Fiesta Hatch 2012 e Microsoft Sync em português: Coldplay sim; contexto, não

Ele também quer transformar você em early adopter. Também quer conversar com você, saber o que você quer ouvir e usar comandos de voz. E, apesar de mudanças importantes de hardware, a empresa fez questão de focar nas mudanças de software do novo modelo. Mas diferente do iPhone 4S, que custa menos de dois mil […]

Ele também quer transformar você em early adopter. Também quer conversar com você, saber o que você quer ouvir e usar comandos de voz. E, apesar de mudanças importantes de hardware, a empresa fez questão de focar nas mudanças de software do novo modelo. Mas diferente do iPhone 4S, que custa menos de dois mil reais, este brinquedo só será seu por 50 mil reais. O New Fiesta Hatch 2012, da Ford, quer ser seu novo gadget.

Mas o que diabos o novo Fiesta está fazendo aqui, e não no Jalopnik? Calma, respire fundo. Não estamos aqui para analisar (muito) a performance do carro, nem todos os seus detalhes. Estamos aqui para falar sobre o Sync, sistema da Microsoft de sistema de voz que pela primeira vez está presente em português e em um carro intermediário.

O sistema de voz da Microsoft já está presente em outros carros da Ford, como o Edge, mas a versão do sistema no Fiesta Hatch 2012 é um tanto diferente. A tela de LCD de 4 polegadas lembra os velhos Nokias, e agora o sistema fala português. Por meio dele — e de uma série de comandos na parte esquerda do volante — o usuário pode diminuir a necessidade de usar as mãos para mudar de música, telefonar, ler e até responder mensagens. Mas será que ele pode ser fator decisivo de compra? Testamos o carro para descobrir.

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Nós tentamos nos entender, mas acho que não fomos feitos um para o outro. Eu tento puxar assuntos diferentes, falar de arte, cultura, mas ela parece… limitada. Na verdade, a voz do Microsoft Sync em português é um robô não muito simpático, apesar da voz feminina. Se você quiser ouvir a voz dela, é simples: abra o Google Tradutor, coloque língua portuguesa e ouça a voz do robozinho. (Ou ouça Giba e Claudinha ou Googleokê.) Ela também tem dificuldade com siglas, como USB, que virou usbí. Isso significa que será fácil pedir uma música do Coldplay — se você falar com calma — mas será impossível ouvir AC/DC sem utilizar as mãos. Dê uma olhada:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ciG0H2UjM4Q

O formato atual do Microsoft Sync é aquilo que conhecemos há anos quando o assunto é comunicação por voz com aparelhos eletrônico: fricção, muita fricção. Falta contexto. Você não pode entrar no carro e dizer “toque uma música, por favor” (muito menos “tocaí” ou “solta o som, DJ). Se você não quer usar as mãos, é preciso dizer “reproduzir som”. Há um dicionário limitado de comandos aceitos, e ele não se adapta a situações diversas.

Além de entender pouco do que você fala, essa mulher é uma tagarela. Enquanto você é obrigado a decorar palavras simples e falar tudo de forma bem clara e pausada, a voz do Sync fala pelos cotovelos. O que não é muito bom: ao pedir um comando como “discar telefone”, um ringtone toca, e ela dispara uma série de quatro frases encavaladas como “discar telefone, favor dizer telefone para ativar sistema”. Se você disse “discar telefone”, você já sabe o que quer fazer. Ela não precisava falar tanto. Isso diminui a praticidade do Sync.

Parear o smartphone via Bluetooth é simples — o Sync mostra um número PIN, você adiciona ao celular, e pronto. O único porém e que, segundo a Ford, a falta de padronização do Bluetooth é um problema sério. Isso significa que nem todos os aparelhos terão todas as funções. Isso significa que iPhone e BlackBerry, por exemplo, não podem usar comandos de voz para escolher músicas específicas. Nesses casos, é preciso usar a porta USB, localizada abaixo da marcha, para conectar o aparelho.

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Mas como todo carro novo, há muito mais além do Sync no Fiesta Hatch. Diferente da analogia inicial, o Fiesta Hatch tem um

Não se assuste: este boneco está bem por causa dos sete airbags

design bem diferente de seu antecessor — e com ares muito mais futuristas de que seus concorrentes. Apesar de o Sync ser o chamariz do evento (ei, somos um blog de tecnologia), há detalhes bem interessantes por dentro do carro.

Há, por exemplo, um novo sistema batizado de “assistente de partida em rampa”. Autoexplicativo, ele funciona de maneira bem simples: quando você está em uma ladeira, o carro reconhece o local e, quando você solta o freio, ele segura o carro por três segundos — ou o tempo necessário para você sair do lugar sem dar aquela caidinha clássica. Nos testes, ele funcionou perfeitamente. É o fim do freio de mão nas subidas absurdas.

Por ter um motor Flex 1.6 em um carro mais compacto, o Fiesta Hatch 2012 é bem ligeirinho, e a direção elétrica é revoltante de tão boa — chega a dar aflição virar o carro com um toque tão sutil ao volante. A série de sete airbags espalhados pelo veículo somado aos sensores inteligentes de detecção de passageiro deixariam minha família muito mais tranquila quando eu saio à noite. Só não entendemos muito bem — com toda nossa humildade de não entender muito sobre carros — por que a Ford não deixou, pelo menos como um opcional, o câmbio automático.

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Talvez o problema com o sistema de voz seja uma questão de timing. Se a Ford mostrasse o Sync em português há duas semanas, eu não esperaria muito de seu sistema de comando de voz. Mas neste meio tempo, a Apple anunciou o iPhone 4S, e nele há o Siri, um sistema que promete modificar nossa visão em relação aos assistentes pessoais que não… pessoas. Ainda é cedo para dizer se o Siri realmente irá mudar nossa relação com os smartphones, mas só de assistir a apresentação é possível encontrar o que falta ao Sync: humanidade. Contexto. Compreensão.

Se eu comprasse o novo Fiesta Hatch, provavelmente eu e o Sync brigaríamos na primeira semana. A voz ficaria lá, enfurnada dentro do sistema. Talvez, quando um amigo entrasse no carro, eu faria para me exibir. Não tenho dúvidas de que ele será muito útil para tirar uma risada daquela garota que você levou para passear.

Mas eu me vejo em um relacionamento bem mais duradouro com a Siri. Claro, isso pode ser apenas um caso platônico, mas imagino que a gente tem tudo para dar certo. Ela pensa rápido, anota tudo que eu falo, ouve tudo e, principalmente, entenderia o que eu falasse. Sem fricção, uma conversa aberta, franca, com um sistema de voz que pode me ajudar a ser uma pessoa melhor — mais organizada, menos perigosa no trânsito etc. Um relacionamento só funciona bem com comunicação honesta, certo?

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O Fiesta Hatch 2012 tem preço inicial de R$48.950. Essa versão não tem o Sync, que está presente apenas no segundo modelo, que custa R$51.950 — e que também adiciona freios ABS, airbag duplo e o assistente de partida em rampa. Já o modelo de R$54.950 tem os 7 airbags citados, além de outros mimos. Os modelos Sedan seguirão a mesma tabelação, com adição de 2 mil reais em cada opção. Eu não ando muito ligado com o mundo dos carros, mas isso é um pouco caro, não?

Se vocês concordam comigo, deve ser fácil deduzir que decidir pela compra ou não do modelo é uma tarefa árdua. Se a Ford quer ter early adopters e transformar alguns de seus carros em gadgets, é preciso lembrar que há uma grande diferença entre gastar 2 mil e 50 mil reais.

Para decidir se vale a pena comprar o Fiesta Hatch 2012, é preciso levar em conta todos os seus diferenciais. Aqui, elenco os que mais me marcaram: os 7 airbags, o sistema de partida em rampa, o design bem animal e diferente dos padrões atuais e os 3 anos de garantia. Sentiu falta de algo?

Para mim, o Sync não será fator decisivo de compra para muitos usuários. Ele será um mimo a mais, como um CD player mais completo com umas coisinhas tecnológicas no pacote. Talvez, caso dois modelos empatem na sua decisão final, ele possa ser aquele gol salvador da Ford, mas achamos difícil. O excesso de fricção do sistema impediria, por exemplo, que minha mãe usasse o Sync mais de uma vez por mês — pelo menos pelos comandos de voz. Eu mesmo não me vejo usando o Sync.

Pontos para a Ford por lembrar do Brasil e traduzir o sistema — ninguém quer ficar gastando seu inglês no carro e parecer um lord inglês. Mas ela também sabe das limitações do aparelho. “Daqui a 30 anos nós vamos olhar esse Sync e dizer ‘nossa, que estranho, que limitado’. Mas ele é só o primeiro passo, e em português”, disse um dos executivos da empresa. Se o Siri da Apple deslanchar e as soluções de Android e Windows Phone 7 seguirem o mesmo caminho, esses 30 anos podem virar 3.

* O Gizmodo Brasil viajou ao Uruguai a convite da Ford.

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