Descoberta de fósseis reforça a teoria de que os tiranossauros caçavam em grupo

A possibilidade de os tiranossauros caçarem em grupo já vêm sendo considerada pelos paleontólogos há mais de 20 anos.
Impressão artística dos tiranossauros logo após serem mortos em uma enchente e arrastados para um lago próximo. Um jacaré Deinosuchus é mostrado no fundo. Crédito: Victor Leshyk

Um notável sítio arqueológico em Utah, nos Estados Unidos, no qual vários tiranossauros foram encontrados enterrados juntos, reforça a teoria crescente de que essas criaturas temíveis caçavam em grupo, de modo semelhante aos lobos.

A possibilidade de os tiranossauros serem caçadores sociais já vêm sendo considerada pelos paleontólogos há mais de 20 anos. Em 1910, pesquisadores que trabalhavam em Alberta, no Canadá, encontraram os restos de 12 tiranossauros que parecem ter morrido juntos. Praticamente todo mundo esqueceu essa história até que o paleontólogo canadense Philip Currie, agora na Universidade de Alberta, revisitou a antiga descoberta em 1998, argumentando que era uma evidência de “comportamento gregário” em tiranossauros e que esses animais caçavam em grupo.

Sete anos depois, Currie, junto com vários colegas, relatou uma descoberta semelhante feita em Montana (EUA), na qual os restos mortais de três tiranossauros pertencentes ao gênero Daspletosaurus também foram encontrados juntos. E em 2014, paleontólogos descreveram pegadas fossilizadas encontradas na Colúmbia Britânica, no Canadá, que pareciam mostrar três tiranossauros movendo-se na mesma direção ao mesmo tempo.

Apesar dessa evidência, os cientistas relutam em atribuir comportamento gregário aos tiranossauros, alegando que as capacidades cognitivas limitadas dos dinossauros não poderiam permitir isso. Os críticos dessa teoria agora terão que considerar um terceiro local de morte em massa, conforme descrito em um novo artigo publicado na PeerJ.

Uma mandíbula superior de Teratophoneus, encontrada na “Rainbows and Unicorns Quarry” em Utah. Imagem: Bureau of Land Management

O sítio arqueológico fica dentro do Monumento Nacional Grand Staircase-Escalante, e reúne os restos mortais de quatro, possivelmente cinco, tiranossauros, que parecem ter morrido ao mesmo tempo. Os fósseis estavam enterrados no local de um antigo rio. Os autores do novo artigo dizem que suas mortes foram provavelmente o resultado de enchentes sazonais.

“O novo local de Utah contribui para o crescente corpo de evidências que mostra que os tiranossauros eram grandes predadores complexos, capazes de comportamentos sociais que são comuns em muitos de seus parentes vivos, os pássaros”, Joe Sertich, coautor do artigo e curador de dinossauros no Denver Museum of Nature & Science, explicou em um comunicado à imprensa. “Essa descoberta deve ser o ponto de inflexão para reconsiderar como esses carnívoros se comportaram e caçaram no hemisfério norte durante o Cretáceo.”

Currie, que não estava envolvido no novo estudo, disse que a descoberta “aumenta o número crescente de evidências de que os tiranossaurídeos são capazes de interagir como grupos gregários”, conforme declaração dele no comunicado à imprensa do Bureau of Land Management de Utah.

Membros da equipe mapeando ossos no local. Imagem: Bureau of Land Management

Os ossos desses dinossauros foram encontrados enterrados no final da da Idade Campaniana, na Formação Kaiparowits do sul de Utah, que atende pelo maravilhoso apelido de “Rainbows and Unicorns Quarry” (“Pedreira Arco-Íris e Unicórnios”, em tradução livre). O coautor do estudo, Alan Titus, do Bureau of Land Management, descobriu o local em 2014, e ele representa o primeiro local de morte em massa de tiranossauros a ser encontrado no sul dos Estados Unidos.

Titus e seus colegas descobriram os restos mortais de vários Teratophoneus, um gênero de tiranossauro que viveu no Cretáceo aproximadamente 77 milhões a 76 milhões de anos atrás. Este gênero é conhecido por uma única espécie, Teratophoneus curriei, cujos maiores membros mediam algo entre 6,4 e 7,9 metros de comprimento. Os tiranossauros, ou tiranossaurídeos, descrevem uma família de dinossauros carnívoros enormes que se erguiam sobre duas pernas, sendo os exemplos mais famosos o Tiranossauro rex, o Albertossauro, o Daspletossauro e o Tarbossauro.

Além dos fósseis de Teratophoneus, Titus e os seus colegas descobriram vários tartarugas, peixes e espécies de raias, um esqueleto quase completo de um jacaré Deinosuchus de 3,7 metros de comprimento, e outras duas espécies de dinossauros (acredita-se que nenhum destes animais morreu no evento que matou os espécimes de Teratophoneus). Além desses ossos, os cientistas coletaram fragmentos de pequenas rochas e depósitos de bancos de areia do antigo rio do período Cretáceo.

“Percebemos imediatamente que este local poderia ser usado para testar a ideia do tiranossauro social. Infelizmente, a história antiga do local é complicada”, disse Titus. “Os ossos parecem ter sido exumados e reenterrados pela ação de um rio. Por isso, o contexto original em que estavam foi destruído. No entanto, nem tudo foi perdido.”

Na verdade, as evidências químicas e físicas recuperadas do local permitiram que a equipe atribuísse um sentido a essa cena antiga, apesar das interrupções geológicas mencionadas. A análise de isótopos estáveis ​​de carbono e oxigênio, junto com concentrações de elementos de terras raras, rendeu “uma assinatura relativamente homogênea”, como escreveram os paleontólogos em seu artigo. Isso sugere fortemente que os fósseis foram todos derivados da mesma população de origem e que os animais morreram e se fossilizaram juntos. Também sugere que nenhum outro animal foi introduzido no local de enterro em uma data posterior.

Os cientistas suspeitam que uma enchente sazonal matou os tiranossauros, levando seus corpos para um lago próximo, onde eventualmente foram enterrados. A equipe considerou várias outras possibilidades para explicar as mortes em massa, incluindo envenenamento (por exemplo, água potável contaminada com cianobactérias), seca, incêndio e até mesmo afogamento em areia movediça. Desses cenários, o dilúvio é considerado a explicação mais plausível, segundo os cientistas.

A descoberta na Rainbows and Unicorns é obviamente importante, pois é uma evidência potencial não apenas da caça cooperativa entre os tiranossauros mas também para a sociabilidade em geral, o que poderia se aplicar a outras características, como cuidado parental estendido. Dito isso, nem todo mundo está convencido pelas novas evidências.
“É um pouco mais difícil ter tanta certeza de que esses dados significam que esses tiranossauros viveram juntos no passado”, disse Kristi Curry Rogers, professora de biologia do Macalester College, à Associated Press. “É possível que esses animais tenham vivido na mesma vizinhança uns dos outros sem viajar juntos em um grupo social, e apenas se reuniram em torno de recursos cada vez menores à medida que os tempos ficavam mais difíceis.”

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Justo. Só porque esses corpos de dinossauros foram enterrados juntos não significa automaticamente que eles realmente caçavam em grupo. Como sugere Rogers, os dinossauros Teratophoneus podem ter se reunido para se alimentar de uma presa, o que pode ou não ter sido o comportamento típico desses terópodes. Os abutres, por exemplo, se alimentam de uma refeição comunitária, mas esses pássaros dificilmente poderiam ser descritos como animais que caçam em grupo.

Consequentemente, outras evidências serão necessárias para sustentar essa hipótese, especificamente evidências que mostrem que esses animais andavam em grupo por vontade própria e de maneira cooperativa. Isso não será algo fácil de provar, mas, bem, ninguém disse que a paleontologia seria fácil.

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