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Fitbit Charge 4 é uma pulseira de exercícios físicos ótima em uma época bem esquisita

A pulseira de monitoramento de atividade física Fitbit Charge 4 tem como adição o GPS embutido e uma nova forma de medir exercícios.

Fitbit Charge 4

Pulseira Fitbit Charge 4. Crédito: Victoria Song/Gizmodo

Como fazer a análise de uma pulseira que monitora exercícios físicos — algo destinado a fazer você se exercitar e medir seu progresso atlético — em um momento em que a maioria de nós ficamos à força presos dentro de casa, esparramados em nossos sofás? Este é o enigma com o qual estou lidando desde que tirei da caixa a minha nova pulseira Fitbit Charge 4.

As circunstâncias surreais em que nos encontramos devido à pandemia atual afetaram todos os lançamentos recentes de gadgets, o que também acontece com a Charge 4. A grande novidade aqui é que é a primeira pulseira de atividades físicas a trazer GPS e NFC. No entanto, com o distanciamento social em vigor, é difícil não sentir que essas adições não serão tão úteis nos próximos meses.

Sim, ainda podemos correr, caminhar, andar de bicicleta e passear lá fora, mas sempre há a chance de que as autoridades possam proibir ou impor restrições aos exercícios ao ar livre, como já ocorreu em Paris. Adicionar o Fitbit Pay (disponível nos EUA) é conveniente, pois elimina a necessidade de você tocar superfícies, mas também depende que lojas tenham suporte ao sistema de pagamento sem contato. Eu não consegui achar nenhum local na minha vizinhança.

Fitbit Charge 4

O que é?
A mais recente pulseira de monitoramento de exercícios físicos da série Charge, da Fitbit

Preço
US$ 150 (cerca de R$ 788) o modelo convencional; US$ 170 (cerca de R$ 893) pela edição especial. A Fitbit não vende seus produtos oficialmente no Brasil.

Curti
Finamente tem GPS! Pagamento NFC padrão em todas as Charge 4. Minutos de zona ativa e zonas de calor são ótimas novidades

Não curti
Não dá para alternar entre apps de exercício. Mapas do GPS são esquisitos, e a tela não é das melhores.

Usando a Fitbit Charge 4

Mas deixando de lado por um minuto a estranheza do distanciamento social, a pulseira Charge 4 tem basicamente tudo o que você poderia querer em um rastreador de atividades físicas. Além dos pagamentos por NFC e GPS, ela tem duração de bateria de sete dias, monitoramento contínuo de frequência cardíaca, um aplicativo abrangente com uma comunidade integrada e, ao longo dos anos, o design evoluiu para ser mais elegante e durável. Bacana, né? Na verdade, se você já possui uma pulseira Charge 3 ou um rastreador básico semelhante, não é muito bacana.

Porém, se você está usando uma pulseira antiga há algum tempo e os relógios inteligentes são demais para suas necessidades (e seu orçamento), mudar para a Charge 4 é uma escolha interessante por várias razões.

A Fitbit adicionou algumas atualizações espertas ao software e à interface do usuário da Charge 4. Embora a adição do GPS embutido tenha sido um passo bem-vindo por si só, ele foi aprimorado pela adição de mapas de calor no app da Fitbit. Existem dois tipos: um para frequência cardíaca e outro para o ritmo.

Não é o tipo de coisa com que você se importa no meio do caminho, mas adiciona algum contexto útil na avaliação do seu desempenho. Por exemplo, em uma corrida de 5 km, eu podia ver não apenas quando meu coração estava batendo mais forte, mas também onde eu estava correndo mais rápido.

Da mesma forma, o dispositivo também vibra toda vez que você entra em uma nova zona de frequência cardíaca. Isso é útil se você estiver fazendo um treino HIIT (treino intervalado de alta intensidade) ou acelerar a prática de exercícios, pois diminui sua necessidade de verificar seu pulso para chegar a frequência cardíaca.

Desde que a Fitbit lançou seu último vestível, o Versa 2, em setembro, o próprio aplicativo Fitbit também passou por algumas mudanças. O grande problema é que, com a Charge 4, a Fitbit se livrou do seu bloco Active Minutes (Minutos Ativos) e o atualizou para uma métrica mais nova chamada Zone Minutes.

Essa é uma mudança bem-vinda e há muito esperada — a métrica de contar passos tem suas origens no marketing, não na ciência. Minutos de Zona Ativa (Active Zone Minutes), no entanto, é uma forma mais amigável para as pessoas monitorarem se estão fazendo a quantidade recomendada de atividades por semana.

As organizações de saúde mais conceituadas, incluindo a American Heart Association e a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendam 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana. Isso pode ser difícil de analisar por conta própria. A caminhada até a cafeteria conta? Como você mede uma caminhada de 8 km ou uma corrida intervalada?

O Active Zone Minutes elimina as suposições, concedendo crédito por cada minuto gasto na zona de queima de gordura e dobrando o crédito pelo tempo gasto nas zonas cardio ou de pico. Também é muito melhor do que a métrica Active Minutes usada anteriormente, que achei confusa porque só dava “crédito” com uma frequência cardíaca elevada com duração superior a dez minutos.

A Fitbit também lançou recentemente outra métrica relacionada ao sono, chamada Variação Estimada de Oxigênio, que usa o sensor de SpO2 que está incluído nos dispositivos Fitbit desde o lançamento do Ionic em 2017.

É uma métrica certa que pode ser útil se você estiver tentando obter uma ótima noite de sono — mas as informações mais úteis sobre o sono agora precisam de uma assinatura Fitbit Premium. A empresa está oferecendo um teste gratuito de 90 dias para seu serviço pago, agora que mais pessoas estão procurando maneiras de manter a forma com as academias fechadas devido ao COVID-19. É um bom momento e também uma estratégia de marketing muito boa.

Este é um argumento tentador: por US$ 150 a US$ 170, você recebe atualizações regulares de software, um longo período de teste gratuito de um serviço premium e uma ferramenta útil para ajudá-lo a permanecer ativo enquanto está trancado em casa. Admito que, quando a Charge 4 chegou, eu estava animada porque pensei que seria a semana em que eu atingiria meus objetivos fitness em casa. Uma semana se passou e eu tive que moderar as minhas expectativas prévias.


A Fitbit Charge 4 tem o mesmo botão lateral da Charge 3 — perdão, pelos pelos de gato. Crédito: Victoria Song/Gizmodo

Questões com os apps e o GPS da Charge 4

Em minha empolgação com o GPS, mapas de calor e Minutos de Zona Ativa, me esqueci que sempre tive problemas com as telas de dispositivos Charge. A navegação entre notificações e aplicativos nem sempre é tão simples quanto eu gostaria.

Os toques no display são confiáveis, mas às vezes há um pequeno atraso. A tela da Charge 4 também pode ser um pouco difícil de ler sob luz solar direta. Entendo o apelo do aparelho que rastreia sua atividades físicas e fornece notificações básicas, mas uma coisa que prefiro na Versa e em outros smartwatches completos é a tela mais brilhante, que facilita bastante a leitura.

Outra questão: mudar de menu no meio do exercício é impossível. Um amigo meu observou que não conseguia controlar o Spotify pelo pulso enquanto treinava. Também tentei alternar entre aplicativos durante um exercício e posso confirmar que você não pode fazê-lo sem encerrar sua atividade.

Não é grande coisa se você não usa o Spotify, pois usá-lo na Charge 4 exige uma conta Premium. Mas se você é um usuário do serviço de streaming, isso é meio idiota. Não é o ponto principal de tornar mais fácil de pular faixas no meio da atividade?

A falta de listas de reprodução offline do Spotify significa que, a menos que você gosta de se exercitar com o som de seus pensamentos, não dá para sair sem o celular e só com a pulseira para praticar suas atividades.


Da esquerda para a direita: Fitbit Charge 4 na corrida de 4,8 km, seguidos dos mapas da mesma corrida no app MapMyRun e Apple Watch Series 5. A captura de tela da direita é referente à minha caminhada em que não houve uma mudança drástica de trajeto. Crédito: Victoria Song/Gizmodo

Testei a Charge 4 em duas corridas e uma longa caminhada com GPS. Embora cada um dos resultados da distância geral estivesse em pé de igualdade com o Apple Watch Series 5 e o aplicativo MapMyRun, os mapas em si foram bem diferentes.

Em uma corrida de 4,87 km, a pulseira registrou uma precisão de 4,7 km. Esta foi exatamente a mesma distância registrada no Series 5. Exceto quando fui olhar meus mapas, a pulseira Fitbit me fez correr no meio do rio Hudson, em Nova York.

Eu verifiquei o MapMyRun e o Apple Watch Series 5, e os mapas gerados apontavam que eu corri alguns trechos no meio do rio, mas não muito. Tive resultados quase idênticos na minha segunda corrida de 5 km.

O mesmo aconteceu em uma caminhada mais longa de 6,4 km. Embora boa parte do meu mapa do GPS na Charge fosse precisa, havia um pedaço em que dizia que eu não havia feito um desvio de vários quarteirões em direção à estação The Oculus, no centro de Manhattan. A realidade é que eu andei em linha reta ao longo do trajeto.


Em locais fechados, a tela da Charge 4 é super visível. Crédito: Victoria Song/Gizmodo

Além disso, também notei que a Charge 4 leva alguns segundos para encontrar uma conexão GPS. Não foi um problema depois que percebi essa peculiaridade, mas na minha primeira corrida, isso levou a alguns resultados distorcidos.

A pulseira registrou uma divisão muito mais lenta no meu primeiro km (11 minutos e 7 segundos) em comparação com 10 minutos e 36 segundos com o Apple Watch Series 5, e com tempo registrado no meu telefone, de 10 minutos e 12 segundos. A discrepância se igualou nos quilômetros restantes, mas me fez questionar a confiabilidade do meu mapa de calor.

É perfeitamente possível que morar na cidade de Nova York seja o problema. É notoriamente difícil obter um GPS confiável em Manhattan, principalmente em áreas com prédios altos à beira de rios — que, por acaso, é onde eu moro. É muito possível que isso não seja tão problemático para as pessoas que vivem em áreas rurais e suburbanas ou em qualquer outro lugar fora de Manhattan.

Dito isto, embora eu tenha passado pelo mesmo problema com vários outros dispositivos portáteis de GPS, muitos outros smartwatches e pulseiras não têm este problema. Se você me perguntar qual o melhor GPS embutido, minha resposta é o Suunto 7, da Garmin, e até o Apple Watch Series 5.

Os problemas da Charge 4 não são muito importantes se tudo o que você deseja é um dispositivo simples com uma boa plataforma para ajudá-lo a obter a quantidade recomendada de atividade por semana. Você pode querer considerar outra coisa se gosta de ter detalhes sobre tempo por quilômetro, melhorar o ritmo e revisar mapas com seu trajeto.


A pulseira Fitbit Charge 4 é ótima se você precisa monitorar seus exercícios, só tem um problema chamado coronavírus. Crédito: Victoria Song/Gizmodo

Esta pulseira em específico ajudará você a permanecer ativo durante a pandemia? Provavelmente, mas qualquer rastreador faria. O lembrete para se movimentar a cada hora é útil, mas também não é algo exclusivo da Fitbit.

Se você está tentando dormir melhor apesar de tudo que está acontecendo, sim, a Fitbit pode ajudar, mas é principalmente o rastreamento passivo com algumas dicas de bom senso sobre melhores horas de dormir.

Você terá mais suporte com o plano Premium, mas depende se você está disposto a pagar por esse serviço quando o período de teste terminar. E, como mencionei anteriormente, os novos recursos de GPS, minutos de zona ativa e pagamento por NFC são bons — adições que seriam mais interessantes se não fosse a situação atual.

Queria ficar mais animada com o que considero boas atualizações. Mas, sinceramente, não posso deixar de sentir que, se eu pudesse sair mais e viver minha vida como de costume, termia me divertido mais com essa pulseira.

Isso não culpa da Fitbit. É apenas um grande azar. Por US$ 150, você está obtendo uma boa variedade de recursos — parece que, na série Charge, a filosofia da Fitbit é não mexer em uma fórmula vencedora. A pulseira Charge 4 faz quase tudo certo, mas não é a novidade que o Versa original era.

Isso, mais a tristeza que domina as manchetes, dificulta a divulgação da Charge 4, ainda que seja um ótimo dispositivo.

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