Cientistas encontram fosfina em Vênus, o que pode ser um sinal de vida microbiana

Cientistas anunciaram que o gás fosfina foi detectado em Vênus. Substância é considerada um possível indicador de processos biológicos
Representação artística da fosfina na atmosfera de Vênus. Imagem: ESO / M. Kornmesser / L. Calçada & NASA / JPL / Caltech

Cientistas anunciaram nesta segunda-feira (14) que o gás fosfina foi detectado na atmosfera de Vênus. A substância é considerada um possível indicador de processos biológicos — o que pode significar que há vida no planeta.

Esta hipótese, no entanto, é bastante controversa. Mesmo os cientistas por trás do estudo, liderados pela astrônoma Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, não dizem que a presença da fosfina é um sinal de existência de vida. Em vez disso, eles dizem que é um material de fonte desconhecida — pode ser tanto o resultado de um processo químico desconhecido quanto da ação de micróbios.

A descoberta foi anunciada nesta segunda-feira (14) às 12h pela Royal Astronomical Society. Ela também foi publicada em um artigo da revista Nature e enviada para o periódico Astrobiology.

A fosfina foi detectada pela equipe de pesquisadores em 2017, usando o telescópio James Clerk Maxwell, que fica no Havaí (EUA), e em 2019, com o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), que fica no deserto do Chile.

A substância foi encontrada na atmosfera superior do planeta, que é cheia de nuvens permanentes, em uma proporção de 20 partes por bilhão — nas palavras de David Clemens, astrofísico do Imperial College of London, ao Verge, isso equivale a algumas colheres em uma piscina olímpica. Ela está mais concentrada nas latitudes médias do planeta e não foi detectada nos polos.

Diagrama mostra temperatura e pressão nas diferentes altitudes da atmosfera de Vênus. Os micróbios poderiam existir na zona atmosférica temperada. Imagem: Jane S. Greaves et al., 2020

Em Júpiter e em Saturno, a fosfina — também chamada de hidreto de fósforo e conhecida pela fórmula PH3 — foi detectada pela sonda Cassini. Nesses planetas, porém, a grande quantidade de calor e de pressão é suficiente para processar o fósforo e hidrogênio e formar essa substância.

Por outro lado, até onde se sabe, a fosfina só se forma em planetas rochosos por preparação humana ou por ação de micróbios. Vários cenários que não envolvem a presença da vida — como vulcões, micrometeoritos, raios e processos químicos nas nuvens — foram considerados, mas nenhum deles se encaixa perfeitamente nas condições encontradas em Vênus.

A questão é que a formação da fosfina é um processo bastante desconhecido mesmo na Terra. Por aqui, o gás é encontrado em pântanos, mas não se sabe exatamente qual o micro-organismo responsável por sua produção.

Vênus tem sido um planeta largamente ignorado na busca por vida, com um grande número de missões dando preferência para Marte ou para as luas de Júpiter, como Encélado e Europa. O planeta, de fato, não parece ser realmente muito convidativo para formas de vida, com temperaturas de mais de 400°C na superfície, pressão atmosférica 90 vezes maior que a da terra, nuvens tóxicas e uma atmosfera composta em grande parte por dióxido de carbono.

Mesmo assim, a hipótese de vida em Vênus não é inédita. Nos anos 1960, ninguém menos que Carl Sagan propôs essa ideia junto com o cientista planetário Harold Morowitz. Embora a superfície de Vênus seja bastante hostil, a 50 quilômetros de altitude, a pressão atmosférica é comparável à da Terra e as temperaturas são bem mais agradáveis, ficando em cerca de 30°C.

Um cenário possível para a vida em Vênus considera sua formação no início do planeta, antes do efeito estufa evaporar toda a água da superfície do planeta para a atmosfera. É possível que micróbios anaeróbios (que não dependem de oxigênio para viver) tenham sobrevivido a essa transição e hoje vivam nas nuvens permanentes do planeta.

No entanto, apesar da atmosfera superior do planeta ser menos hostil, ela ainda é bastante complicada para a sobrevivência. Cerca de 80% dela é composta por ácido sulfúrico, que poderia aniquilar qualquer forma de vida — e mesmo a fosfina seria destruída por essa substância.

Por enquanto, o que se tem é isso: uma descoberta que precisa ser validada por mais estudos e observações. Provavelmente ela vai aumentar o interesse pela exploração do planeta, que é considerada um desafio, já que o planeta pode corroer metais e derreter sondas. Mesmo assim, há várias propostas para tentar estudar o planeta mais de perto — e tentar entender como a fosfina se forma em Vênus.

[The New York Times, National Geographic, The Verge, Gizmodo]

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