A treta do Facebook com o MBL mostra mais uma vez que rede precisa de transparência

As eleições se aproximam e as medidas do Facebook relacionadas ao pleito já começaram. A rede social anunciou na última quarta-feira (25), a suspensão de 196 páginas e 87 perfis que “violavam as políticas de autenticidade” e que eram utilizadas para “gerar divisão e espalhar desinformação”, nas palavras da própria empresa. • Exclusão de perfis […]

As eleições se aproximam e as medidas do Facebook relacionadas ao pleito já começaram. A rede social anunciou na última quarta-feira (25), a suspensão de 196 páginas e 87 perfis que “violavam as políticas de autenticidade” e que eram utilizadas para “gerar divisão e espalhar desinformação”, nas palavras da própria empresa.

• Exclusão de perfis ligados ao MBL é apenas o primeiro ato da treta política no Facebook
• Facebook diz que vai remover notícias falsas que inspiram violência no mundo real

Quem sentiu o golpe foi o MBL (Movimento Brasil Livre), movimento de direita com grande alcance na rede de Mark Zuckerberg. Rolou até protesto em dia da semana e no meio do expediente lá na sede do Facebook em São Paulo.

Entre as centenas de páginas removidas estão a Jornalivre, Diário Nacional, Movimento Brasil 200, que juntas somavam mais de meio milhão de seguidores. De acordo com a nota do Facebook, um grupo controlava as páginas utilizando perfis falsos, o que poderia enganar outros usuários uma vez que mensagens eram compartilhadas de forma coordenada, dando a sensação de que se tratavam de veículos de comunicação distintos e independentes.

Essa foi apenas a primeira leva de remoções que o Facebook promoveu por aqui; podemos esperar, nas próximas semanas, que isso se torne mais frequente. Por mais bem intencionada seja a iniciativa de Zuckerberg e cia, falta transparência nesse processo.

O anúncio oficial do Facebook que contou sobre a remoção dessas páginas é bem curto e vago para um assunto tão sério, principalmente se tratando de eleições. A rede social geralmente argumenta que não revela os detalhes de investigações internas para que usuários não aprendam a burlar os esforços da plataforma, mas é possível ser transparente e rígido com suas próprias políticas de uso simultaneamente.

Eis as regras do Facebook:

Não:
– Represente falsamente sua identidade
– Usando um nome que desrespeite nossas políticas de nome
– Fornecendo uma data de nascimento falsa
– Faça mau uso de nosso produto de perfis

– Criando um perfil para um menor de 13 anos
– Mantendo múltiplas contas
– Criando perfis não autênticos
– Compartilhando uma conta com um terceiro
– Criando outra conta após ter sido banido do site
– Esquivando-se das exigências de registro descritas em nossos Termos de Serviço

Passe-se por outros

– Usando imagens de terceiros com o objetivo explícito de enganar as pessoas
– Criando um perfil fingindo ser ou falando por outra pessoa ou entidade
– Criando uma Página que fala por outra pessoa ou entidade sem autorização, quando a parte autorizada desaprova o conteúdo
– Envolva-se em comportamento não autêntico, que inclui criar, gerenciar ou perpetuar

Contas falsas

– Contas com nomes falsos
– Contas que participam de comportamentos não autênticos coordenados, ou seja, em que múltiplas contas trabalham em conjunto com a finalidade de:
– Enganar as pessoas sobre a origem do conteúdo
– Enganar as pessoas sobre o destino dos links externos aos nossos serviços (por exemplo, fornecendo uma URL de exibição incompatível com a URL de destino)
– Enganar as pessoas na tentativa de incentivar compartilhamentos, curtidas ou cliques
– Enganar as pessoas para ocultar ou permitir a violação de outras políticas de acordo com os Padrões da Comunidade.

Incluir transparência nesse processo revelando quais páginas foram removidas e apresentando uma documentação do porquê a decisão foi tomada poderia diminuir a reação dos grupos que se dizem prejudicados. Veja, não sabemos se todas essas páginas e perfis desativados pertenciam a grupos de direita, mas a narrativa que se criou a partir de ação foi essa.

A iniciativa abriu espaço para ainda mais desinformação e notícias falsas. Segundo o MBL, as ações da companhia caíram 10% por “apostar na censura e não proteger de dados dos usuários”. Na sequência, uma outra publicação atualizava o número: “Toma! Ações do Facebook caem 23% na Nasdaq. Isso que dá apostar na censura!”. A primeira publicação tinha milhares de reações e pouco mais de 700 compartilhamentos, enquanto a segunda imagem chegou a 13 mil reações e 6 mil compartilhamentos.

Acontece que os resultados negativos estão relacionados com o anúncio dos resultados financeiros divulgados na semana passada que revelou aos investidores que a rede social não tem muito mais para onde crescer. No final das contas, não havia nenhuma relação com as medidas tomadas no Brasil.

Dessa forma, o Facebook insiste num modus operandi que blinda as motivações de suas iniciativas e, querendo ou não, pavimenta um caminho para a regulamentação do Estado. Quando se toma decisões de interesse público, você está sujeito a reação das pessoas e é preciso construir uma reputação para dar legitimidade às decisões – como bem lembrou Francisco Brito Cruz, diretor do InternetLab, em conversa com a Gazeta do Povo.

O mercado pode até “punir”, mas não representa os interesses de todos os grupos envolvidos – especialmente quando falamos de eleições em países fora do centro europeu e norte-americano.

Desde as eleições dos EUA de 2016 as mancadas do Facebook vão se acumulando. Na Europa e nos EUA, parlamentares já ameaçaram iniciar uma ação antitruste – alguns deles acreditam que a rede social se tornou grande e poderosa demais e, portanto, precisam de regulamentação do Estado.

Se a intenção do Facebook é se esquivar disso, talvez seja uma boa ideia adotar práticas mais transparentes – o que é, além de tudo, mais saudável.

Imagem do topo: AP

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