Funcionários do Google protestam por tratamento justo aos trabalhadores terceirizados e temporários

Depois dos protestos gerais no ano passado por má conduta sexual na empresa, trabalhadores terceirizados e temporários pedem melhor tratamento
Getty Images

Nesta terça-feira (2), mais de 900 funcionários do Google assinaram uma carta pedindo que a empresa respeite sua força de trabalho terceirizada. À medida que trabalhadores de tecnologia seguem denunciando práticas trabalhistas injustas na indústria, eles estão formando uma coalização com funcionários terceirizados e temporários para reconhecer uma massa que corresponde a cerca de metade da força de trabalho do Google. A carta vem em um momento em que os terceirizados estão sendo demitidos e tratados como praticamente inexistentes.

“Somos a Equipe de Personalidade”, diz um rascunho da carta enviada ao Gizmodo. “Somos responsáveis pela voz do Google — o Assistente do Google — em todo o mundo. Somos o trabalho humano que torna o Assistente relevante, engraçado e identificável em mais de 50 idiomas.”

Em 8 de março, cerca de 80% da Equipe de Personalidade, de 43 pessoas, foram informados de que seus contratos expirariam dentro do próximo mês, e em julho para alguns, de acordo com a carta. Essa equipe era formada por funcionários temporários, fornecedores ou terceirizados (conhecidos como TVCs). Eles escreveram na carta que, em contradição com a garantia de seu gerente sênior de que não precisam se preocupar com seus contratos, demissões começaram a acontecer nos escritórios do Google em todo o mundo.

A carta prossegue então descrevendo a energia interna sombria quando os terceirizados foram notificados — em chamadas em grupo, em vez de telefonemas individuais para alguns, de acordo com o texto — de que os seus contratos foram inesperadamente anulados. “Durante o processo, nossos gerentes e os trabalhadores em tempo integral de nossa equipe permaneceram em silêncio”, afirma a carta. “O Google lhes disse que oferecer apoio ou mesmo nos agradecer por anos de trabalho tornaria a empresa legalmente responsável. Foi dito aos nossos colegas que se distanciassem de nós no momento em que estávamos em maior necessidade — apenas para que o Google pudesse evitar a responsabilidade legal.”

Considerando relatos anteriores sobre como o Google trata sua força de trabalho terceirizada e temporária, isso não é surpreendente. Os documentos internos de treinamento da empresa obtidos pelo Guardian no ano passado, intitulados “The ABCs of TVCs” (“O ABC dos TVCs”, em tradução livre) serviam como um guia de como os funcionários fixos deviam se separar da força de trabalho temporária. “Trabalhar com TVCs e Googlers é diferente”, supostamente dizem os documentos. “Nossas políticas existem porque os arranjos de trabalho dos TVCs podem acarretar riscos significativos.” O documento de treinamento então aconselha os funcionários do Google a deixar os TVCs fora de certas reuniões de equipe e evitar dar presentes, como uma camiseta do Google.

Depois da enorme paralisação do Google no ano passado, em que os trabalhadores exigiram um processo melhorado de denúncia de assédio e discriminação, os trabalhadores terceirizados e temporários descreveram um processo que, para eles especificamente, ainda era confuso.

O CEO do Google, Sundar Pichai, enviou um e-mail aos funcionários do Google após a paralisação para informá-los sobre as demandas que a empresa iria atender, mas um terceirizado disse ao Gizmodo naquela época que os TVCs foram excluídos dessa comunicação e não foram autorizados a estar na sala durante a reunião geral. “Eu tive que ler sobre isso na imprensa, em vez de (ouvir) diretamente do CEO da empresa em que trabalhei no ano passado”, disse um terceirizado ao Gizmodo.

Diante desse tratamento de segunda classe, as exigências descritas na carta desta terça-feira podem ser resumidas em melhorias relacionadas à decência humana. Os TVCs pedem que o Google “respeite nossos contratos”, pagando pela duração restante dos contratos reduzidos, “respeite nossa humanidade”, permitindo que funcionários fixos empatizem com e expressem gratidão a eles, e “respeite nosso trabalho”, convertendo-os em funcionários fixos.

Ao longo do processo de ações coletivas dos trabalhadores do Google nos últimos meses, os terceirizados continuaram participando da luta por melhores condições de trabalho, não como uma nota de rodapé, e nem como descartáveis, como o Google parece tratá-los.

“A luta não é de trabalhadores terceirizados contra trabalhadores de tempo integral, a luta é de trabalhadores contra a empresa”, disse ao Guardian Rachel Miller, terceirizada da Equipe de Personalidade, cujo contrato estava programado para expirar no dia 26 de março antes das demissões. “Somos todos tratados injustamente se um de nós sair.”

Entramos em contato com o Google para saber se a companhia irá atender às demandas listadas na carta desta terça-feira e atualizaremos a publicação se tivermos uma resposta.

[The Guardian]

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