatro concorrentes com centenas de milhões, senão bilhões, de usuários. Em compartilhamento de vídeos e fotos, competimos contra serviços como o YouTube, Snapchat, Twitter, Pinterest e TikTok, um concorrente emergente.

Clegg também trocou as bolas ao argumentar que os serviços de mensagem de texto e vídeo como iMessage e Skype são concorrentes do Facebook. Ele também inventou de falar sobre a China. Clegg escreveu que dividir o Facebook seria o mesmo que “desmantelar um dos maiores players globais da América”, o que parece ser um claro apelo à paranoia sobre a rivalidade econômica dos EUA com a China:

Nas mensagens, não somos líderes nos três principais mercados — China, Japão e, segundo nossa estimativa, nos Estados Unidos — em que competimos com o iMessage, WeChat, Line e o Skype da Microsoft. A mídia social deve ser entendida globalmente e, nesse contexto, a China sozinha tem várias grandes empresas de mídia social, incluindo potências como Tencent e Sina. É perverso ver […] políticos americanos falando sobre o desmantelamento de um dos maiores players globais da América.

Clegg também argumentou que o Facebook ganha praticamente toda sua receita publicitária on-line de anúncios, e controla apenas cerca de 20% de todo o mercado de anúncios online nos EUA — o que é, na verdade, um número muito grande!

Mas também é uma estatística que esconde a dominação efetiva do Facebook de receitas de publicidade nas mídias sociais em todo o mundo. No Reino Unido, por exemplo, a eMarketer estima que o Facebook controle mais de 80% do mercado de publicidade social.

Em seu artigo, Hughes diz que os tribunais e autoridades antitruste dos EUA têm hesitado cada vez mais em intervir nos casos com grandes empresas em que seus produtos não têm preço, ignorando “o custo total da dominação do mercado”, como a supressão da concorrência e da inovação.

Clegg respondeu a isso basicamente se esquivando. Ele apenas reiterou que o Facebook é grátis e nem se preocupou em abordar essas outras alegações de comportamento anticoncorrencial:

O segundo mal-entendido é de lei antitruste. Essas leis, desenvolvidas nos anos de 1800, não são destinadas a punir uma empresa porque as pessoas não concordam com a sua administração. Seu objetivo principal é proteger os consumidores, garantindo que eles tenham acesso a produtos e serviços de baixo custo e alta qualidade. E especialmente no caso da tecnologia, inovação rápida. É exatamente aí que o Facebook chama a atenção: construindo os melhores produtos, gratuitos para os consumidores e financiados pelos anunciantes.

Em outras palavras: nem li e nem lerei.

Clegg completou sua resposta divulgando os supostos avanços do Facebook na segurança de seus serviços. Tirando o fato de que o Facebook realmente tem feito um péssimo trabalho em basicamente tudo, desde salvaguardar dados de usuários a responder efetivamente a acusações de cumplicidade no genocídio de Mianmar (e seus problemas com desinformação, notícias falsas e interferência eleitoral), isso tem muito pouco a ver com a lei antitruste em si.

Na verdade, isso poderia ser caracterizado como uma tentativa de justificar a própria generosidade do Facebook, dizendo que apenas ele mesmo tem tamanho para consertar os problemas que criou. (Isso pode criar apenas mais problemas, considerando que as plataformas frequentemente exibem sua enorme escala como uma desculpa para sua falha em impedir a proliferação de conteúdo de ódio.)

Apenas nós somos ricos o suficiente para proteger você” é francamente um argumento bizarro.

A razão para se dividir o Facebook é injetar competição nos mercados de mídia social e mensageria, na teoria de que consumidores expressarão suas preferências por privacidade e segurança dando escolhas reais. Não porque você quer diretamente proteger as eleições.

Zuckerberg também aludiu a essa defesa em outros comentários enquanto esperava em Paris para uma reunião com o presidente Emmanuel Macron.

Segundo o TechCrunch, o executivo disse à France Info: “Quando li o que ele escreveu, minha principal reação foi que o que ele está propondo que nós façamos não ajuda em nada a resolver esses problemas. Então, acho que se você se preocupa com democracia e eleições, quer que uma empresa como nós seja capaz de investir bilhões de dólares por ano, como estamos fazendo para construir ferramentas realmente avançadas que combatam a interferência eleitoral. ”

“Nosso orçamento para a segurança este ano é maior do que toda a receita da nossa empresa quando abrimos o capital no início desta década”, acrescentou Zuckerberg. “Muito disso é porque conseguimos construir um negócio de sucesso que, agora, pode bancar isso. Você sabe, investimos mais em segurança do que qualquer uma das mídias sociais.”

Em outras palavras, ele está dizendo que o Facebook é grande e importante demais para fracassar.

Até certo ponto, não há muita novidade aqui: Zuckerberg já pediu mais regulamentação externa do Facebook, embora principalmente o tipo de regulamentação que iria evitar grandes dores de cabeça para a empresa e não afetaria terrivelmente sua lucratividade ou expansão em todo o mundo. A maioria dos pontos de discussão de Clegg são argumentos requentados e genéricos dos que a empresa já disse anteriormente.

Seja como for, pelo menos o Facebook ficou claramente um pouco assustado com a sugestão da Hughes de que a empresa seja dividida. A resposta, pelo visto, passa por lobby e blá-blá-blá.

[New York Times]

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