Facebook subestimou porcentagem de adolescentes pagos para instalar app que rastreava celulares

Em janeiro, foi revelado que o Facebook pagava alguns dólares em cartões de presente para que adolescentes instalassem um aplicativo que é, por definição, um spyware – um app que via tudo o que eles faziam em seus celulares. A companhia afirmava se tratar de um app de pesquisa de mercado, pelo qual obtinha o […]
Getty/Justin Sullivan

Em janeiro, foi revelado que o Facebook pagava alguns dólares em cartões de presente para que adolescentes instalassem um aplicativo que é, por definição, um spyware – um app que via tudo o que eles faziam em seus celulares. A companhia afirmava se tratar de um app de pesquisa de mercado, pelo qual obtinha o histórico web e informações de uso de aplicativos dos smartphones.

Agora, foi revelado que a companhia também subestimou a porcentagem de adolescentes que faziam parte do chamado “programa de pesquisa”. Além disso, a empresa declarou falsamente que foram enviados formulários de consentimento para os pais.

Citando respostas da companhia às perguntas enviadas pelo Senador Mark Warner, o TechCrunch noticiou que o Facebook diz que “cerca de 18%” das pessoas que foram convencidas a instalar o “Facebook Research App” eram adolescentes. O número apresentado para os repórteres há mais de um mês era de “5%”.

Acontece que, quando a rede social foi questionada pela primeira vez por Josh Constine, do TechCrunch, sobre quantos adolescentes estavam usando o aplicativo, eles se referiram apenas ao número de adolescentes que estavam usando o app naquele momento, e não deram um número sobre quantos o usaram durante a existência do programa.

Na última sexta-feira (1º), Constine publicou: “Dada as idades de 13 a 35 anos que eram elegíveis para o Programa de Pesquisa do Facebook, pessoas que tinham entre 13 e 18 anos representavam 22% da faixa etária. Isso significa que o Facebook claramente não estava preocupado em minimizar o envolvimento de adolescentes no programa, tanto que eles não eram apenas uma pequena fração de usuários”.

A companhia também enganou repórteres ao dizer que todos os usuários menores de idade precisavam enviar “formulários de consentimento parental assinado”. Não havia essa exigência. Em resposta às perguntas de Warner, o Facebook disse que seus parceiros “não exigiram um formulário de consentimento assinado pelos pais para os usuários adolescentes”.

Em alguns casos, esse “consentimento” era apenas um adolescente marcando uma caixinha na web dizendo que seus responsáveis tinham dado permissão para que recebesse dinheiro do Facebook em troca da visualização de toda a atividade em seus telefones.

Ainda em resposta à reportagem inicial de Constine, a empresa havia alegado que desativaria a versão do aplicativo para iOS, já que o TechCrunch havia levantado a possibilidade de que essas práticas violariam as regras do Certificado Empresarial da Apple – esse ponto, inclusive, fez com que todos os apps internos do Facebook para iPhone ficassem quebrados por um tempo.

A companhia havia dito que tomaria uma iniciativa por conta própria, mas o que aconteceu de verdade foi que a Apple interveio no caso. A remoção do aplicativo, em outras palavras, não foi voluntária.

Como foi noticiado há uma semana, o aplicativo de pesquisa continuou a operar em telefones Android por quase um mês. O Facebook também alega estar desativando o Onavo, um aplicativo que a empresa diz servir para proteger os dados, mas que, na verdade, envia informações para o Facebook – há indícios de que os dados são enviados mesmo quando o app está desligado. (A Apple já retirou o app de sua loja, afirmando que ele viola suas política de coleta de dados.)

O Facebook, é claro, tentou justificar suas atitudes com uma série de frases prontas do mundo corporativo: “Como muitas empresas, convidamos as pessoas a participar de pesquisas que nos ajudam a identificar as coisas que podemos melhorar”, diz. Além disso, a companhia esclareceu que o objetivo de seu aplicativo era apenas realizar uma “pesquisa de mercado”.

A companhia se defende dizendo que foi transparente com os adolescentes cujos smartphones foram rastreados em troca de dinheiro. “Cada usuário foi obrigado a concluir um fluxo de consentimento claro antes da participação”, afirma a companhia. “Os participantes em potencial precisavam confirmar que tinham mais de 18 anos ou fornecer outras evidências de consentimento dos pais, embora não fosse necessário um formulário de consentimento assinado pelos pais”.

Um formulário de consentimento assinado pelos pais é algo obrigatório para coisas simples como passeios de escola. O Facebook queria coletar informações sobre todos os sites e apps que eles usavam, por US$ 20 mensais.

A empresa também observa que não compartilhou as informações coletadas “com outras pessoas” e que “os participantes podem deixar o programa a qualquer momento”.

É generoso o fato de o Facebook não incluir uma cláusula de “contrapartidas” no acordo, mas a promessa de que as informações não seriam compartilhadas com entidades externas é frágil e, francamente, muito difícil de acreditar. A empresa já demonstrou incapacidade na proteção dos dados de seus usuários.

“Fiquei satisfeito ao saber que o Facebook fez com que o seu papel no estudo fosse relativamente proeminente”, disse o Senador Warner em relação à carta. “Eu ainda tenho sérias preocupações com a forma como o Facebook usou o aplicativo de pesquisa e sua VPN Onavo para acompanhar concorrentes emergentes, de maneiras que os usuários geralmente não esperam”.

Você pode ler uma cópia completa da carta do Facebook para Warner aqui.

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