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A febre dos stories tem que parar

Não é que o Stories seja inerentemente ruim. Acontece que, na maioria dos aplicativos, não é algo que torna a experiência melhor.

Crédito: Spotify/Facebook/Twitter

Até tu, Spotify?

No momento em que o Dia de Ação de Graças dos EUA acabou, o Spotify atualizou sua playlist natalina anual. Mas, conforme observado pelo Engadget, a grande novidade este ano não foi “Christmas Without You” de Ava Max, mas o teste de um recurso semelhante aos Stories do Instagram.

Tanto no app do Android quanto no do iOS, logo abaixo da foto da capa de uma radiante Mariah Carey dos anos 1990, há um círculo familiar e anelado com uma bolha logo acima dizendo: “Toque para ver a história”.

O pior de tudo é que essa não foi a única. O Spotify também fez isso com sua playlist emo Tear Drop. Esses foram os dois que encontrei e se houver mais, por favor, não quero saber, deixe-me viver na ignorância.

É sério, Spotify? Você não viu o desastre que foi o lançamento global dos Fleets do Twitter há menos de duas semanas? Você vai realmente fazer isso?

Não é como se o Spotify não tivesse insinuado que isso estava por vir. No ano passado, a plataforma testou o recurso “Storyline”, que envolvia cartões pop-up onde os artistas podiam compartilhar a inspiração ou a “história” por trás de uma música específica. Se você ainda não ouviu falar desse recurso específico, tudo bem: ele não teve muito alarde e só foi apresentado em algumas músicas. Mas com este lançamento mais recente, parece que o Spotify está pronto para testar em uma escala maior.

Ainda assim, tenho certeza de que ninguém pediu isso. A maioria dos artistas tem seus próprios Instagrams ou outras mídias sociais onde podem compartilhar essas pequenas curiosidades. Elas não precisam estar no Spotify, um aplicativo de música com poucos aspectos sociais além da lista de estatísticas de final de ano, questionários de “que personagem é você?” com resultados em forma de música e a opção de compartilhar ou colaborar em playlists com amigos.

Se eu realmente gosto de um artista, posso procurar uma entrevista no YouTube ou no Pitchfork, mas talvez a última coisa que eu queira é outro aplicativo onde eu seja incentivada a acessar vídeos curtos que nem são a razão de eu utilizar essa plataforma em primeiro lugar.

Esse é o verdadeiro problema aqui. Inserir o recurso de stories em sua plataforma não ajuda a diferenciar seu aplicativo de bilhões de outros competindo pela minha capacidade limitada de atenção. No caso do Spotify, existem outras plataformas onde eu prefiro obter minha dose de interação com o artista.

A única coisa que suponho que a cópia do Stories do Spotify tem a seu favor é que não parece ser algo em que pessoas comuns possam participar. Você consegue se imaginar se inscrevendo na playlist de um amigo e depois ter que assisti-lo divagar sem rumo sobre por que adicionou essa ou aquela música? Não, obrigada.

Assistir religiosamente aos Stories do Instagram já se tornou uma estranha obrigação social para paqueras e relacionamentos de longo prazo. Não preciso poluir minha música também. Eu prefiro voltar a baixar música e gravar meus próprios CDs desde que eu nunca tenha que ser submetida a vídeos estúpidos dos meus amigos se divertindo com uma música idiota que ninguém dá a mínima. (Afinal de contas, o TikTok está aí para isso.)

Há uma chance de que isso não vá adiante. O Spotify tem um histórico de testar recursos diferentes — alguns dos quais chegam a ser lançados, enquanto outros morrem silenciosamente e ninguém ouve mais falar deles. Talvez, se todos nós fizermos um barulho grande o suficiente, o Spotify vai entender a mensagem, esquecer que isso aconteceu e se concentrar em outra coisa que seja realmente boa.

Cópia de uma cópia de uma cópia

Quando o Instagram copiou pela primeira vez o formato do Snapchat, isso fez sentido. Era claramente uma imitação, mas o Snapchat era uma plataforma que atendia aos adolescentes. O Instagram tinha um apelo mais amplo.

Além disso, o Instagram é uma plataforma onde tudo é filtrado para ficar perfeito. O conteúdo que desaparece se encaixa na vibração superficial da rede, para que algo que você poste não entre em conflito com a curadoria hipercuidadosa que você faz em seu feed.

Até o YouTube tem: canais com mais de 10.000 inscritos podem postar vídeos temporários com duração de sete dias. Os espectadores podem interagir com esses vídeos e os criadores de conteúdo têm a opção de responder.

Taí outra coisa que não dá para entender. Eu vejo YouTubers para me aprofundar nos assuntos em que eles são especialistas. Embora as seções de comentários do site sejam notoriamente tóxicas, elas são uma forma estabelecida de responder aos vídeos.

Existem também muitas outras maneiras de interagir com vloggers — e os vloggers geralmente expressam qual é seu método preferido no final de um vídeo. Se eu quisesse ver um influenciador fazer um pequeno vídeo, iria ao TikTok — que, aliás, é o que a maioria deles faz de qualquer maneira. Você vê conteúdos curtos no Instagram ou TikTok e, se realmente gostar do que viu, você vai ao YouTube em busca de mais 20 ou 30 minutos de informações detalhadas.

Isso sem falar do Fleets, que como meus colegas apontaram, é o Twitter no Modo Covarde. O Twitter já é uma fossa de pensamentos fugazes de 280 palavras. O ponto principal da rede são comentários pequenos e uma link para direcionar seguidores para outras plataformas. É por isso que um usuário tem mais probabilidade de publicar links para matérias e textos em seu Twitter, mas citações e artes bonitas no Instagram.

O Twitter nunca precisou de Fleets porque, por sua natureza, já era uma plataforma efêmera. Ou deveria ser, embora nem sempre seja o caso, como dirão as pessoas que tiveram seus tuítes antigos constrangedores divulgados.

Mas você sabe qual foi a verdadeira sentença de morte para o Stories? Quando o LinkedIn — o maldito LinkedIn!!! — passou a contar com o recurso.

Esta é talvez a que tem a vibe mais boomer e faz menos sentido. A busca por emprego é uma das coisas que mais sugam a alma de uma pessoa. Por que, pelo amor de tudo que é sagrado, você gostaria de fazer um pequeno vídeo que desaparece sobre…seu currículo? Sua experiência de trabalho? Dez razões pelas quais os recrutadores devem entrar em contato com você?

O LinkedIn é onde os boomers e CEOs podem postar conteúdo, mas ninguém, literalmente ninguém, que usaria Stories iria ao LinkedIn para ver o seu CEO favorito fazer um vídeo com 10 conclusões do balanço financeiro do primeiro trimestre.

Não é que os stories sejam inerentemente ruins. Pessoalmente, agradeço por poder postar 8.000 vídeos de meus animais de estimação nos Stories do Instagram e não deixar que isso atrapalhe meu feed. Acontece que, na maioria dos aplicativos, não é algo que torna a experiência melhor. Ele está lá porque alguns investidores com ervilhas no lugar do cérebro acharam que seria uma maneira fácil de aumentar a popularidade da plataforma e, portanto, ganhar mais dinheiro.

Nenhum usuário de nenhuma plataforma pediu stories. É claramente pura preguiça. O resultado final é que agora você tem uma dúzia de aplicativos tentando ser algo que não são, enquanto usuários irritados se perguntam por que simplesmente não conseguem usar seus aplicativos favoritos da maneira que foram planejados.

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