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A morte do rádio FM já tem data marcada na Noruega

A partir desta quarta, o país inicia transição para o sistema de Radiodifusão de Áudio Digital, e nem todo o mundo está contente

Nesta quarta-feira, a Noruega se tornará o primeiro país no mundo a começar a desligar sua rede de rádio FM em favor do rádio digital. Os noruegueses tiveram anos para se preparar, mas a mudança ainda está pegando muitos de surpresa.

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O rádio FM e a Radiodifusão de Áudio Digital (ou DAB, na sigla em inglês) têm coexistido desde 1995, mas as autoridades do ministério da Cultura norueguês decidiram que era hora de finalmente aposentar o meio de transmissão mais antigo.

O apocalipse do rádio FM começa na manhã desta quarta em Nordland, norte do país. A partir das 11:11 no horário local, a rede de FM será derrubada em um processo gradativo que irá durar o ano todo. A transição do FM para o DAB não acontecerá de uma noite para a outra, o que permitirá que os noruegueses se adaptem à alteração.

Defensores do DAB dizem que o formato tem melhor qualidade de som e que oferece mais canais por uma fração do custo. O DAB atualmente hospeda 22 estações nacionais na Noruega, junto com outras 20 de menor expressão. O espectro do FM comporta apenas cinco estações nacionais. Além disso, a natureza digital do DAB permite que os ouvintes acompanhem programas que não puderam ouvir ao vivo e ainda facilita a transmissão de mensagens emergenciais pelas autoridades em tempos de crise. O DAB também faz sentido em um país como a Noruega, com seus fiordes e suas montanhas elevadas. No fim das contas, fica caro captar sinais de frequência FM para uma nação com uma população tão pequena e dispersa.

Apesar de terem tido anos para se preparar, maior parte dos noruegueses considera a mudança prematura. Como foi noticiado na AFP, 66% dos norugueses são contra o desligamento do FM, com apenas 17% a favor da alteração. “É completamente estúpido. Não preciso de mais canais do que já tenho”, disse Eivind Sethov, de 76 anos, morador de Oslo, em entrevista à agência de notícias.

Estima-se que milhões de aparelhos de rádios antigos se tornarão obsoletos até o fim do ano, maior parte deles encontrada em veículos. Converter um rádio automotivo requer um adaptador que custa entre 1.000 e 2.000 kroner (R$ 371-R$ 742), o que cria certo ônus para a população. Como corretamente aponta a AFP, “enquanto a mudança para o digital irá reduzir os custos de transmissão para os radiodifusores, seus ouvintes serão quem pagarão por boa parte da transição.”

Outros países podem seguir o exemplo em breve. O Reino Unido afirma que irá diminuir a frequência de FM assim que metade do público ouvinte for digital (atualmente, esse número está em 35%) e quando o sinal DAB alcançar 90% da população. Já nos Estados Unidos ou no Canadá, o rádio FM, ali ativo desde a década de 1940, não demonstra sinais de que será substituído tão cedo. Dito isso, a infraestrutura convidativa ao DAB já começa a surgir. Há cerca de 4.000 estações usando tecnologia de rádio em alta definição nos Estados Unidos, e receptores de rádio digital são comuns nos novos carros.

Dado o precedente histórico na Noruega, os dias do FM podem estar contados.

No Brasil, migração ainda é para o FM

Em novembro do ano passado, o presidente da República, Michel Temer, assinou termo aditivo que autorizava a migração de 240 rádios AM para FM. O processo de migração começou ainda em 2013, a partir de decreto assinado pela ex-presidente Dilma Rousseff. A primeira emissora a migrar foi a Rádio Progresso, de Juazeiro do Norte (CE), em março de 2016, e, segundo o governo federal, 1.386 das 1.781 estações AM do país já aderiram ao processo. A migração digital ainda não é discutida no Brasil, mas a mudança para o FM já representa um avanço, com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações destacando a redução nos custos de operação e manutenção, a melhor qualidade de transmissão, além da integração com dispositivos digitais.

[AFP via The Star Online]

Imagem do topo: Judith Haaland de 98 anos sentada ao lado do seu velho rádio em Stavanger, Norway. Crédito: AP.

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