Fonoaudiólogos ativam remotamente implante e fazem garota voltar a ouvir no Reino Unido

As medidas de isolamento social no Reino Unido dificultaram a ida de uma menina de 18 meses de idade para ligar seu implante coclear recém-instalado. Destemidos, seus fonoaudiólogos fizeram o que muitos de nós estamos fazendo: ativaram o implante enquanto trabalhavam de casa.
Margarida Cibrao-Roque com sua mãe Joana Cibrao e pai Paulo Roque
Imagem: Universidade de Southampton

As medidas de isolamento social no Reino Unido dificultaram a ida de uma menina de 18 meses de idade para ligar seu implante coclear recém-instalado. Destemidos, seus fonoaudiólogos fizeram o que muitos de nós estamos fazendo: ativaram o implante enquanto trabalhavam de casa.

O implante coclear de Margarida Cibrao-Roque está funcionando e permitindo que a criança ouça sons pela primeira vez, graças a uma equipe de fonoaudiologia da Universidade de Southampton.

É a primeira ligação remota de um implante coclear no Reino Unido, de acordo com um comunicado de imprensa. Esse é só mais um exemplo de pessoas encontrando formas inovadoras de trabalhar durante a pandemia de COVID-19, enquanto tentamos achatar a curva.

Os implantes cocleares não são como os aparelhos auditivos convencionais, que simplesmente aumentam a amplitude dos sons recebidos. Essas neuropróteses são equipadas com um microfone para captação de sons, bem como um conversor para tradução de ondas sonoras em sinais elétricos, que são então retransmitidos para o nervo auditivo. A partir daí, esses sinais vão para o cérebro, permitindo a experiência da audição.

Durante a cirurgia, esses dispositivos são colocados no ouvido interno do paciente, mas os implantes não são ligados por cerca de três a quatro semanas após o procedimento, explicou a professora Helen Cullington da Universidade de Southampton em um e-mail para o Gizmodo. A demora é para garantir que o paciente se recupere completamente da operação e dar tempo para que qualquer inchaço diminua.

A professora Helen Cullington na ligação com Margarida Cibrao-Roque para a sessão de ativação remota

A professora Helen Cullington na ligação com Margarida Cibrao-Roque para a sessão de ativação remota. Imagem: Universidade de Southampton

Margarida tem uma doença genética chamada Síndrome de Ushers Tipo I, que resulta em surdez profunda no nascimento devido a anormalidades no ouvido interno. A condição também leva à perda da visão com o tempo.

Normalmente, a ativação do implante ocorre em uma clínica, mas medidas de distanciamento social descartaram essa possibilidade para Margarida, devido às preocupações com a saúde. Inspirada por fonoaudiólogos australianos, Cullington e seus colegas ficaram animados com a ideia de ligar o implante à distância.

“Na Austrália, os pacientes podem viver a centenas e centenas de quilômetros de seu centro de implantes cocleares, então alguns centros de lá estão usando essa abordagem remota para evitar que os pacientes tenham que percorrer distâncias tão longas”, disse Cullington, que trabalha no Instituto de Pesquisa de Som e Vibração da universidade.

Para ser claro, não é só acionar um interruptor – é preciso muito mais para ativar um implante coclear. Os níveis de estimulação elétrica têm que ser aumentados muito lentamente e gradualmente ao longo do tempo. Além disso, os pacientes precisam ser acompanhados de perto pelos profissionais enquanto isso acontece.

Os médicos também precisam medir a resposta do nervo auditivo para calibrar os níveis – um desafio quando o paciente é uma criança que ainda não fala e que não pode elucidar as nuances de volume.

Em colaboração com especialistas da Austrália, Cullington elaborou um plano para ligar o implante coclear de Margarida a partir de seu escritório em casa. Dois computadores foram conectados pela internet, com um link de vídeo que permitia a Cullington se comunicar com os pais da criança. Software e hardware especializados também foram utilizados durante a sessão de ativação.

“Eu me senti razoavelmente confiante de que funcionaria”, disse Cullington ao Gizmodo. “O Wi-Fi em ambas as pontas era tudo que precisávamos – e eu já tinha conversado com a família e me sentia confiante de que tudo ia dar certo.”

A sessão acabou sendo um sucesso, com o implante coclear de Margarida funcionando como esperado. Para crianças que nunca ouviram sons antes, porém, essa dificilmente é uma revelação instantânea, pois elas não têm um quadro de referência para dar sentido a novos estímulos.

“Aprender a ouvir é como aprender qualquer outra coisa – leva tempo”, disse Cullington. “Especialmente em uma criança pequena que nunca ouviu antes. Margarida está apenas começando a responder a alguns sons agora, o que é muito emocionante para a família.”

De fato, a mãe de Margarida está emocionada.

“A possibilidade de Margarida me chamar de mamãe um dia significaria o mundo para mim”, disse ela em um vídeo da Universidade de Southampton. “Poderemos falar com a nossa filha, brincar com ela – ela poderá assistir à TV, coisas que as pessoas não valorizam tanto mas que ela não tinha, é realmente uma vitória.”

Cullington e sua equipe continuarão a monitorar Margarida remotamente. Eles também estão planejando realizar procedimentos similares nas próximas semanas.

“Essa ativação remota funcionou muito bem, e nos deu confiança de que é uma opção para os pacientes que não podem vir ao centro, por qualquer motivo”, disse ela. “Nós adaptamos nossos cuidados para atender pacientes individuais e famílias, por isso é ótimo adicionar as ativações remota às opções de cuidados que podemos oferecer”.

O COVID-19 tem perturbado as nossas vidas, mas como este comovente episódio mostra, estamos encontrando maneiras de nos adaptarmos.

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