Este fóssil mostra um lagarto gigante na barriga de um monstro marinho ainda maior

Como o mestre Jedi Qui-Gon Jinn disse uma vez em Star Wars: “Há sempre um peixe maior”. Ou, no caso do Período Triássico, que data de 252 a 201 milhões de anos atrás, sempre há um réptil aquático maior, como é o caso de um fóssil recém-descoberto que mostra um predador gigante dentro de um […]
Fóssil de milhões de anos mostra lagarto enorme na barriga de um monstro maior ainda. Ilustração: Jim Cooke/Gizmodo
É assim que deve ter sido a janta do monstro. Ilustração: Jim Cooke/Gizmodo

Como o mestre Jedi Qui-Gon Jinn disse uma vez em Star Wars: “Há sempre um peixe maior”. Ou, no caso do Período Triássico, que data de 252 a 201 milhões de anos atrás, sempre há um réptil aquático maior, como é o caso de um fóssil recém-descoberto que mostra um predador gigante dentro de um animal maior ainda.

Esta é a contestação de uma nova pesquisa publicada na iScience, que oferece a evidência direta mais antiga de “megapredação” no registro fóssil, em que um enorme predador se alimenta de presas tão grandes quanto ele.

O fóssil, encontrado em uma pedreira na província de Guizhou, no sudoeste da China, parece mostrar um ictiossauro de cinco metros de comprimento logo após ingerir um talattossauro pouco menor que si mesmo, de quatro metros. É provável que o ictiossauro tenha morrido logo após banquete – como diz aquele ditado que é bom nunca ter os olhos maiores que a barriga.

Os ictiossauros eram répteis aquáticos parecidos com os golfinhos que surgiram durante o Triássico. Este espécime em particular pertencia a uma espécie de ictiossauro conhecido como Guizhouichthyosaurus tangae, que crescia até dez metros. Enquanto isso, sua presa, uma espécie de talattossauro chamada Xinpusaurus xingyiensis, era mais parecida com um lagarto, com quatro membros usados para nadar. O novo fóssil é a primeira evidência direta a sugerir que pelo menos algumas espécies de ictiossauros eram predadores semelhantes às baleias orcas.

Fóssil mostra lagarto sendo engolido por criatura gigante. Imagem: Da-Yong Jiang/iScience

Esta ilustração mostra o tamanho aproximado das duas espécies. O ictiossauro media cerca de 5 metros de comprimento, enquanto que sua presa tinha quase 4 metros. Imagem: Da-Yong Jiang/iScience

O fóssil quase completo, datado de 240 milhões de anos, sugere que o ictiossauro engoliu um animal não muito menor do que ele, mas que a conclusão foi fatal para o predador. Antes dessa descoberta, os cientistas “nunca encontraram restos de um grande réptil no estômago de predadores gigantescos da era dos dinossauros, como répteis marinhos e dinossauros”, explicou Ryosuke Motani, coautor do estudo e paleontólogo da Universidade da Califórnia, em um comunicado de imprensa. Antes dessa descoberta, os cientistas pensavam que os ictiossauros se alimentavam exclusivamente de peixes e cefalópodes (lulas, polvos, entre outras espécies).

“Encontrar qualquer animal que não seja peixe ou lula dentro do estômago de um ictiossauro é incrivelmente raro – na verdade, já é bastante difícil encontrar esses animais no interior da espécie em questão”, disse Dean Lomax, paleontólogo da Universidade de Manchester, que não está envolvido nesta descoberta. ”Apenas um punhado de outros tipos de animais foram identificados no estômago de um ictiossauro, então a descoberta de um jantar de talattossauro é altamente incomum”.

Lomax sabe uma ou duas coisas sobre fósseis incrustados dentro de fósseis. Em 2018, ele foi co-autor de um artigo de pesquisa que descreve um fóssil de ictiossauro grávido com vários filhotes que ainda iriam nascer, localizados dentro de suas costelas.

“Uma das coisas mais significativas sobre espécimes como este é que eles fornecem informações únicas e diretas sobre o comportamento de espécies extintas há milhões de anos. É fácil presumir que X se alimentou de Y, mas quando você tem evidências como essa, não há mais suposições”, completou Lomax.

O fóssil mostra que o estômago do ictiossauro estava distendido. Imagem: Ryosuke Motani

O fóssil mostra que o estômago do ictiossauro estava distendido. Imagem: Ryosuke Motani

Contudo, os autores admitem que não está claro se o novo fóssil é um exemplo de predação ou eliminação. Dadas as evidências, não parece que o ictiossauro se alimentou do animal já morto, pois partes do corpo em decomposição tendem a cair durante a alimentação. Neste espécime, é exatamente o oposto: os membros do talattossauro ainda estão presos ao seu corpo – só falta a cauda. Surpreendentemente, os paleontólogos encontraram a cauda desmembrada fossilizada a poucos metros de distância, que poderia ter sido perdida durante seu encontro fatídico com o ictiossauro. Independentemente disso, as novas evidências sugerem que essa espécie de ictiossauro, seja caçador ou necrófago, consumia grandes refeições, algo que não era conhecido até então.

O fato da cauda ter sido encontrada nas proximidades parecia bom demais para ser verdade, então perguntamos a Lomax o que ele achava. “Seu argumento sobre a cauda também despertou minha curiosidade, porque os autores observam que o ‘predador provavelmente morreu logo após ingerir a presa’. Eles acreditam que isso aconteceu porque a cauda isolada de um talattossauro era do mesmo indivíduo consumido pelo ictiossauro. Se isso estiver correto, então pode sugerir que o predador mordeu mais do que pode mastigar, pois foi uma refeição muito maior do que o previsto”, disse.

É difícil saber exatamente por que o ictiossauro morreu, mas assumindo que essa interpretação esteja correta – que a cauda isolada pertence ao mesmo talattossauro -, então a morte do ictiossauro pode estar ligada à sua refeição bastante pesada.

Outra possibilidade é que as duas criaturas marinhas morreram uma sobre a outra e os fósseis estão meramente justapostos. E, de fato, o fóssil do talattossauro não dá sinais de ter sido degradado pelo ácido estomacal, mas, para ser justo, essa observação também faz sentido ao se considerar a primeira hipótese: que o ictiossauro morreu logo após engolir o talattossauro, interrompendo todos os sinais vitais do organismo.

Estes eram os dentes do ictiossauro. Imagem: Da-Yong Jiang/iScience

Estes eram os dentes do ictiossauro. Imagem: Da-Yong Jiang/iScience

A descoberta está lançando uma nova luz sobre os hábitos alimentares dos ictiossauros, que supostamente se alimentavam inteiramente de cefalópodes devido aos seus dentes pequenos e parecidos com pinos. As novas evidências sugerem o contrário – que esses dentes eram usados ​​para agarrar presas, estilhaçar espinhos e rasgar a carne.

“Agora, podemos considerar seriamente que eles comiam animais de grande porte, mesmo quando tinham os dentes presos. Está bastante claro que este animal poderia processar um alimento muito maior usando dentes cegos”, explicou Motani em comunicado à Cell Press.

Predadores modernos, como orcas e focas-leopardo, aplicam táticas predatórias semelhantes, em um possível exemplo de evolução convergente. E, de fato, o próprio ictiossauro é o garoto-propaganda dessa evolução, onde espécies não relacionadas evoluem com características físicas parecidas. Normalmente, os ictiossauros são comparados aos golfinhos, mas como mostra esta nova pesquisa, a espécie ficou mais próxima das baleias assassinas.

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